Wednesday, March 29, 2006

BLIND CHARGE- Novas datas

Os blind charge, banda de rock proveniente do Porto, mandou um mail para este humilde marco do correio, com novas datas de concertos. Aqui estão elas, e aproveito para voltar a dizer que, podem usar o correio do blog sempre que quiserem publicitar datas de concertos.

Não percam mesmo os blind charge que, para além de terem temas rock com bastante pujança, e com uma boa sensibilidade pop, também sabem dar bons concertos. Vidno do raio duma testemunha fidedigna(que sou eu clairement....)

Saturday, March 25, 2006

VINTAGE: At the drive in- Relationship of command(2000)



Seattle, 1991. Um rapazote com cabelo louro um tudo nada grande, calças rasgadas, dependente de drogas, cujos ouvidos se ocupavam de coisas como mudhoney, melvins ou screaming trees arranjou-se para fazer um disco com a sua bandola lá do sítio, depois de um primeiro em 1989 que tinha prometido muita coisa, mas não canonizado aquele conjunto local. Arranjaram uma piscina, um puto e uma nota de dólar. Fizeram uma capa toda bonita, uns 12 temas, e editaram aquilo a pensar que ia ser um conjunto de temas simpático e engraçadote.

Sim acertaram: tal como o nome da crítica indica, o objecto aqui analisado não é "nevermind"dos nirvana, um disco que, para mim é precisamente aquilo que tanto kurt como novoselic e grohl pensavam dele: simpático mas só isso. Mas enfim, lá se tornou a grande obra do ano, quiçá da década para algumas pessoas, influenciou toda uma geração que ficou orfã de um homem como cobain, cuja morte prematura intensificou ainda mais esse mesmo mito.
Mas agora a pergunta: "Ah e tal, mas afinal o que é que raio tem a ver o disco dos nirvana com este relationship of command?", e eu respondo: cambada de burros.

Cambada de burros, porque este terceiro, e último disco dos At the drive in, é precisamente igual àquilo que os nirvana fizeram em 91: estávamos na altura do quase falecimento de toda a onda mais electrónica da pop, da quase extinção do hair metal e do glam. No fundo passou-se de lantejoulas a camisolas de flanela. De calças de couro a jeans rasgados. De discotecas cheias de brilhantina, a clubes cheios de ganza.
E "relationship of command", em certa medida, operou precisamente esta mudança. Porquê? Porque, no fim dos anos 90, início de 2000 estávamos precisamente no começo da moribundice do nu-metal, com uma limitação, cada vez maior, de ideias novas, de novos caminhos, de uma alternativa aos trilhos que estavam a ser seguidos. A fonte secou, o filão parecia extinguir-se, o que veio a acontecer.

E nisto surge uma banda, que já tinha feito dois discos, vinda dos confins do texas a apresentar este "relationship of command", produzido pelo famosíssimo guru-produtor Ross Robinson(que só prova que este homem preveu claramente o fim do nu-metal), que veio deconstruir toda a cena musical até então. Com uma abordagem ao rock de uma forma intensa, decorrente dos portentosos riffs de guitarra, como das vozes tanto raivosas como melódicas de Cedric Bixler.
Mas o melhor mesmo do disco é a enorme capacidade de criar temas de enorme envergadura, no sentido de serem autênticas bombas musicais. temas corrosivos, de um rock frenético, recheado de pequenos pormenores técnicos: muitas vezes simples, outras vezes de extrema complexidade.

E, curiosamente, no meio de tudo isso existem alguns refrões catchy, temas altamente radio-friendly, misturadas no real experimentalismo e intensidade sonoras da própria banda. O que os At the drive in fazem é juntar o rock mais pesado, com boas melodias, uma voz raivosa e leve ao mesmo tempo, mais alguns refrões memoráveis (ouçam lá o de "one armed scissor"). E ainda temas onde até surge piano, como em "Non-Zero possibility", ou o frenesim, de onde parecem emanar programações, como é "Enfilade".

Foi, por tudo isto, um disco que cortou com o passado: aqui não há laivos de hip-hop, temas dicotómicos entre géneros, ou fugas ao género emanado pela banda. No entanto, "relationship of command" pega numa enorme quantidade de elementos de outras fontes sonoras, que junta ao rock pesado, e perfaz uma salada sonora bem apetecível, acabando por criar um tipo de som totalmente diferente, de tão díspar que o grupo estava daquilo que era feito na altura.

e daí ter falado no "nevermind": outro disco que, segundo muita gente, cortou com o que existia na altura, dando-lhe uma roupagem e abordagens novas. Os at the drive in esqueceram o passado, e no futuro só viam um conjunto de artefactos sonoros que prontamente adaptaram. Kurt cobain morreu em 1994, e os at the drive in acabaram pouco tempo depois de terem lançado este álbum. em ambos os casos existiu uma continuidade musical: os nirvana com grohl nos foo fighers, os at the drive in com os sparta e mars volta.

