Friday, November 24, 2006

More than a thousand - Vol. II The Hollow(2006)



Se há coisa que eu detesto é quando alguém fala em na imparcialidade de uma crítica. "Ah, uma crítica deve ser imparcial, porque tralailai e porque etc e coiso". Tudo errado, e um bom pedaço de ignorância a ajudar à festa. O jornalismo deve ser imparcial certo. Mas desde quando é que uma crítica deve ser encarada como jornalismo? O jornalismo divulga, a crítica dá a opinião. E uma opinião nunca deverá ser imparcial, porque senão nem o era.
Quero com isto dizer que numa crítica só há uma coisa que funciona: gosto pessoal. Se alguém não gosta de um disco, simplesmente dá má nota. Se gosta dele, dá-lhe um valor simpático. Se não aquece nem arrefece, então simplesmente arrefinfa-se uma nota do meio e pronto. Só que por vezes as coisas não são assim tão simples, e vemos esta teia de valores virada do avesso.

Depois desta introdução manhosa, vamos aos factos: "Vol 2- The Hollow", é o primeiro disco dos more than a thousand. Isto depois dos dois mais que falados ep's.Tenho em mim que o segundo ep, "trailers are always more exciting than movies", é possivelmente uma obra canónica, dentro da música nacional. Esta frase pode parecer excessiva, mas acredito plenamente que o "trailers..." tem absoluto potencial para se tornar num clássico daqui a pouco tempo. Tem as canções, a atitude, o conceito, até alguma maturidade pouco comum numa banda que na altura tinha apenas "Those In Glass Houses Shouldn't Throw Stones", lançado cá para fora.

Por isso pode-se dizer que os more than a thousand tinham muitas expectativas viradas para eles. Como raio iria ser este primeiro disco? Uma aproximação ao segundo ep? Uma espécie de virar costas, e andar para um som mais melódico, como as músicas de apresentação faziam supor? Ou simplesmente nada disto? O concerto no santiago alquimista foi pouco conclusivo, já que não tocaram nada de inédito. Já toda a gente tinha ouvido todos os temas, e para mim, essa foi a grande pecha do concerto(mesmo se tivermos em conta que não estava presente o baterista original da banda).
A verdade é que "Vol.2- the hollow", encaminhou-se para uma face mais emo que me surpreendeu. Inicialmente pela negativa. Afinal onde estava a variante mais screamo, que tanto peso, tanta atmosfera, tanta intensidade dava à banda? Tudo bem, que agora só têm um vocalista, Vasco de seu nome, mas isso não me pareceu motivo suficiente para uma mudança tão grande. e de facto, inicialmente andei um bocadinho de costas voltadas ao primeiro disco da banda.

No entanto não deixei de o ouvir todos os dias. E foi com essas repetidas audições que percebi que estava a pegar pelo prisma errado. Precisamente pelo ponto de vista pessoal. Afinal "vol.2- the hollow", tem coisas muito positivas, como o enorme magnetismo de cada uma das suas canções, o facto de não ter uma única faixa menos boa, possuindo uma coesão e força absolutamente surpreendentes. O facto de ser mais emo, é outra falácia que merece ser desmontada. Até porque não foi com essa preocupação que a banda setubalense radicada em Londres, fez este disco. a banda decidiu fazer canções: verdadeiras canções. com corpo e alma, com intensidade através da voz mais sofrida de Vasco, com riffs fortes, e algum potencial baladeiro muito longínquo da lamechice. O facto de ter uma ponta emo, só pode ser considerada como uma simples mariquice. È como dizermos que a soraia chaves tem uma borbulha de um mílimetro de espessura junto ao nariz.

De qualquer forma, os more than a thousand cresceram mesmo. Elaboraram letras muito mais pensadas, sobre as suas vivências e dramas pessoais. Criaram um conjunto coerente de temas que vão desde o sofrimento de "The burden", passando pela quase nostalgia de "The red river murder", pelo romantismo de "Cease fire(SOS), ou mesmo pela beleza intrínseca de "The virus", que fecha o disco com chave de ouro. È a grande balada do álbum, mas não possui nem um grama de emoções baratas. E tem alguns experimentalismos, vindos de uma facção mais indie que nunca esperámos que aparecessem numa banda como os more than a thousand. A banda consegue com este seu primeiro disco "a sério", uma ode à maturidade e ao sentimento, mas também à personalidade.

Uma coisa é certa: gostava mais da fase screamo da banda. No entanto, algo também certíssimo é que esta tendência mais rock alternativo com pingadelas mínimas de emo assenta-lhes muito bem. Sobretudo porque conseguem ser únicos, e porque o disco está muitíssimo bem pensado e ainda melhor executado. As faixas estão no sítio certo, os interlúdios igualmente,e o talento da banda está lá espelhado.
Sendo absolutamente parcial diria que este disco me tinha desiludido um pouco. Mas fazendo-me valer da consciência, é preciso perceber que estas canções estão acima de qualquer média mundial. Bem, bem acima. E isso está à frente de qualquer possível juízo de valor. simplesmente ninguém pode achar "vol 2- the hollow", mau porque não o é. Eu acho-o bom. Mas sendo consciente, ele É de facto muito bom. O próximo está mais que visto que chega ao excelente. Um dos melhores discos nacionais editados este ano, mas sobretudo um dos melhores discos do ano.

8/10

1 Comments:

Blogger patiXa_ said...

Eu também fiquei supreendida quando ouvi o disco e tens razão quando dizes que a diferença entre o Trailers... e este Volume II é colossal (ou talvez isto sejam palavras minhas, já nem sei xD), mas as músicas estão recheadas dos mais diversos sentimentos e os More Than A Thousand conseguem por-nos a senti-las. Eu, pelo menos, sinto-as. The Burden é a que mais se faz sentir p'ra estes lados... e nem é nada de pessoal com a letra, acho que é mesmo pelo sofrimento que a música transmite.

É um álbum, de facto, muito bom.

10:00 AM  

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