ABERT FISH
A VIDA É NOSSA
Os lisboetas albert fish são a mais recente adição à(um pouco adormecida) secção de entrevistas do tasco. Conscientes do mundo que os rodeia, a banda que pratica aquilo que se poderá eventualmente apelidar como street-punk, lança aqui um manifesto sobre como viver a nossa vida sem pensarmos em seguir carneirada, através do vocalista gustavo. E tudo com a música como pano de fundo. a conferir agora mesmo:
Albert fish é o nome de um serial killer norte-americano. foi nele em que o vosso nome foi baseado? Se sim, porquê?
O nome é baseado no serial killer, e para mim funciona como uma metáfora. Não existe uma identificação óbvia e primária com o indivíduo e as suas acções, mas sim com o impacto e as representações da altura em que ele perpetrou os crimes. Vivemos numa sociedade que fundamenta muitos dos seus preconceitos em aparências, que partem exclusivamente de imagens sem qualquer conhecimento do conteúdo das mesmas: este foi o erro das vítimas. Os pais das crianças confiavam plenamente num homem de figura dócil e modos gentis, e abriam as portas a um monstro que lhes destruía aquilo que eles mais prezavam.
Strongly recommended já foi editado há 4 anos. Agora, que já passou algum tempo, que impacto acham que teve este disco na vossa carreira enquanto banda?
Foi bom, deu-nos oportunidades de tocar fora de Portugal, algo que teria sido complicado de outra forma. Trouxe também um pouco mais de visibilidade, e mais convites para concertos por cá. Ainda assim acho que poderia ter sido melhor, faltou-nos explorar determinados aspectos que nos poderiam ter permitido chegar mais longe. Na altura não nos pareceram assim tão importantes, mas agora passados os anos que já referiste e uma maior experiência e conhecimento das coisas, se revelaram como fundamentais para atingirmos outros objectivos enquanto banda.
Porque é que já não editam um disco em nome próprio desde 2002? Têm havido problemas em relação a isso, ou simplesmente não vos apetece?
Primeiro porque não vivemos da música, nem é esse um objectivo dos elementos da banda. Cada um tem os seus trabalhos que lhes ocupam muito tempo e paciência. Depois porque quando lançamos o trabalho de 2002, adormecemos à sombra do lançamento e do que isso trouxe. Ficámos à espera que as coisas surgissem naturalmente, o que como é óbvio não aconteceu. Tocámos até à exaustão, do público e nossa, e quando percebemos que tínhamos que ter material novo, começámos a trabalhar em músicas novas. Como as coisas não surgiram com o ritmo que queríamos, começou a existir alguma frustração que nos impediu e impede de andar para a frente como planeámos. De qualquer forma, esperamos até ao fim do ano estar a gravar o próximo trabalho. Já gravámos uma pré-produção e é só arranjar mais algumas editoras e dinheiro para gravar. Já temos uma no Brasil, em princípio em Espanha também, queremos arranjar mais umas noutros países europeus, e se der noutros continentes melhor.
Vocês sempre se afirmaram como pessoas apartidárias. Pensam que, de alguma forma, a música pode ser uma boa arma de arremesso contra a própria política?
A música, e principalmente o punk e derivados, deve ser uma arma de arremesso contra tudo o que está mal. Deve lutar contra tudo o que nos impede de sermos livres, sem compromissos com convenções e harmonias acéfalas. Quer seja contra a cena do punk ou a política institucional. A verdadeira política é feita nas ruas, ao contrário do que muitos nos querem fazer crer. A forma em como vivemos a nossa vida, as decisões que tomamos todos os dias, o que consumimos, não é o voto de quatro em quatro em anos, não são um grupo de indivíduos sentados numa sala a decidir os nossos destinos. Essa é a mentira, é o logro que criaram para nos amordaçar. Delegamos os nossos desejos, expectativas e ambições, num grupo de criminosos que dedicam a vida a criarem as condições legais e ilegais, para se enriquecerem a eles e outros que tais.
Como analisariam a relação que por vezes existe entre música e política?
A mim pessoalmente enoja-me, lembra-me a música de igreja. Estão ali para validar a relação com a instituição que lhes dá de comer. O mestre e o servo, uma relação de subserviência. Quando te ligas a algo e perdes a capacidade crítica, perdes também o estatuto de ser humano, anulas a tua capacidade de raciocínio pelas decisões do líder. O desconforto e a insatisfação são substituídos pela comodidade da pertença. A criatividade é limitada pelo sancionamento do grupo. Para quem gosta de comer e calar deve ser bom, a mim a espinha custa a passar na garganta. Vivemos num mundo que não funciona, e continuamos a dar crédito a quem o estraga.
