Friday, February 23, 2007

"Babel" de Alejandro gonzaléz iñarritu



"Ora portantos... putos com fácil acesso a armas confere. Ameaças a terroristas? confere. Miúdas surdas japunas e que andam sem cuecas?confere. casamento mexicano para dar aquele ar de tipicidade à coisa?confere. americanos todos cagados de medo em estarem num local estrangeiro?ora sim senhor confere. música toda giraça para dar um ar seco a isto? confere.realização meio trepidante? ora siga lá, confere. Povo a chorar para fazer com que as pessoas se emocionem a ver isto? Pois tá claro, confere."

E o que fica? Pois. Esta é uma das conversas possíveis de iñarritu com o argumentista de "babel". Isto se tirarmos a parte da banda-sonora e da realização pois claro(embora esta última enfim até se pode considerar enquanto marca estilística do realizador). No entanto este filme-mosaico, agora tão na moda como os antigos namorados da elsa raposo, poderá ter tido outro tipo de introdução. Qualquer coisa como "siga lá fazer um filmezito onde dê para ver BEM a tal cena do todos diferentes todos iguais e tal".

Meti o "bem" em caps, porque ele é precisamente o maior problema do filme: a sua suprema necessidade em que as pessoas consigam compreender na perfeição uma coisa que, supostamente, até já sabem: a questão de incomunicabilidade num mundo que se apelida de global. Ora quem vai ver "babel" já tem uma ideia de que realmente os states rulam o mundo e nós somos constantemente bombardeados por eles a todos os níveis. Agora, era mesmo preciso dar esse tom globalizante através de uns putos marroquinos que dão um tiro a uma gaja americana?

Não. E porquê? Demasiado óbvio. Demasiado banal, reles. Quase como se fosse uma desculpa para vermos a japonesa a mostrar a passarinha(termo ridículo, mas já devem ter percebido que eu não achei grande graça ao filme). Aliás que raio está ela ali a fazer? Ah pois é surda-muda...a metáfora linda e bela da bacana que não comunica com o mundo. Ou seja, o facto dela ser surda-muda prova que somos todos porque não nos conseguimos entender. Fixe. Era preciso usar mesmo uma surda-muda para dar azo a este facto? O inãrritu e povo adjacente não arranjavam uma maneira mais subtil de o fazer?

Ainda por cima, se atentarmos à cinematografia de iñarritu, toda ela se baseia em histórias humanas. Temos o problema das classes em "amores perros", da condição humana, da própria vida através de um cão. Temos as especificidades de cada personagem em "21 grams", as suas vontades em alcançar uma redenção que resulta em consequências diferentes para cada uma delas. e temos "babel" que faz precisamente o contrário: esquece as pessoas, e foca-se no mundo globalizado. A verdade é que nenhuma personagem está desenvolvida o suficiente para nos podermos realmente importar com ela. Ok, eu até tive pena dos putos marroquinos, os desgraçados que desencadearam o tal efeito-borboleta que teve consequências trágicas para um deles(acho eu), mas de resto foi a pobreza total.

Depois outro problema: mais que um filme-mosaico, "babel" é um filme-postal". Explico: filma o casamento mexicano de um modo relativamente forçado primeiro que nada. Lá estão os tipos mexicanos que tocam, lá está a cerimónia na rua, uma corrida às galinhas que evidentemente ia meter um bocado de nojo aos putos americanos. Em marrocos o mesmo: marrocos parece uma simples aldeia metida nuns montes, onde ninguém vai e não há acesso a nada. Mas isto não é precisamente o nosso perssuposto ocidental sobre os outros povos? Não teria sido mais interessante filmar por exemplo a cidade marroquina para onde foi depois a cate blanchett(não me lembro do nome dela no filme), e até colocar ali alguma personagem importante? Não é também isto um preconceito do própior iñarritu, quando o objecto do filme é precisamente tentar que nos vejamos uns aos outros como reais humanos que somos?

E o japonês? E a miúda surda-muda? È que para além da evidente metáfora da não-comunicação(iñarritu a querer fazer de nós parvos portanto), era preciso filmar tóquio em modo lost in translation?. O tal postal "para estrangeiro ver"? È que, repare-se na diferença: sofia coppola filma assim a cidade porque está a vê-la do ponto de vista de dois estrangeiros. Agora iñarritu tem por base uma miúda japonesa, que decerto está minimamente integrada na cidade. Pode não estar na sua sociedade, mas há de se mover com leveza com naturalidade. Ou seja, grandes planos "turísticos" eram escusados.

E o facto de ela ser ninfomaníaca é para quê? Para dar um ar dramático à personagem? "Ok sou japonesa, surda-muda, o meu drama é não ter sexo". Será que é possível que a única coisa que ela encara enquanto drama é o seu celibato obrigatório? Olha porra. Mais valia iñarritu ter pegado em termos noutro problema que ela tem,noutro trauma. Mas não. Assim era mais fácil. Caricaturar é sempre mais fácil que fazer uma personagem com verdadeiras motivações e problemas, simplesmente não se esperava que o mexicano fosse pelo caminho mais fácil.

Como já escrevi demais: "babel" está demasiado colado ao rótulo de "filme de óscar para americano ver". È bem provável que o ganhe, afinal é contemporâneo e fala do mundo em que vivemos de uma forma minimamente verdadeira(o único ponto positivo do filme). só que iñarritu podia ter feito muito melhor em mostrar a nossa ausência de comunicação, do que meter um puto a dar um tiro a uma estrangeira, uma surda muda que quer ter sexo a todo o custo(e agora argumentem lá que ela tem um complexo de inferioridade por ser assim...mais uma vez lá surge a caricatura), e uma mulher que leva dois putos para o méxico.

Assim, em vez de nos meter a pensar em questões realmente importantes sobre o nosso mundo, "babel" só me deixou uma questão na cabeça: como raio é que os marroquinos tinham os dentes tão brancos?

4/10

3 Comments:

Anonymous Anonymous said...

que filme mais depressivo dasse, boa review

1:04 PM  
Anonymous Anonymous said...

Este filme é tipo...m****
Eu escolhia Departed para melhor filme. Uma vez que deixaram de fora Labirinto do Fauno, Prestige, Little Children...
mais um daqueles mistérios...
Oscars cada vez mais valem menos.

3:09 PM  
Anonymous Anonymous said...

eu gostei mt do filme.

6:23 PM  

Post a Comment

<< Home