Tuesday, February 19, 2008

Nada surf - lucky (2008)




Toda a gente conhece "popular" o mui razoável hino de geekalhada feita a meio dos noventas. "Popular" foi, a par de temas como "buddy holly" dos weezer, a antítese perfeita da rebeldia grunge que pairou na altura (embora o disco "high/low" que o continha seja de 1996). A verdade é que os nada surf foram considerados como mais um "one hit wonder" arrumado na gaveta, e não conseguiram ganhar volume de vendas suficiente para ultrapassar a questão, como fizeram os weezer (embora presuma que o homónimo do cuomo e resto do povo seja francamente superior à estreia dos nada surf, que não ouvi).

Pesquisas rápidas pela intermete (allmusic.com e quejandos) mostram porém que a b anda se tornou num culto bastante considerável por esse mundo fora. a sua pop foi remendada com afinco, e os nada surf acabaram por ser mais uma banda de deleite de uma imensa minoria. "Lucky" é o quinto disco de originais de uma banda que tem sido muito bem vista pela crítica, não atingindo um reconhecimento em mais larga escala...nem sei porquê.
"Lucky" tem o autêntico rótulo de "disco de canções". Todas de uma linguagem extremamente pop, alguns pózinhos de batidas mais indie, mas sobretudo uma uniformidade que percorre o álbum todo. Canções suaves, leves, com um ou outro rasgo um tudo nada mais agressivo, pretensiosas q.b., mas sobretudo fascinantes pela sua tocante simplicidade.

È assim que "see these bones" nos cativa. Ou "whose authority", que contém um refrão um bocadito mais agressivo. Ou a grande "beautiful beat" que é desde já a melhor canção pop do ano, com um refrão cola-cola, que merece muito mais do que meia dúzia de gatos pingados que a vão ouvir. Ou a toada quase country de "here goes something",o magnetismo um pouco mais épico de "weightless" ou o quase sussurro de "The film did not go round" que fecha o disco.

"Lucky" é um emaranhado coeso como tudo de canções intemporais, feitas com carinho e estima, cuidado e amor. Este disco merece o prémio "bolinhos da avó": aqueles bolinhos que as nossas avós nos faziam com o maior esmero familar do mundo, prontas a agradar aos nossos críticos e honestos paladares. "Lucky" é um disco primaveril, relativamente solarengo, que consegue apesar de tudo cair bem nesta altura. Mas mais que isso, é mais um disco que tanto pode ser ouvido agora como daqui a vinte anos, que actualidade não perderá.

E que mais gente redescubra os nada surf...pérolas pop destas não há aos pontapés, e os tempos da grande "popular" (sim, é um tema do caraças) saíram fora através do crescimento destes tipos. E xi, como estão eles crescidos.

9/10

Tomem lá "beautiful beat"..e deleitem-se.

Tuesday, February 12, 2008

Gone baby gone de Ben Affleck



Já muito se falou com os paralelismos deste filme para com a vida real, no caso deste nosso rectângulozinho, a maddie e a esmeralda. Aliás, acredito eu que muita gente vai ao engano mirá-lo à pala destes dois casos, que deram à verdadeira estreia de ben affleck na realização (li no imdb que ele já tinha feito uma coisa qualquer esquisita para a disney há uns anos) um circo nas revistas da treta que temos por aí.

Sim, o filme centra-se numa menina que desaparece. E há um tipo detective(casey affleck, o irmão de ben pois claro) que é contratado pela tia da miúda, para a encontrar. Até aqui tudo bem: ele e a mulher (simpática silhueta feminina a de michelle monaghan) andam por aí à procura da miúda, aproveitando os contactos que a personagem de casey (sim já não me lembro do nome dele no filme) tem no submundo de boston.

Até aqui tudo bem: mas vamos a ver a mãe da miúda e aparece uma junkie que nada tem a ver com a sobriedade de kate mccann. a miúda, amanda, vivia num relativo degredo, e a mãe não parecia ter condições de gente para poder dar o minimamente decente à menina. Daí a suspeitar-se de um casal drogado com um filho pedófilo é um passo. e uma das cenas mais intensas do filme é precisamente a incursão do nosso amigo detective naquele antro sujo e porco, tão bem filmado e idealizado por ben affleck. Não há dúvidas: uma realização tão surpreendentemente sóbria como esta, recheada de personalidade (com um ou outro rasgo de sentimentlismo pelo meio, mas nada que diminua a película) é talvez a maior surpresa do filme.

"Gone baby gone", avança bem enquanto investigação sobre a miúda desaparecida. Mas é quando os dados se invertem, e a história se torna num terreno dilema moral que ela ganha contornos de grande obra, e se trancesnde. Surpreendendo-nos sim. Afinal o melhor é fazer o que está realmente certo, ou aquilo que será melhor? Como é que a nossa cabeça consegue convergir quando dois pensamentos tão fortes como estes aparecem em rota de colisão? e como aguentar o resto da vida a pensar se se fez ou não a escolha certa? "Gone baby gone" é um filme sobre a maneira em como todos nós podemos escrever direito por linhas tortas. Mas em que essas linhas tortas, podem não ser o mais correcto.

E a personagem do detective vive sempre dentro desta linha. Seja na incursão pela casa dos pedófilos adentro, seja quando ameaça um dos mânfios de oston, seja já na parte final do filme, quando tudo aparece como algo realmente novo. Esta estreia de affleck tem drama, tragédia, dilemas morais, acção, degradação, e tem sobretudo uma forma muito contemporânea de encarar os nossos maiores problemas. È um verdadeiro filme de novo milénio, e é uma obra surpreendente. Se houver muita gente atraída às salas pelos casos da maddie e da esmeralda, ao menos temos a plena garantia de que vão ver muito bom cinema. Um filme surpreendente que merece inteiríssimo destaque.

9/10