Acabando com estas questões mais ideológicas: há uns anos foram tocar ao palco novos valores da festa do avante, e o vosso som foi cortado por pessoas da organização. Afinal podem falar um pouco daquilo que se passou, e de explicarem melhor o porquê de terem acabado abruptamente com o vosso concerto?
Basicamente, resumiu-se a uma crítica que eu fiz ao partido comunista, que foi interpretada como um insulto. Para mim o problema resume-se a diferença de conceitos, de modos de análise da realidade. Não sei sequer, se fosse outra pessoa que estivesse encarregue daquele palco naquela noite, se as coisas teriam acontecido daquela forma. Já tínhamos tocado anteriormente no mesmo palco, eu tinha na minha opinião, feito críticas mais cáusticas, e nesse dia não aconteceu nada. Talvez tivessem interpretado de forma diferente a intenção com que eu o disse. Perdemos bastante público da banda nesse dia, o que contraria a acusação de mediatismo que nos tentaram atribuir. Nunca comprometemos os nossos princípios éticos, nem o faremos para alcançar uma suposta fama e reconhecimento público. Não andamos aqui para agradar a ninguém, senão a nós próprios.
Como analisariam neste momento o panorama do punk nacional? E aquelas bandas mais melódicas que toda a gente no meio punk mais underground costuma criticar?
Para mim não faz sentido sequer falar de panorama punk nacional, primeiro porque se falarmos em termos de som, postura, atitude e principalmente imagem, é coisa que mais faz lembrar as bandas de pop dos anos 80. É completamente incipiente, dedicado a meninos e meninas mimados com o cérebro atrelado a um penico, egocêntrico, patético. È uma passagem de modelos, com um prémio no fim para os mais emproados. E se alguém não tem um desgosto de amor e não passa o dia a chorar, porque o namorado(a) não lavou os pés, bem pode ficar à porta do concerto. È óbvio que existem bandas com valor, que se recusam a alinhar na mediocridade geral, mas essas que se preparem para penar.
Quanto à clássica discussão das bandas mais melódicas, é coisa que para mim não me interessa. Para mim pessoalmente, numa banda de punk, relevo mais a atitude e menos o som, o que não significa que só goste das bandas pela atitude. Só para dar alguns exemplos concretos, Bad Religion, que é uma banda que gosto bastante, são melódicos e para mim têm das melhores letras que já li. Eles têm uma postura que eu aprecio, têm defeitos e coisas que lhes critico, coisas com que não concordo, mas não deixa de ser uma boa banda. Nos Crass, outra banda que gosto bastante, o que eu mais aprecio neles é a postura, a atitude e a coerência. Descendents, outra banda que me marcou, é mais pelo som do que pelas letras.
O que quero dizer com isto, é que alguém que use uma banda como modelo para se sentir completo, para se sentir integrado, devia antes procurar o caminho de uma igreja. È bom quando existe diversidade, quando encontras um bocado de tudo num mesmo sitio. E a música deve ser isso, o punk deve servir para isso, para instigar a diversidade e o debate de ideias, para revelar diferentes emoções, a revolta contra a unanimidade, a quebra da rotina. No fim de tudo, uma banda é apenas um grupo de pessoas diferentes entre si, que partilham determinados valores e ideias. E que dentro dessa partilha de ideias, têm diferentes formas de fazer as coisas, que seguem os seus próprios caminhos.
Neste momento estão a pensar em editar alguma coisa?
Foi editado recentemente um split com Garotos Podres, e está para sair em princípio até ao fim de Julho, a reedição do strongly recommended em Espanha. Depois ,como já disse anteriormente, é esperar pela conclusão do novo trabalho, que se tudo correr como pensado, deve sair no primeiro trimestre de 2007
Obrigado pela entrevista, e é só para lembrar que se a mesma tivesse sido respondida por outro elemento da banda, as respostas possivelmente seriam diferentes daquelas que aqui ficam registadas!!!!!
Um abraço para todos os que lerem a entrevista, divirtam-se!!!!!!!!!!
ps: as minhas desculpas pela foto mas não consegui mesmo outra melhor. peço mesmo desculpa.
