Thursday, November 30, 2006

Linda martini - olhos de mongol(2006)



Os linda martini são um bocado...não digo "a" banda, mas digo uma das bandas que me fazem ter vontade de continuar por aqui com este simpático blog(ou então nem é muito simpático). A verdade é que não os vi nascer, mas vi-os crescer...e cresceram depressa as "crianças" de queluz. Desde o passado hardcore, passando pela idosa maqueta (com apenas uns 2 anos!), e pelo ep, já para não falar no fantástico concerto na festa do avante de 2005. Tudo isto foram patamares que a banda foi subindo muito rapidamente. Longe vão os tempos em que deram uma entrevista num blog de vão de escada- sim acertaram, é este- sendo que agora já são destaque do suplemento cultural do público: o Y.

Se para muita gente, este "olhos de mongol" é uma surpresa,para gente que os conhece já ao tempo, ele é um culminar de expectativas. Uma espécie de fim de um ciclo, de todo um conjunto de ideias, de pensamentos, de crenças em "como seria este disco". È como se imaginássemos uma babe toda nua, e passado uns tempos tivéssemos acesso pleno aos seus portentos físicos, tal como Deus a deu ao mundo. Será que íamos ficar todos contentes, e ela nua era como nós a imaginávamos? Ou se, pelo contrário, ela afinal tinha pelos no peito e era hemafrodita? A comparação pode parecer ridícula, mas não se esqueçam que fui eu que a fiz.

Ainda por cima "Olhos de mongol" dá-se ao luxo de esquecer o anterior ep, e dá-nos 9 temas absolutamente novos, excepção feita ao obrigatório "Amor combate" que tinha que estar por aqui. Afinal é o grande hino da banda, aquele tema que toda a gente trauteava quando linda martini era apenas sinónimo de "uma cena gira com cenas que vão de isis até mogwai e explosions in the sky, e que anda no myspace". Portanto, a rede do trapézio ainda apresentava mais buracos que aquilo que podia apresentar. O risco a correr era maior, e a possibilidade de desilusão, em relação a mim e a muito boa gente...no fundo a quase toda a gente que é potencial compradora deste disco, era mais que muito.

Agora as boas notícias: nada há a recear minha gente. Aqueles que tinham medo de os ouvir num formato maior, que até poderiam ter medo de alguma monotonia e marasmo sonoro, a verdade é que saíram redondamente enganados. "Cronófago", o primeiro single, é uma muralha de distorção fantástica e uma experiência sonora que resulta na perfeição enquanto momento quase esquizofrénico(esse está ainda mais explítico em "o amor é não haver polícia"), "dá-me a tua melhor faca" é um tema bem completo, que inicia por um poderio enorme de guitarras, desagua numa maresia sonora agradável e suave, e volta aos fantásticos riffs de guitarra que os linda martini sempre nos habituaram, conseguindo ser absolutamente contagiante, mesmo tendo apenas meia dúzia de palavras.

Já "partir para ficar" é provavelmente a melhor ideia musical que os linda martini já tiveram. Pegaram num excerto de "FMI" de José Mário Branco(esse glorioso aluno da melhor faculdade do mundo- a minha), e deram-lhe uma paisagem soturna, negra, inóspita. Souberam aplicar na perfeição aquilo que o cançonetista nos vai dizendo. È um momento delicioso, singular e sobretudo único da música portuguesa, nos últimos anos. Um prodígio instrumental, que acaba recheado de emoção. "Estuque", um dos temas que já conhecia, para além da fabulosa letra(diga-se que a componente lírica é um dos pontos fortes do álbum), também tem uma moldura sonora admirável: quase que se aproxima de uma canção no verdadeiro termo da palavra, por ter uma componente mais estruturada que as outras. Aliás outro aspecto importante do disco é a capacidade de improvisação, algo que acho que cheguei a fazer referência, quando falei no concerto de apresentação ao disco. "estuque", é um tema igualmente soturno e com distorções, mas ao mesmo tempo é interessante o suficiente para nunca nos fartarmos dele. È também um dos temas onde a voz do vocalista André melhor soa. Ah sim: e o solo final é fantástico.


