Tuesday, August 21, 2007

"Ratatouille" de Brad Bird



Hoje em dia o mundo da animação está de tal forma desenvolvido que já permite conceitos inverosímis, e é através da inverosimilhança que eles conseguem transcender-se: temos ogres a salvar princesas, pinguins a fazer sapateado ou carros falantes sem necessitarem de condutor. tudo é motivo para se fazer um filme de animação, e tudo parece fazer sentido neste espectro.

Não é portanto inútil afirmar que algum do melhor cinema que a fábrica de hollywood ainda vai produzindo, é mesmo cinema de animação. "shrek" veio confirmar esta tendência(embora a segunda sequela seja bastante mais fraquinha e desiluda), bem como todos os filmes que a pixar froi produzindo ao longo destes últimos anos, sendo hoje em dia posivelmente a mais profícua companhia de animação.

"Ratatouille" vem apenas e só confirmar esta mesma tendência. e tudo isto, pasme-se!, através de um rato que quer ser chef de alta cozinha. Ao ver toda a sua espécie e a sua família, a comer sem eira nem beira, qualquer coisa que apareça, remy tem um paladar e um olfacto apuradíssimos e basicamente não se contenta com qualquer tranbolho. Até conseguir infiltrar-se no restaurante de um conhecido chef já falecido, e que perdeu algum do seu prestígio, é um pequeno passo para um grande filme.

A verdade é que o grande trunfo de "ratatouille" é conseguir ser o mais verosímil possível, dentro da sua inverosimilhança, da sua premissa impossível de concretizar na dita vida real. Remy é simpático, mas é um rato, chega a dar um bocado de nojo vê-lo entre tachos e panelas. Existe muita repulsa por parte do espectador quando, numa cena já perto do fim, a família toda de Remy se mete a ajudá-lo na cozinha. E aqui há inspectores sanitários que efectivamente fecham(!) o restaurante. Há evidentemente o romance da praxe(não com remy mas com o humano que o vai ajudar, linguini, e uma chef francesa do mesmo restaurante), mas não é isso que deixa "ratatouille" prevísivel e banal.

Bem pelo contrário. "Ratatouille" está completamente fora desse baralho. È uma espécie de raio de luz que veio iluminar o cinema de animação, ainda bastante borbulhante de ideias. Mas é possivelmente o passo seguinte. Nós deleitamo-nos com toda a estética visual, com um genuíno prazer de menino. Sentimos fome com as iguarias que Rémy faz, por outro lado os nossos sentidos: a visão, o olfacto e o paladar, estão bem apurados com cada preparado do rato-cozinheiro. E tudo isto dentro de uma previsbilidade imprevisível, já que o filme pressupõe(e muito bem como óbvio que nós devamos sentir aqueles cheiros).

"Ratatouille" é um filme que consegue aquele bonito encanto de nos voltar a dar uma sensação de infância. como quando comemos aquele Epá, ou aquela bolacha maria que a nossa avó tinha num boião muito alto para nós. Como se já estivéssemos esquecidos da magia das coisas, onde tudo é possível e qualquer um pode fazer o que bem entender. "Qualquer um pode cozinhar" é o lema do filme. Qualquer um se deleita a ver possivelmente um dos melhores filmes de animação de sempre, é o meu. o filme tem a plena consciência dos sonhos que nos deixa ter, através da personagem do crítico de cozinha quando, numa analogia tanto a nós como a marcel proust(quem não o conhece que procure no google) pega no prato do título e o dá a provar. como proust com o raio das madalenas que me fizeram ter catorze num trabalho de faculdade já há uns anos.

10/10

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