Mas, se "Nevermind" era um disco muito limitado estilisticamente, e que foi extremamente sobrevalorizado, por todo o hype que conseguiu criar, já "Relationship of command" é uma obra de arte daquelas que se encontram muito dificilmente. Mas não deixa de ser um marco autêntico na mais recente história da música, pela sua complexidade tanto a nível musical, como a níel de catalogação dentro do rock, bem como uma boa súmula para algumas bandas que vieram a seguir: por exemplo ninguém me tira da cabeça que algumas bandas relacionadas com o emocore não vieram a estes caminhos beber algumas influências. De qualquer forma não é um disco que salta fora do seu género, no que diz respeito a reconhecimento. E se, por um lado isso é injusto para o disco, por outro podemos apreciar com a maior das intimidades e dos prazeres, um álbum que tem tanto de fantástico, como de completo, contagiante e original. Um marco.


9/10

Friday, March 17, 2006

A HISTORY OF VIOLENCE( David cronenberg 2006)



Falar sobre um filme destes é difícil. Falar sobre a hora e meia de projecção é tarefa de complicada índole, sobretudo pelo facto das imagens ainda estarem demasiado apegadas à memória. E estive eu muito tempo a reflectir sobre que princípio de crítica é que poderia dar a um filme destes, para agora nada me sair condignamente. Porquê? Precisamente porque poderia ter pegado em tantos ângulos, em tantos pontos da história que agora tudo isso me parece demasiado inusitado e denunciado, para iniciar uma reflexão condigna sobre este filme.

Antes de mais nada esclarecer o povo leitor fica sempre bem: é de reparar que este filme se chama "a history of violence". sim, eu sei, toda a gente sabe o título do filme só um cromo como eu é que tem a estupidez em estar a escrevê-lo outra vez, no entanto não confundir "history" com "story" porque em português só usamos a palavra "história". Ora é "história" no sentido lato que aqui se fala. Sim aquela história do D. Afonso Henriques que deu cabo dos mouros todos, e depois foi coroado rei. História enquanto rasto, enquanto algo que já se passou mas que existiu. E nunca enquanto "ah e tal puto do meu coração, agora vais dormir e vou-te contar a história dos 3 porquinhos para adormeceres melhor". Pronto, acho que já se percebeu a ideia.

Agora indo à breve súmula dos acontecimentos: Tom Stall(viggo mortensen) é um pacato dono de um restaurante numa qualquer terra americana, perdida entre uns quantos montes. Pessoa normal tem uma mulher, dois filhos, uma vida estabilizada naquele recanto do globo onde não se passa nada. Não se passa nada...Até o homem se tornar num herói quando mata 2 homens que tentavam assaltar o seu restaurante. A partir daí, nesse momento chave, tudo parece sofrer uma enorme transfiguração. È quando aparece outro homem, Carl Fogarty(ed harris), que começa a ameaçar Tom dizendo que ele não é Tom Stall, mas sim Joey Cusack, um assassino profissional nascido em Philadelphia.
Se ele é ou não um assassino....Essa não é,de longe a questão fulcral do filme. Aliás a minha vontade era difundi-lo desde já, se não fosse o facto de poder existir gente que era capaz de ter vontade de me tar um tiro na cabeça...como algumas das personagens de "A History of Violence" levam.

Porque a questão fundamental que o filme levanta, é se nós somos quem dizemos ser. è se nós não pudemos mudar, se não pudemos ser alguém diferente daquilo que costumamos parecer, muito por causa das nossas acções. e não vão ser nomes, ou troca de identidades, ou novos rumos que nos impedirão de, mais tarde ou mais cedo, sermos confrontados com a nossa própria realidade, nomeadamente a passada: a tal história que todos nós temos.E é disto que fala toda a película, que compõe uma história nunca dando mais nada ao espectador do que essa mesma história. As flores estão escolhidas, o espectador que componha o ramalhete. Tom Stall parece um homem simples. a sua mulher e os seus filhos também. Mas também eles se transformam: a mulher, na primeira cena de sexo do filme, quando aparece vestida de cheerleader, e o seu filho mais velho quando agride um colega de escola que o andava já a provocar há muito tempo. È precisamente essa transformação de caracteres que aqui ocorre, porque se o nosso passado pode dizer muito sobre nós mesmos, também o presente pode: e também nos podemos transfigurar, desde que saibamos sempre que o mais provável é tudo voltar a ser como dantes.

