Linda martini - olhos de mongol(2006)
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Os linda martini são um bocado...não digo "a" banda, mas digo uma das bandas que me fazem ter vontade de continuar por aqui com este simpático blog(ou então nem é muito simpático). A verdade é que não os vi nascer, mas vi-os crescer...e cresceram depressa as "crianças" de queluz. Desde o passado hardcore, passando pela idosa maqueta (com apenas uns 2 anos!), e pelo ep, já para não falar no fantástico concerto na festa do avante de 2005. Tudo isto foram patamares que a banda foi subindo muito rapidamente. Longe vão os tempos em que deram uma entrevista num blog de vão de escada- sim acertaram, é este- sendo que agora já são destaque do suplemento cultural do público: o Y.
Se para muita gente, este "olhos de mongol" é uma surpresa,para gente que os conhece já ao tempo, ele é um culminar de expectativas. Uma espécie de fim de um ciclo, de todo um conjunto de ideias, de pensamentos, de crenças em "como seria este disco". È como se imaginássemos uma babe toda nua, e passado uns tempos tivéssemos acesso pleno aos seus portentos físicos, tal como Deus a deu ao mundo. Será que íamos ficar todos contentes, e ela nua era como nós a imaginávamos? Ou se, pelo contrário, ela afinal tinha pelos no peito e era hemafrodita? A comparação pode parecer ridícula, mas não se esqueçam que fui eu que a fiz.
Ainda por cima "Olhos de mongol" dá-se ao luxo de esquecer o anterior ep, e dá-nos 9 temas absolutamente novos, excepção feita ao obrigatório "Amor combate" que tinha que estar por aqui. Afinal é o grande hino da banda, aquele tema que toda a gente trauteava quando linda martini era apenas sinónimo de "uma cena gira com cenas que vão de isis até mogwai e explosions in the sky, e que anda no myspace". Portanto, a rede do trapézio ainda apresentava mais buracos que aquilo que podia apresentar. O risco a correr era maior, e a possibilidade de desilusão, em relação a mim e a muito boa gente...no fundo a quase toda a gente que é potencial compradora deste disco, era mais que muito.
Agora as boas notícias: nada há a recear minha gente. Aqueles que tinham medo de os ouvir num formato maior, que até poderiam ter medo de alguma monotonia e marasmo sonoro, a verdade é que saíram redondamente enganados. "Cronófago", o primeiro single, é uma muralha de distorção fantástica e uma experiência sonora que resulta na perfeição enquanto momento quase esquizofrénico(esse está ainda mais explítico em "o amor é não haver polícia"), "dá-me a tua melhor faca" é um tema bem completo, que inicia por um poderio enorme de guitarras, desagua numa maresia sonora agradável e suave, e volta aos fantásticos riffs de guitarra que os linda martini sempre nos habituaram, conseguindo ser absolutamente contagiante, mesmo tendo apenas meia dúzia de palavras.
Já "partir para ficar" é provavelmente a melhor ideia musical que os linda martini já tiveram. Pegaram num excerto de "FMI" de José Mário Branco(esse glorioso aluno da melhor faculdade do mundo- a minha), e deram-lhe uma paisagem soturna, negra, inóspita. Souberam aplicar na perfeição aquilo que o cançonetista nos vai dizendo. È um momento delicioso, singular e sobretudo único da música portuguesa, nos últimos anos. Um prodígio instrumental, que acaba recheado de emoção. "Estuque", um dos temas que já conhecia, para além da fabulosa letra(diga-se que a componente lírica é um dos pontos fortes do álbum), também tem uma moldura sonora admirável: quase que se aproxima de uma canção no verdadeiro termo da palavra, por ter uma componente mais estruturada que as outras. Aliás outro aspecto importante do disco é a capacidade de improvisação, algo que acho que cheguei a fazer referência, quando falei no concerto de apresentação ao disco. "estuque", é um tema igualmente soturno e com distorções, mas ao mesmo tempo é interessante o suficiente para nunca nos fartarmos dele. È também um dos temas onde a voz do vocalista André melhor soa. Ah sim: e o solo final é fantástico.
