Friday, May 05, 2006

The new world (Terrence Malick 2005)



Sim, eu sei o que vão dizer. Vão-se queixar de que este blog anda com filmes a mais, ao invés de se preocupar com música e tal e tal... Pois bem, isso não é verdade. a diferença é que agora consigo ir ao cinema uma vez por semana, quanto antes nem uma vez por mês, tinha um buraco decente na agenda. Por isso não me culpem, culpem o meu belo horário de sexta que compensa os cócós de terça e quinta. Pronto.
Ah sim, vou começando a mandar bitaites sobre o filme que a introdução manhosa está grande que chegue.

Ora, "The new world" é o quarto filme de Malick, que se estreou nas lides cinematográficas com "Badlands" de 1973. Sim, para quem nunca ouviu falar dele, malick é um realizador muito peculiar: não dá entrevistas, dista vinte anos entre a sua segunda e terceira obra (o bem conhecido filme de guerra "the thin red line"), e os seus filmes não são propriamente de fácil assimilação.

E é precisamente essa difícil assimilação que ganhou tantos detractores em "The new world": a maioria desses críticos, realça o facto do filme ser demasiado longo, e não conseguir suportar a história durante a sua longa duração, mais precisamente duas horas e um quarto. O enredo do filme reside na paixão entre o capitão John smith, e uma jovem nativa, e de tudo aquilo que lhes rodeia. Desde a hipocrisia e vontade de povoamento dos colonos, até à pureza e genuinidade dos indígenas que apenas tentam defender aquilo que é seu.

de qualquer forma o filme não aposta na dicotomia de dois diferentes povos: é o amor entre dois seres que parecem tão diferentes, que acaba por mover um ódio e repressão tanto de um lado como do outro. Mas o amor entre eles parece puro...E essa nossa noção de pureza, fica ainda mais credível, devido ao ambiente que os circunda. Toda a floresta, autêntica poesia visual, que malick retrata da melhor maneira, é o cerne do amor entre esta indígena e este capitão. No fundo, o filme retrata apenas uma simples história de amor: como ela começa, como se desenvolve, e como acaba, não dando ao espectador mais que gestos, actos e olhares. Um filme totalmente efectuado em meias palavras, que não quer dar ao espectador mais que isso.

Malick consegue ser prodigioso na realização: um trabalho extremamente clássico, repleto de grandes planos, sobre as árvores, o céu, a própria água. Os elementos naturais que serviram de pano de fundo a esta história de amor. E a esta história de povoamento: genial a riqueza natural no lado dos nativos, e a autêntica pobreza, totalmente medieval, dos colonos ingleses, no que à paisagem concerne e às próprias riquezas naturais. O realizador filma isto como se paraíso e inferno se tratassem, mostrando a total falta de meios de uns colonos que, nada mais tinham a não ser uma parcela mínima de terra, na costa.

No entanto, não referir os diálogos seria deixar muita da importância do filme para trás: sobretudo porque eles não são necessários no filme. Agudizam a atmosfera bela e poética, um amor que surge como verdadeiro e que nunca se apaga, embora seja fulminado também pelo choque de culturas. Os diálogos transmitem sobretudo as sensações de cada personagem face a outrem, e ao próprio ambiente que as rodeia. São aquelas personagens que sentem, em vez de exprimirem. que guardam todas as impressões , porque a inadaptação é sempre uma realidade, tanto de um lado como do outro. È a menina índia que se vai aproximando cada vez mais do capitão, que impede a sua morte, que lhe dá pequenas coisas da natureza. E é o capitão apaixonado, que sabe do sua verdadeira personalidade, que vai dando o espaço necessário ao desenvolvimento daquela relação, que sente a perda. Que se sente perdido.

"The new world" não é um filme fácil: Personagens que falam pouco, paisagens filmadas de um modo clássico , intensivo e minucioso, às vezes quase doentio: cenas que duram tempo a mais para a maioria dos mortais. No entanto, toda a realização é esplendorosa, pelos pormenores que nos consegue oferecer, passando pela exímia fotografia, ou pelo excelente aproveitamento do melhor de cada actor. Assim, farrel é muito credível enquanto capitão smith, Q'orianka kilchner totalmente exótica e frágil enquanto pocahontas: plummer duro, como comandante daqueles homens, e bale sensível e bondoso, mesmo sabendo que a pequena índia nunca o conseguira amar. e o mais curioso é que tudo isto se consegue com poucas falas e acções: os olhares e expressões são o mais importante neste filme.

Esta nova obra de Malick possui um inegável brilhantismo. Nem que se considere apenas como um filme "belo", a verdade é que ninguém pode ter uma palavra contra a realiação deste autêntico guru que pouco se expõe. O filme talvez tenha um excesso temporal ; talvez tenha uma ou outra cena um pouco menos verosímil: no entanto as paixões são assim. E é assim que Malick consegue transformar aquela que parecia uma simples história de amor, num sumptuoso exercício de realização que é tocante e esmerado ao mesmo tempo. Um daqueles filmes que não é para ver todos os dias, mas que tem mesmo que ser visto. Porque, mais que belo, é absolutamente belíssimo. Absolutamente.

9/10

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