"O amor é não haver polícia", tem bocados que quase parecem spoken-word, dada a rapidez do tema, e a velocidade em que as palavras vão sendo debitadas. È também um dos temas mais rápidos do disco, juntamente com "cronófago", e eleva a esquizofrenia e distorção da primeira a patamares ainda mais elevados. È um tema que garante a mestria instrumental da banda, e que nunca deixa de conseguir ser uma canção e um exercício de estilo ao mesmo tempo. "quarto 210", é outro tema curtinho, onde voltam as... harmónicas(?) que já erstiveram presentes em "partir para ficar" por exemplo. Tenho em mim que é a faixa mais fraca do disco...mas a verdade é que consegue também resumi-lo em três minutos: é soturno, tem palavras arrastadas, uma letra inteligente, só lhe falta a distorção.

"Amor combate" e "A severa(ver de perto)"...é preciso falar da primeira? Aquele som que eu já ouvi umas 142556758796546546 vezes, fora as outras 324325266567 vezes? Pois. A verdade é que a voz está mais límpida que aquela que nos acostumámos a ouvir. Quase que parece que a muralha instrumental soa mais "baixa" que a voz, o que não deixa de ser estranho. Não perde o encanto, mas talvez tenha sido um bocadinho forçada a inclusão do tema no disco. Ela está relacionada com o objecto, mas não deixa de soar distante face aos outros temas aqui colocados. De qualquer forma aquele poderio instrumental lá continua e isso não se pode perder de vista . e ainda bem.
"A severa..." é quase épica. Pesada, calma, agressiva,progressiva, experimental, esquizofrénica, frenética. Quase tudo o que se ouve no álbum está aqui. termina de modo agreste e com distorções, e é assim que se consegue perceber que os linda martini estão aqui para as curvas.

Porque estão mesmo. Todos os temas são muito bons, a panafernália sonora da banda continua intacta, e não se pode dizer de modo algum, que tenha feito mal à banda de queluz,a passagem para longa-duração. Simplesmente são uma banda que começou pequenina e que, devido tanto à sua originalidade como ao esforço e dedicação, arranjou-se para o seu lugar ao sol. Hélio continua absolutamente louco na bateria, as guitarras continuam a estalar...a voz de André soa na perfeição numa banda que nunca privilegiou a voz( e quem critica linda martini a partir deste ponto devia ter isso em mente).

Os linda martini são grandes. Melhor que tudo, continuarão a sê-lo. Que este disco sirva para poderem granjear mais ouvintes. Sim, porque para o resto(aquela coisa da qualidade, e de inventividade, e de excelência, já para não falar em estar no topo em listas de final de ano) eles já nem precisam de se esforçar mais. O som já é único, e o disco igualmente. Ainda por cima é mesmo bom caraças.

9/10

7 Comments:

Blogger patiXa_ said...

Eu também acho que o Olhos de Mongol está espectacular. Oiço-o todos os dias...

Longa vida aos Linda Martini! =]

9:57 PM  
Anonymous Anonymous said...

para mim consegue ser a obra prima, e se existirem os 10melhores discos de sempre, e os 10 melhores concertos de sempre...os linda martini em 10º ou em 1º tem de estar.
porque a viagem que nos dão ao longo de todo o cd...
disco do ano nacional!

2:03 PM  
Blogger Baneful said...

a voz de André soa na perfeição numa banda que nunca privilegiou a voz( e quem critica linda martini a partir deste ponto devia ter isso em mente... tenho isso em mente... cont a preferir o instrumental

fico à espera de ver até onde os linda martini conseguem voar... bem alto espero!

10:18 PM  
Anonymous Anonymous said...

muito bom.

2:42 AM  
Anonymous Anonymous said...

LINDA MARTINI no FESTIVAL 7 ROCK, em Setúbal. Encerramento do Mês da Juventude. Final do 3º Concurso de Bandas de Garagem de Setúbal. Sábado, 31 de Março, às 22h00, na Capricho Setubalense (Largo da Misericórdia). A Não Perder!

11:48 AM  
Anonymous Anonymous said...

Linda martini é original, quer dizer se conhecermos Sonic Youth ou até Mogwai deixa de o ser...

São portugueses e isso é bom... acho que é de tudo o mais importante..

Porque letras...n vale a pena comentar...

Musicalidade, vira o disco toca o mesmo. 3 guitarras a tocarem a mesma coisa durante 3 minutos, 1 minuto a rasgar com a bateria a malhar toda hardcore, e de novo 3 minutos com a mesma coisa mais calma...

12:27 PM  
Anonymous Anonymous said...

Há boa música. Há boa música Portuguesa. É pena não sermos muitos a destingui-la... a ouvi-la.

...é não perder linda martini em Paredes, que este ano tem um excelente cartaz.

11:16 PM  

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