Saturday, March 25, 2006

VINTAGE: At the drive in- Relationship of command(2000)



Seattle, 1991. Um rapazote com cabelo louro um tudo nada grande, calças rasgadas, dependente de drogas, cujos ouvidos se ocupavam de coisas como mudhoney, melvins ou screaming trees arranjou-se para fazer um disco com a sua bandola lá do sítio, depois de um primeiro em 1989 que tinha prometido muita coisa, mas não canonizado aquele conjunto local. Arranjaram uma piscina, um puto e uma nota de dólar. Fizeram uma capa toda bonita, uns 12 temas, e editaram aquilo a pensar que ia ser um conjunto de temas simpático e engraçadote.

Sim acertaram: tal como o nome da crítica indica, o objecto aqui analisado não é "nevermind"dos nirvana, um disco que, para mim é precisamente aquilo que tanto kurt como novoselic e grohl pensavam dele: simpático mas só isso. Mas enfim, lá se tornou a grande obra do ano, quiçá da década para algumas pessoas, influenciou toda uma geração que ficou orfã de um homem como cobain, cuja morte prematura intensificou ainda mais esse mesmo mito.
Mas agora a pergunta: "Ah e tal, mas afinal o que é que raio tem a ver o disco dos nirvana com este relationship of command?", e eu respondo: cambada de burros.

Cambada de burros, porque este terceiro, e último disco dos At the drive in, é precisamente igual àquilo que os nirvana fizeram em 91: estávamos na altura do quase falecimento de toda a onda mais electrónica da pop, da quase extinção do hair metal e do glam. No fundo passou-se de lantejoulas a camisolas de flanela. De calças de couro a jeans rasgados. De discotecas cheias de brilhantina, a clubes cheios de ganza.
E "relationship of command", em certa medida, operou precisamente esta mudança. Porquê? Porque, no fim dos anos 90, início de 2000 estávamos precisamente no começo da moribundice do nu-metal, com uma limitação, cada vez maior, de ideias novas, de novos caminhos, de uma alternativa aos trilhos que estavam a ser seguidos. A fonte secou, o filão parecia extinguir-se, o que veio a acontecer.

E nisto surge uma banda, que já tinha feito dois discos, vinda dos confins do texas a apresentar este "relationship of command", produzido pelo famosíssimo guru-produtor Ross Robinson(que só prova que este homem preveu claramente o fim do nu-metal), que veio deconstruir toda a cena musical até então. Com uma abordagem ao rock de uma forma intensa, decorrente dos portentosos riffs de guitarra, como das vozes tanto raivosas como melódicas de Cedric Bixler.
Mas o melhor mesmo do disco é a enorme capacidade de criar temas de enorme envergadura, no sentido de serem autênticas bombas musicais. temas corrosivos, de um rock frenético, recheado de pequenos pormenores técnicos: muitas vezes simples, outras vezes de extrema complexidade.

E, curiosamente, no meio de tudo isso existem alguns refrões catchy, temas altamente radio-friendly, misturadas no real experimentalismo e intensidade sonoras da própria banda. O que os At the drive in fazem é juntar o rock mais pesado, com boas melodias, uma voz raivosa e leve ao mesmo tempo, mais alguns refrões memoráveis (ouçam lá o de "one armed scissor"). E ainda temas onde até surge piano, como em "Non-Zero possibility", ou o frenesim, de onde parecem emanar programações, como é "Enfilade".

Foi, por tudo isto, um disco que cortou com o passado: aqui não há laivos de hip-hop, temas dicotómicos entre géneros, ou fugas ao género emanado pela banda. No entanto, "relationship of command" pega numa enorme quantidade de elementos de outras fontes sonoras, que junta ao rock pesado, e perfaz uma salada sonora bem apetecível, acabando por criar um tipo de som totalmente diferente, de tão díspar que o grupo estava daquilo que era feito na altura.

e daí ter falado no "nevermind": outro disco que, segundo muita gente, cortou com o que existia na altura, dando-lhe uma roupagem e abordagens novas. Os at the drive in esqueceram o passado, e no futuro só viam um conjunto de artefactos sonoros que prontamente adaptaram. Kurt cobain morreu em 1994, e os at the drive in acabaram pouco tempo depois de terem lançado este álbum. em ambos os casos existiu uma continuidade musical: os nirvana com grohl nos foo fighers, os at the drive in com os sparta e mars volta.

Mas, se "Nevermind" era um disco muito limitado estilisticamente, e que foi extremamente sobrevalorizado, por todo o hype que conseguiu criar, já "Relationship of command" é uma obra de arte daquelas que se encontram muito dificilmente. Mas não deixa de ser um marco autêntico na mais recente história da música, pela sua complexidade tanto a nível musical, como a níel de catalogação dentro do rock, bem como uma boa súmula para algumas bandas que vieram a seguir: por exemplo ninguém me tira da cabeça que algumas bandas relacionadas com o emocore não vieram a estes caminhos beber algumas influências. De qualquer forma não é um disco que salta fora do seu género, no que diz respeito a reconhecimento. E se, por um lado isso é injusto para o disco, por outro podemos apreciar com a maior das intimidades e dos prazeres, um álbum que tem tanto de fantástico, como de completo, contagiante e original. Um marco.


9/10

2 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Sem sombra de duvida um grande album.. magnifico mm! Mas vais-me desculpar, o nevermind não foi em nada sobrevalorizado.. é uma obra prima, bem ao lado de relationship of command (orgulho-me de ter os 2 originais!!).

6:40 AM  
Anonymous Anonymous said...

Para mim, o Nevermind foi muito importante. Mudou os meus gostos musicais. Senti-o como uma pedrada no charco. Não soava semelhante a nada que eu tivesse ouvido anteriormente.

O Relationship Of Command, também operou uma mudança, em mim, mas, devo adimitir, mais pequena. Tinham-se passado vários anos e a minha maneira de "estar" na música era já completamente diferente.
Tinha crescido musicalmente, estava preparada para um disco assim (passe a imodéstia).

São, realmente, dois discos magistrais. Cada um a seu modo.

Assim, de repente, e, em termos de impacto, a diferença mais gritante que me ocorre é que o número de pessoas que ouviu um é infinitamente menor do que o número de pessoas que ouviu o outro. E, é pena...

unreal

8:30 PM  

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