Os lisboetas albert fish são a mais recente adição à(um pouco adormecida) secção de entrevistas do tasco. Conscientes do mundo que os rodeia, a banda que pratica aquilo que se poderá eventualmente apelidar como street-punk, lança aqui um manifesto sobre como viver a nossa vida sem pensarmos em seguir carneirada, através do vocalista gustavo. E tudo com a música como pano de fundo. a conferir agora mesmo:
Albert fish é o nome de um serial killer norte-americano. foi nele em que o vosso nome foi baseado? Se sim, porquê?
O nome é baseado no serial killer, e para mim funciona como uma metáfora. Não existe uma identificação óbvia e primária com o indivíduo e as suas acções, mas sim com o impacto e as representações da altura em que ele perpetrou os crimes. Vivemos numa sociedade que fundamenta muitos dos seus preconceitos em aparências, que partem exclusivamente de imagens sem qualquer conhecimento do conteúdo das mesmas: este foi o erro das vítimas. Os pais das crianças confiavam plenamente num homem de figura dócil e modos gentis, e abriam as portas a um monstro que lhes destruía aquilo que eles mais prezavam.
Strongly recommended já foi editado há 4 anos. Agora, que já passou algum tempo, que impacto acham que teve este disco na vossa carreira enquanto banda?
Foi bom, deu-nos oportunidades de tocar fora de Portugal, algo que teria sido complicado de outra forma. Trouxe também um pouco mais de visibilidade, e mais convites para concertos por cá. Ainda assim acho que poderia ter sido melhor, faltou-nos explorar determinados aspectos que nos poderiam ter permitido chegar mais longe. Na altura não nos pareceram assim tão importantes, mas agora passados os anos que já referiste e uma maior experiência e conhecimento das coisas, se revelaram como fundamentais para atingirmos outros objectivos enquanto banda.
Porque é que já não editam um disco em nome próprio desde 2002? Têm havido problemas em relação a isso, ou simplesmente não vos apetece?
Primeiro porque não vivemos da música, nem é esse um objectivo dos elementos da banda. Cada um tem os seus trabalhos que lhes ocupam muito tempo e paciência. Depois porque quando lançamos o trabalho de 2002, adormecemos à sombra do lançamento e do que isso trouxe. Ficámos à espera que as coisas surgissem naturalmente, o que como é óbvio não aconteceu. Tocámos até à exaustão, do público e nossa, e quando percebemos que tínhamos que ter material novo, começámos a trabalhar em músicas novas. Como as coisas não surgiram com o ritmo que queríamos, começou a existir alguma frustração que nos impediu e impede de andar para a frente como planeámos. De qualquer forma, esperamos até ao fim do ano estar a gravar o próximo trabalho. Já gravámos uma pré-produção e é só arranjar mais algumas editoras e dinheiro para gravar. Já temos uma no Brasil, em princípio em Espanha também, queremos arranjar mais umas noutros países europeus, e se der noutros continentes melhor.
Vocês sempre se afirmaram como pessoas apartidárias. Pensam que, de alguma forma, a música pode ser uma boa arma de arremesso contra a própria política?
A música, e principalmente o punk e derivados, deve ser uma arma de arremesso contra tudo o que está mal. Deve lutar contra tudo o que nos impede de sermos livres, sem compromissos com convenções e harmonias acéfalas. Quer seja contra a cena do punk ou a política institucional. A verdadeira política é feita nas ruas, ao contrário do que muitos nos querem fazer crer. A forma em como vivemos a nossa vida, as decisões que tomamos todos os dias, o que consumimos, não é o voto de quatro em quatro em anos, não são um grupo de indivíduos sentados numa sala a decidir os nossos destinos. Essa é a mentira, é o logro que criaram para nos amordaçar. Delegamos os nossos desejos, expectativas e ambições, num grupo de criminosos que dedicam a vida a criarem as condições legais e ilegais, para se enriquecerem a eles e outros que tais.
Como analisariam a relação que por vezes existe entre música e política?
A mim pessoalmente enoja-me, lembra-me a música de igreja. Estão ali para validar a relação com a instituição que lhes dá de comer. O mestre e o servo, uma relação de subserviência. Quando te ligas a algo e perdes a capacidade crítica, perdes também o estatuto de ser humano, anulas a tua capacidade de raciocínio pelas decisões do líder. O desconforto e a insatisfação são substituídos pela comodidade da pertença. A criatividade é limitada pelo sancionamento do grupo. Para quem gosta de comer e calar deve ser bom, a mim a espinha custa a passar na garganta. Vivemos num mundo que não funciona, e continuamos a dar crédito a quem o estraga.
