Sunday, April 27, 2008

[REC] de Jaume Balagueró




[REC] deve ser o filme com a sinopse mais básica da história do cinema. Pelo menos deve estar perto disso. Ora vejamos: repórter com voluptuosidade à bruta vai fazer uma reportagem a um quartel de bombeiros, para filmar a sua actividade durante a noite. Quando dois bombeiros são chamados a socorrer uma mulher que está a gritar, ela juntamente com o seu cameraman acompanham-nos.

E pronto é isto. Esta é a história base deste filme espanhol, que logrou vencer o Fantasporto deste ano, e que anda por aí em larga escala nos nossos cinemas. Vídeo meio amador, a la blair witch project (e cloverfield claro...mas o blair witch veio muito primeiro caraças), acção em tempo real, basicamente os mesmos moldes que estes filmes à laia de documento filmado. Aqui não temos inovação. Nem propriamente na história em si: obviamente que é naquele prédio que o filme tem todo o seu desenvolvimento, mas nem nenhum dos elementos lá encontrados é propriamente uma descoberta da roda, nem sequer o filme dá grande azo a reflexões existenciais sobre a vida, o valor da vida, ou qualquer coisa sobre a nossa contemporaneidade, aquele tipo de coisas que, se é para serem apenas e só emocionalidade de pacotilha, mais vale ficarem de lado.

[REC] acerta no que é preciso: assusta. dá para um gajo dar uns pulos na cadeira, dá para sentir alguma repulsa, dá para sentir terror. No fundo era isso que se pedia a este filme. Depois ele consegue ser consistente durante toda a sua duração, não tendo momentos mortos, e preparando bem o caminho no desenrolar da película. È um filme com uma estrutura relativamente simples, mas consegue ganhar muitos pontos na eficácia. O conceito claustrofóbico, que ajuda muito para uma atmosfera aterrorizante, está perfeito. Todas as personagens são credíveis, embora sejam, na sua maioria, meros peões num jogo que obviamente não controlam. O final, não sendo nada de transcendente, também se come.

Este filme espanhol é por isso, um bom manual para se fazer um bom filme de terror. Não é uma coisa gigantesca nem deixa ninguém boquiaberto, mas tem o que é preciso para cumprir aquilo a que se propôs. E tendo em conta que os filmes de terror que têm vindo dos states, são mais um bocado de póia para vender pipocas que outra coisa qualquer, é óptimo que existam alternativas credíveis e que consigam ainda fazer aquilo que um bom filme de terror deve ter como principal objectivo: assustar. Seja de que maneira for.

7/10

Sunday, April 13, 2008

Earth - The bee made honey in the lions skull(2008)



Os earth são uma gigantesca instituição, mesmo que sejam só conhecidos por meia dúzia de gatos pingados. Exemplos perfeitos de pincelar o silêncio com harmonias graves e obscuras, mais umas guitarras a distorcer...ambiente de "paz armada" portanto. São os mestres dos genialíssimos sunn 0))), mas são sobretudo únicos naquilo que sempre fizeram : o chamado "necro". Talvez mais suaves desta feita, mas sempre sombrios, criando uma escuridão enlameada por notas repetidas até à exaustão.

Este "the bee made honey..." é um disco rico em atmosferas densas, mas ao mesmo tempo perfeito na sua execução. Arrasta-nos, leva-nos calmamente ao patamar que quer. è daquele tipo de álbum que exige uma fidelidade constante, porque é ele quem delimita e compõe o percurso. Vale por si, pelas suas harmonias, pelo piano que tão bem soa em "miami morning coming down II - shine", e por conseguir envolver-nos. È um disco quente, sombrio mas quente. como explicar? há por aqui harmonias quase doces. Beleza intrínseca, mas beleza que advém de toda uma negritude que também nos repele.

E depois desta parvoíce toda, escrever sobre " the bee made honey in the lions skull" acaba por ser inútil. Obviamente que há riffs que quase que se repetem, obviamente que a atmosfera e o sentimento são quase sempre os mesmos ao longo destes sete temas. Mas porra, estamos a falar de necro. Aqui o importante é perceber a validade deste encanto obscuro. E compreender a tamanha genialidae em criar um mundo inóspito, mas que consiga ser pacífico ao mesmo tempo. Perceber que os earth continuam aqui a dar cartas, e perceber que o caminho deles continua a ser percorrido apenas e só por eles.

O resto que vá tudo comer papa. conseguir ser sombrio, suave, caloroso, frio, inóspito, belo, e tudo ao mesmo tempo está ao alcance de alguém? Os earth são a maior e melhor máquina de batidos do mundo. Boca aberta para quê, quando só pedem que o ouvido esteja atento? E a sério: falhar isto é falhar um dos melhores discos de 2008. E um bom batido de umas sete mil frutas também.

9/10