Jesu- Silver ep
Os Jesu são mais uma daquelas bandas incorporadas na tendência do "pós-doom", se a isso poderemos chamar a corrente iniciada pelos neurosis(especialmente desde "trough silver in blood"), e continuada por bandas tão geniais como isis,cult of luna ou pelican. Este "silver ep" é o mais recente lançamento da banda, liderada pelo mui versártil Justin Broadrick, e outra vez pela hydrahead records(de aaron turner dos isis), que já tinha sido a casa-mãe do disco homónimo de estreia.
Este ep é relativamente curto, tendo em conta as habituais tendências e padrões do género, possuindo apenas quatro temas: O tema título, que inicia o ep, "Star", "wolves" e "dead eyes", perfazendo ao todo sensivelmente meia hora de música. Em relação aos temas propriamente ditos, a pergunta impõe-se: em que medida este ep consegue ser diferente de tudo aquilo que já foi feito nesta tendência até agora? Bem, antes de mais dizer que cada banda ,dentro deste género, consegue demarcar-se das outras e fazer algo de diferente, não é nada de falso. Pelo menos tendo em conta estas cinco, seis bandas que perfazem o núcleo "duro" deste novo movimento musical. Se os cult of luna são mais pesados, os isis mais experimentais, os pelican mais rock e com ambientes mais uptempo, os jesu pegam nesta tendência mais rockeira dos pelican, e colocam-na dentro de uma negritude ao alcance de uns cult of luna, ou até dos próprios isis. Assim foi o disco homónimo da banda, que lhe granjeou críticas bastante positivas em todo o lado, e conseguiu ascendê-la ao estatuto de culto.
E é depois desse conquistado culto que os jesu decidem deixar toda a gente de boca aberta e fazerem algo totalmente diferente, a todos os níveis: Se, por um lado, deixaram de lado as guitarras mais trepidantes, por outro aumentaram os ambientes up-tempo, as atmosferas calmas e pacíficas, as programações mais suaves e até acessíveis ao ouvido. "Silver", o primeiro tema, ainda tem uma predominância de guitarras: mas estas soam leves e calmas aos nossos ouvidos, auxilidadas directamente por algumas programações(penso eu de que), e que remetem para um paraíso de acalmia, mais directamente relacionado com o post-rock.
E, tanto "Star", como "Wolves", desenvolvem esta tendência, embora esta última tenha já uma abordagem mais negra e até crua ao próprio género. Enquanto "Star" cativa ainda mais a nossa atenção, pelas melodias mais suaves e, sobretudo, pela constante repetição tanto da bateria como das guiaras mais melódicas, "Wolves" continua a ter uma abordagem leve , mas volta um pouco a universos atmosfericamente mais densos e complexos.
Sim, eu sei: falta-me falar de um tema. "Dead eyes", fecha o ep de uma forma totalmente inspirada, inovadora, e refrescante. Pega numa programação aparentemente simples, e vai adicionando elementos sonoros que nos aconchegam de uma forma soberba. Se este tipo de processo costuma ser utilizado no género, bem é verdade. Mas pegar em sonoridades que surgem como samplers? E conseguir ter uma melodia deste índole, adicionando guitarras, criando ambientes dignos de post-rock, sem nunca perder a identidade, tanto do género dos jesu, como do próprio ep? E que tal ainda utilizar programações e guitarras ao mesmo tempo? Sim, aqui é dado o definitivo passo em frente, um novo trilho para o género.
Portanto, é óbvio que este ep é uma lufada de ar fresco. No entanto também é verdade que nunca perde a sua vertente experimental, que tem sempre o objectivo de ir buscar sonoridades do post-doom(ou post-metal como eu gosto de lhe chamar), para as colocar em confronto tanto com samplers, como com melodias up-tempo, atmosferas bem mais suaves, em contraponto com a negritude, que aqui também existe.
È por isso meia hora de música que soa como nova, como uma alternativa ao que já existe dentro deste espectro, e sobretudo, como uma porta de entrada a quem ainda desconhece os meandros do post-doom. È um ep bem mais acessível do que o costume, mas que jamais perde a sua identidade, e a sua identificação ao género.Por isso consegue ser tão belo. Tão tocante. E tão obrigatório para todos os ouvidos.
9/10
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