Friday, December 14, 2007

"Paranoid park" de Gus Van sant



Van Sant é um realizador que sempre procurou os jovens. Isto parece frase pedófila à laia de qualquer fio novelesco(e obviamente abominável) da casa pia, mas não deixa de ter um fundo de verdade. No seu cinema, seja em "finding forrester", elephant", "good will hunting", ou mesmo "my own private idaho" (filme que nunca mirei) possuem essa temática. "Paranoid park" é simplesmente o seu mais recente filme sobre uma geração que, segundo ele, parece sempre a mesma.

Porque se calhar até é. Em "elephant" vemos jovens sem referências a circular por uma escola, mas sem expressões faciais, ou outras, muito aparentes (como se fosse assim em todo lado, numa espécie de causa de normalidade), em "good will hunting" um tipo que tinha um dom fabuloso, mas que nunca tinha feito nada da vida, nem aspirava a isso - teve a ajuda de robin williams. Mesmo em "finding forrester" quando existia talento e alguém com vontade de lhe dar a mão, aparecia alguém que simplesmente o deitava abaixo por ver um talento de uma zona pobre da cidade.
Van Sant, sempre viu gente perdida em todo o lado. a diferença é que anteriormente, existiam guias para essa busca (robin williams e sean connery) e agora há trapézios sem rede, à espera do primeiro repelão para se revelarem.

"Paranoid park" é sobre um puto skater sem um talento inato para a coisa, mas que decide ir ao parque dito como o mais perigoso da cidade (que dá nome ao filme) e que foi criado inteiramente por jovens da rua. aliás as sequências de skate são muito bem filmadas,e com uma câmara de super 8 , muito bem conseguidas. Conhece um tipo mais velho e vai dar uma volta de comboio com esse mesmo tipo - até que surge um segurança das linhas, e ele mata-o acidentalmente.

Isto é a linha base do filme. no entanto van sant tem um trunfo inquestionável: a completa inexpressividade do rapaz que comete o delito. Nunca em todo o filme nós vemos Alex a sorrir, ou zangado, ou...com qualquer expressão. Encara quase tudo com extrema passividade, até mesmo quando vê o homem que matou a olhar-lhe nos olhos, ainda vivo. Não sabemos portanto como ele é. Sabemos sim que o meio dele não é o melhor do mundo - mas ele próprio diz que há quem viva pior. Aparentemente até parece ser um rapaz equilibrado: e isso é meio caminho para simpatizar-mos com ele, mesmo depois do acidente.

A forma em como o crime decorre, denota uma coisa interessantíssima: coloca-nos a nós todos a fazer aquilo. O que alex fez não foi mais que empurrar o guarda para a linha, mas tendo o azar absoluto de passar um comboio naquele mesmo instante. E depois daquilo notamos um complexo de culpa, que não está nos olhos dele, mas sim sobretudo no mote de todo o filme: na sua motivação em escrever. Alex parece ser o espelho de uma geração que não sabe como reagir a uma adversidade...nem a nada aliás. Simplesmente vai circulando pelos seus poisos habituais sem despoletar grandes reacções, como se de um vagabundo da vida se tratasse.

E para van sant a geração vindoura é mesmo isso: um mar de referências perdidas,porque ninguém aposta nessa mesma geração. Está tudo tão preocupado com o seu próprio umbigo que se esquecem que existem jovens com espírito de iniciativa (foram eles que criaram o paranoid parl, mas que pouco podem fazer para além disso, nestas circunstâncias. Mesmo aqueles tipos que nos surgem como perfeitamente normais e integrados na sociedade. Como Alex.

"Paranoid park" é um filme sobre os jovens. Sobre nós todos e na nossa passividade em aceitar tudo, sem reagir a quase nada. Alex é mais um miúdo sem saber bem quem é, a quem aconteceu um grande azar. E mesmo assim ele não se encontrou. Juventude perdida? Ou juventudo que, se for ajudada, pode dar frutos? Van sant aposta claramente na segunda hipótese, com um filme realista, belo muitas vezes, mas sobretudo activo através da passividade de quem habita nele.

8/10

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