Jesu - Conqueror(2007)
Justin broadrick é realmente um tipo do caraças. Integrou os napalm death, e foi a mente por trás dos godflesh, banda que misturava industrial, certas noções de metal, rock, numa mescla saladeira que se aprumava de disco para disco. A mente por trás de "final" um projecto que mistura musica ambiental com elementos electrónicos, que teve no ano passado terceiro rebento com o disco "3". E dos Jesu. Possivelmente uma das bandas mais caracteristicamente incaracterísticas deste novo milénio.
A carreira dos Jesu começa com "heartache" em 2002, dando origem a um disco homónimo pouco concludente. Apesar disso "Jesu", o disco, conseguiu agarrar muitos críticos e ouvintes e deu coragem a Broadrick para continuar na sua senda. Abençoada gente que aclamou o disco porque "silver", o ep grandioso do ano passado, é daquele tipo de obras que ficam na memória de quem a ouve, quer pela sua beleza ambiental, pela profundidade das canções, pela comoção das melodias. e pela habilíssima mistura entre sludge ambientes electrónicos e aquilo a que se chama shoegaze, uma mistura de indie-rock com pedaços consistentes de distorção.
È precisamente no meio dessa muralha de distorção que incide o peso dos jesu. Mais que nas guitarras aliás: embora se revele enganador dizer que a banda de broadrick é de facto pesada. E o novo "conqueror" vem reforçar ainda mais esta ideia.
A grande dúvida neste novo álbum, estava em perceber se a beleza de "silver" iria ser seguida, e se os jesu eram capazes de a tornar viável para um longa-duração. Não se negue isto desde já: O ep "silver" resulta também por ser curto. Quatro canções com cinco/seis minutos, perfazem a conta certa e conseguem fazer com que a sonoridade do conjunto de birmingham(para além de broadrick estão presentes o baterista ted parsons e o baixista Diarmuid Dalton) não se torne demasiado enfadonha - um dos defeitos normalmente apontados a todo o sludge. "Conqueror" reforça "silver". Ou por outro lado torna-se de facto entediante? A resposta não pode ser encarada de um modo universal. Mais que nunca dependerá sempre de quem gosta deste género. De uma opinião pessoal.
Primeiro que tudo: "conqueror" possui excelentes canções. O tema que dá nome ao disco, e que também o abre, é uma delícia sonora que conjuga os ambientes mais sujos e de distorção, com orgão, a voz meio programática de Broadrick e uma linha melódica fascinante. Tem alguma relação com "silver" (a canção que deu nome ao ep pois claro). Há "old year", provavelmente a melhor canção que a banda britânica já fez: arrastada, pesada, lenta, sôfrega. Caracteriza-se muito pelo peso da bateria, pelas guitarras, num registo de sludge/pós-doom um pouco mais convencional. E tem uma melodia tremendamente bela, intensa, doce e inóspita ao mesmo tempo. Estas são possivelmente as melhores canções de "conqueror" e, ainda por cima, abrem logo o álbum. depois ainda há a beleza mais uptempo de "Transfigure", a repetição sonora mas de contornos belíssimos como "Weightless & Horizontal", a doçura da final "stanlow". Mas o que aqui coexiste é a sonoridade incrementada destes tipos britânicos, sem grandes oscilações entre os temas.
Ou seja, a grande vantagem dos jesu é, ao mesmo tempo o seu maior defeito: a sua sonoridade mais que incrementada. Os jesu sabem que ambientes criar, fazem-no de uma maneira belíssima, mas quem realmente não gosta desta sonoridade é complicado poder gostar deste álbum. Porquê? Primeiro porque ele é tudo menos acessível. È preciso conhecer minimamente aquilo que a banda já fez para se poder apreciar devidamente "conqueror". Acaba por ser simples criticá-los por serem meio "chatos", porque a voz de broadrick não está alta o suficiente(e no sludge a voz é sempre encarada como mais um instrumento, isto quando ela de facto existe). Agora toda esta crítica não passa de uma desabituação à sonoridade dos Jesu.
Porque este disco é belíssimo. Tem temas enormes, recheados de emoção, melodia, distorção, peso, ambientes grandiosos e outros que nos comovem. È um fresco artístico digno de grandes músicos, de artistas com "a" grande. Não é perfeito, simplesmente porque não é um mastodonte de inovação. È Jesu. E Jesu é sinónimo de genialidade incompreendida por muitos, deliciosa e aliciante para uma grande minoria. Daí ter uma sonoridade quase incaracterística(porque rara, porque única, porque não se deixa envolver por influências externas), mas bastante demarcada.
Os Jesu não estão aqui para agradar a ninguém. Mas sim para serem ouvidos por quem quiser ter tempo para apreciar o que eles fazem. Para quem não os conhece: vá ouvir primeiro o "silver ep", mais acessível e igualmente fabuloso. Depois saltem para este "conqueror" e vão ver que a descoverta será avassaladora.
9/10
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