Friday, March 10, 2006

Good night and good luck(George clooney 2006)



Uma verdade. A busca por essa verdade.As represálias por essa busca. Um grupo de pessoas afoitas em descobrir tudo. Sem medos. Sem receios. e tudo isto personificado na figura de um homem, que dá a cara pela verdade.
È assim "good night and good luck", segundo filme de george clooney, depois de "confessions of a dangerous mind". O mccarthismo(se estiver errado...bah) é aqui exposto, pela busca incessante de factos reais, por parte de um programa de televisão da CBS: "See it now". E é toda essa busca que o filme acompanha, nunca saindo de um certo isolamento espacial, onde tudo gira num estúdio de televisão, sem grandes referências, para lá desse espaço.

Edward G. Murrow, é o nome que personifica essa mesma busca: é o pivot daquele programa que visa mostrar factos reais, explicá-los, denunciando todos os errantes que merecem ser denunciados. È dentro deste contexto que o senador mccarthy é exposto, com um programa que criticou abertamente toda a sua política de perseguição, e que nunca foi um cordeiro àvido de agradar ao seu pastor.
E o que clooney filma é precisamente o modus operandi desse mesmo programa: as suas fontes, as suas discussões sobre o que é que se há de falar no programa seguinte, as limitações que muitas vezes são impostas pelo exterior, os avisos da censura imposta por mccarthy, a falta de vontade do director da estação naquela procura.

"Good night and good luck" é por isso um filme que se baseia fundamentalmente num acontecimento: e que conta a história de como foi possível destronar o senador mccarthy, através de sólido e rigoroso jornalismo de investigação. È um filme que explica os meandros desse mesmo jornalismo, a forma de como todos os intervenientes chegam a todos os factos que são depois divulgados em grande estilo atavés de David Strathairn, o actor que faz de Murrow.
E é precisamente em toda a performance de Strathairn que todo o filme ganha uma grande vitalidade: Strathairn parece o nome mais adequado para o papel, onde impõe um estilo e uma imagem enormes, especialmente aquando das transmissões do programa. Ele é o elo perfeito entre a informação que é ali recolhida, e todo o público. E é a ele que o senador mccarthy se vai virar, para responder a todas as acusações que o programa tinha feito.

Essa aparição do senador a responder a Murrow, é outro dos elementos mais curiosos do filme: O senador surge através de imaens de arquivo, e não personificado por um qualquer actor. aliás todos os processos que o programa divulga, são igualmente colocados via arquivo, bem como a deliciosa publicidade, ou até a transmissão de outros programas. E ali a televisão é a arma principal, aquela que está sempre presente, o ecrã que acompanha o movimento das personagens, qual 1984 se tratasse. Estas imagens de arquivo dão um ar mais credível ao filme, e apresentam uma grande justificação para o facto deste ser totalmente a preto e branco.

Mas talvez aquilo que me surge como mais relevante é toda a realização de clooney. Talvez derivado do facto de ser actor, clooney demonstra uma perfeita visão do bom funcionamento da câmara, sobretudo no que diz respeito às movimentações dos actores. Ela segue os seus movimentos de uma forma precisa, muitas vezes acompanhando-os frontalmente ou pelas costas, nunca deixando espaço para que elas desapareçam. Por outro lado, alguns planos de conjunto quando a redacção é mostrada, são igualmente de extrema beleza, bem como os momentos musicais do filme, pela forma delicada com o orealizador filma o jazz que é debitado nos estúdios ali mesmo ao pé da televisão. Clooney efectuou mesmo um grande trabalho de realização, na minha opinião, mais que merecedor de um óscar.
Ainda relevante é toda a fotografia do filme, o fantástico trabalho do claro/escuro, os jogos de sombras, que serviam para tornar ainda mais claustrofóbico todo o ambiente que ali se vive. O preto e branco, conjugando-se com as imagens de arquivo, acaba por tomar uma nota delicada à imagem cinematográfica, mas igualmente um ambiente mais sóbrio que nos dá uma visão sobre o que se passa, e nunca uma real integração das pessoas na narrativa.

E, provavelmente, a própria narrativa é o maior problema do filme. tenho em mim que, o filme não possui uma narrativa totalmente coerente em todos os seus momentos: o problema não será da narrativa propriamente dita mas, fundamentalmente, a própeia caracterização das personagens, que não permite que a narrativa evolua mais do que da própria investigação jornalística, onde sempre se encontra presa. claro que todo o âmbito da caça às bruxas, dá azo a várias interpretações, no entanto não me parece que seja esse o objectivo de "good night and good luck". Aliás, parece-me que clooney tentou, acima de tudo, mostrar como é que os jornalistas podem ser protagonistas, nunca fugindo da veracidade dos factos, nunca tentado que a história se transcendesse a mais que isso. filme limitado? Jamais. È genial na forma em como aborda os problemas jornalísticos, tem strathairn em grande forma, uma fenomenal realização, e uma narrativa credível e coerente.

Clooney conseguiu fazer precisamente aquilo que queria. E conseguiu-o em grande estilo. Se eu achei que ele podia ter feito um bocadinho mais? Sim. Mas isso não apaga toda a genialidade do filme, onde existem heróis, um vilão, e factos indesmentíveis. Um filme que acertou na mouche, mereceu mais que o 0 dos óscares e merece uma visão exaustiva. Uma vez não chega.

8/10

1 Comments:

Blogger Joana C. said...

O filme é muito bom. A opção de ser filmado a preto e branco não podia ser melhor pois dá um tom muito mais verosímil ao filme. O conjunto de actores também está muito bem, sobretudo o gajo principal :)

5:22 PM  

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