Acabando com estas questões mais ideológicas: há uns anos foram tocar ao palco novos valores da festa do avante, e o vosso som foi cortado por pessoas da organização. Afinal podem falar um pouco daquilo que se passou, e de explicarem melhor o porquê de terem acabado abruptamente com o vosso concerto?
Basicamente, resumiu-se a uma crítica que eu fiz ao partido comunista, que foi interpretada como um insulto. Para mim o problema resume-se a diferença de conceitos, de modos de análise da realidade. Não sei sequer, se fosse outra pessoa que estivesse encarregue daquele palco naquela noite, se as coisas teriam acontecido daquela forma. Já tínhamos tocado anteriormente no mesmo palco, eu tinha na minha opinião, feito críticas mais cáusticas, e nesse dia não aconteceu nada. Talvez tivessem interpretado de forma diferente a intenção com que eu o disse. Perdemos bastante público da banda nesse dia, o que contraria a acusação de mediatismo que nos tentaram atribuir. Nunca comprometemos os nossos princípios éticos, nem o faremos para alcançar uma suposta fama e reconhecimento público. Não andamos aqui para agradar a ninguém, senão a nós próprios.
Como analisariam neste momento o panorama do punk nacional? E aquelas bandas mais melódicas que toda a gente no meio punk mais underground costuma criticar?
Para mim não faz sentido sequer falar de panorama punk nacional, primeiro porque se falarmos em termos de som, postura, atitude e principalmente imagem, é coisa que mais faz lembrar as bandas de pop dos anos 80. É completamente incipiente, dedicado a meninos e meninas mimados com o cérebro atrelado a um penico, egocêntrico, patético. È uma passagem de modelos, com um prémio no fim para os mais emproados. E se alguém não tem um desgosto de amor e não passa o dia a chorar, porque o namorado(a) não lavou os pés, bem pode ficar à porta do concerto. È óbvio que existem bandas com valor, que se recusam a alinhar na mediocridade geral, mas essas que se preparem para penar.
Quanto à clássica discussão das bandas mais melódicas, é coisa que para mim não me interessa. Para mim pessoalmente, numa banda de punk, relevo mais a atitude e menos o som, o que não significa que só goste das bandas pela atitude. Só para dar alguns exemplos concretos, Bad Religion, que é uma banda que gosto bastante, são melódicos e para mim têm das melhores letras que já li. Eles têm uma postura que eu aprecio, têm defeitos e coisas que lhes critico, coisas com que não concordo, mas não deixa de ser uma boa banda. Nos Crass, outra banda que gosto bastante, o que eu mais aprecio neles é a postura, a atitude e a coerência. Descendents, outra banda que me marcou, é mais pelo som do que pelas letras.
O que quero dizer com isto, é que alguém que use uma banda como modelo para se sentir completo, para se sentir integrado, devia antes procurar o caminho de uma igreja. È bom quando existe diversidade, quando encontras um bocado de tudo num mesmo sitio. E a música deve ser isso, o punk deve servir para isso, para instigar a diversidade e o debate de ideias, para revelar diferentes emoções, a revolta contra a unanimidade, a quebra da rotina. No fim de tudo, uma banda é apenas um grupo de pessoas diferentes entre si, que partilham determinados valores e ideias. E que dentro dessa partilha de ideias, têm diferentes formas de fazer as coisas, que seguem os seus próprios caminhos.
Neste momento estão a pensar em editar alguma coisa?
Foi editado recentemente um split com Garotos Podres, e está para sair em princípio até ao fim de Julho, a reedição do strongly recommended em Espanha. Depois ,como já disse anteriormente, é esperar pela conclusão do novo trabalho, que se tudo correr como pensado, deve sair no primeiro trimestre de 2007
Obrigado pela entrevista, e é só para lembrar que se a mesma tivesse sido respondida por outro elemento da banda, as respostas possivelmente seriam diferentes daquelas que aqui ficam registadas!!!!!
Um abraço para todos os que lerem a entrevista, divirtam-se!!!!!!!!!!
ps: as minhas desculpas pela foto mas não consegui mesmo outra melhor. peço mesmo desculpa.
1 Comments:
Gosto muito da banda e ainda bem que te aqui está uma entrevista para os conhecer melhor!
Continua o bom trabalho ;)
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