"O amor é não haver polícia", tem bocados que quase parecem spoken-word, dada a rapidez do tema, e a velocidade em que as palavras vão sendo debitadas. È também um dos temas mais rápidos do disco, juntamente com "cronófago", e eleva a esquizofrenia e distorção da primeira a patamares ainda mais elevados. È um tema que garante a mestria instrumental da banda, e que nunca deixa de conseguir ser uma canção e um exercício de estilo ao mesmo tempo. "quarto 210", é outro tema curtinho, onde voltam as... harmónicas(?) que já erstiveram presentes em "partir para ficar" por exemplo. Tenho em mim que é a faixa mais fraca do disco...mas a verdade é que consegue também resumi-lo em três minutos: é soturno, tem palavras arrastadas, uma letra inteligente, só lhe falta a distorção.
"Amor combate" e "A severa(ver de perto)"...é preciso falar da primeira? Aquele som que eu já ouvi umas 142556758796546546 vezes, fora as outras 324325266567 vezes? Pois. A verdade é que a voz está mais límpida que aquela que nos acostumámos a ouvir. Quase que parece que a muralha instrumental soa mais "baixa" que a voz, o que não deixa de ser estranho. Não perde o encanto, mas talvez tenha sido um bocadinho forçada a inclusão do tema no disco. Ela está relacionada com o objecto, mas não deixa de soar distante face aos outros temas aqui colocados. De qualquer forma aquele poderio instrumental lá continua e isso não se pode perder de vista . e ainda bem.
"A severa..." é quase épica. Pesada, calma, agressiva,progressiva, experimental, esquizofrénica, frenética. Quase tudo o que se ouve no álbum está aqui. termina de modo agreste e com distorções, e é assim que se consegue perceber que os linda martini estão aqui para as curvas.
Porque estão mesmo. Todos os temas são muito bons, a panafernália sonora da banda continua intacta, e não se pode dizer de modo algum, que tenha feito mal à banda de queluz,a passagem para longa-duração. Simplesmente são uma banda que começou pequenina e que, devido tanto à sua originalidade como ao esforço e dedicação, arranjou-se para o seu lugar ao sol. Hélio continua absolutamente louco na bateria, as guitarras continuam a estalar...a voz de André soa na perfeição numa banda que nunca privilegiou a voz( e quem critica linda martini a partir deste ponto devia ter isso em mente).
Os linda martini são grandes. Melhor que tudo, continuarão a sê-lo. Que este disco sirva para poderem granjear mais ouvintes. Sim, porque para o resto(aquela coisa da qualidade, e de inventividade, e de excelência, já para não falar em estar no topo em listas de final de ano) eles já nem precisam de se esforçar mais. O som já é único, e o disco igualmente. Ainda por cima é mesmo bom caraças.
9/10
7 Comments:
Eu também acho que o Olhos de Mongol está espectacular. Oiço-o todos os dias...
Longa vida aos Linda Martini! =]
para mim consegue ser a obra prima, e se existirem os 10melhores discos de sempre, e os 10 melhores concertos de sempre...os linda martini em 10º ou em 1º tem de estar.
porque a viagem que nos dão ao longo de todo o cd...
disco do ano nacional!
a voz de André soa na perfeição numa banda que nunca privilegiou a voz( e quem critica linda martini a partir deste ponto devia ter isso em mente... tenho isso em mente... cont a preferir o instrumental
fico à espera de ver até onde os linda martini conseguem voar... bem alto espero!
muito bom.
LINDA MARTINI no FESTIVAL 7 ROCK, em Setúbal. Encerramento do Mês da Juventude. Final do 3º Concurso de Bandas de Garagem de Setúbal. Sábado, 31 de Março, às 22h00, na Capricho Setubalense (Largo da Misericórdia). A Não Perder!
Linda martini é original, quer dizer se conhecermos Sonic Youth ou até Mogwai deixa de o ser...
São portugueses e isso é bom... acho que é de tudo o mais importante..
Porque letras...n vale a pena comentar...
Musicalidade, vira o disco toca o mesmo. 3 guitarras a tocarem a mesma coisa durante 3 minutos, 1 minuto a rasgar com a bateria a malhar toda hardcore, e de novo 3 minutos com a mesma coisa mais calma...
Há boa música. Há boa música Portuguesa. É pena não sermos muitos a destingui-la... a ouvi-la.
...é não perder linda martini em Paredes, que este ano tem um excelente cartaz.
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