Esta breve e parca reflexão sobre o filme pouco indica se eu realmente gostei de "A history of violence" ou não. Meus amigos: é absolutamente genial. Genial porque consegue retratar numa história simples todas as emoções, mudanças de personalidade,reacções humanas. Porque cronenberg é fantástico a realizar toda a trama, com um excelente contraste de sombras em certos diálogos (vide no campo contra campo entre tom e fogarty, onde uma das faces de cada personagem surge iluminada pela luz, e a outra permanece na sombra). Genial porque os actores conseguem dar a dose correcta de dramatismo e força a cada uma das personagens. Mas, sobretudo, porque nos fica a remoer o espírito durante a hora seguinte. Porque não nos larga, porque retemos as imagens mais fortes, os diálogos mais subtis, as suspeições mais concretas. È como um espigão que nos entra, nos dói, e que custa a sair.

"A history of violence" é bem capaz de ser um dos filmes mais simples de cronenberg. comparado com os complexos "videodrome" ou "spider", é mesmo uma simples brincadeira de crianças entendê-lo. No entanto é, à sua maneira um filme muito violento. Fisicamente tem algumas cenas mais explícitas, no entanto a violência do filme é expressa em toda a atmosfera pesada que o filme carrega, coadjuvado pela oportuna banda sonora. só por isso mereceria uma especial menção.

No entanto as questões que o filme coloca são igualmente pertinentes, e estão-nos sempre a acontecer. Não chegando ao ponto de Tom, mas quantas vezes não nos surpreendemos a efectuarmos determinada acção? E será que não existe tanta gente com um passado oculto? As pessoas não merecrão uma segunda oportunidade?
Tudo isto épertinente. E tudo isto está bem patente em "Uma história de violência". Um filme com um bom princípio, um surpreendente meio, e um fabuloso fim. Mais que obrigatório, é um daqueles filmes que, nem que estejam a morrer à fome, têm que ir ver. Depois tentem ir arrumar carros, ou lavar vidros para a rotunda do relógio. Mas perder "Uma história de violência"? Nunca. Fabuloso, e acabou a conversa.

10/10

Saturday, March 11, 2006

MUDANÇA DE VISUAL(porque um gajo não pode andar tipo palas como os burros...ou se calhar até era melhor)

Bem, como se pode ver, o blog sofreu uma mudança estética. De vez em quando também é preciso mudar, é o que se costuma dizer. Pois. Mas não tive grande vontade de o fazer, o problema é que a antiga skin do blog começou-me a dar problemas e não fui capaz de os resolver. Tive de levar o blog à faca, tirar-lhe a skin antiga para agora colocar outra que, sendo diferente, pelo menos não é das mais costumeiras. E fica assim decretada a mudança, sabendo que o conteúdo, por mais mau e mete nojo que possa ser, continua o mesmo. Pois, se achavam que eu ia melhorar alguma coisa, tirem daí o nariz que a mudança é mesmo só visual. Já estou a ver algumas caras de choro, mas um gajo quando é teimoso...é teimoso. ainda assim espero que gostem da mudança.

(ah sim ainda não consegui foi pôr os cd's do que estou a ouvir, ali em cima...a ver se regulo isso o mais brevemente possível)

Friday, March 10, 2006

Good night and good luck(George clooney 2006)



Uma verdade. A busca por essa verdade.As represálias por essa busca. Um grupo de pessoas afoitas em descobrir tudo. Sem medos. Sem receios. e tudo isto personificado na figura de um homem, que dá a cara pela verdade.
È assim "good night and good luck", segundo filme de george clooney, depois de "confessions of a dangerous mind". O mccarthismo(se estiver errado...bah) é aqui exposto, pela busca incessante de factos reais, por parte de um programa de televisão da CBS: "See it now". E é toda essa busca que o filme acompanha, nunca saindo de um certo isolamento espacial, onde tudo gira num estúdio de televisão, sem grandes referências, para lá desse espaço.

Edward G. Murrow, é o nome que personifica essa mesma busca: é o pivot daquele programa que visa mostrar factos reais, explicá-los, denunciando todos os errantes que merecem ser denunciados. È dentro deste contexto que o senador mccarthy é exposto, com um programa que criticou abertamente toda a sua política de perseguição, e que nunca foi um cordeiro àvido de agradar ao seu pastor.
E o que clooney filma é precisamente o modus operandi desse mesmo programa: as suas fontes, as suas discussões sobre o que é que se há de falar no programa seguinte, as limitações que muitas vezes são impostas pelo exterior, os avisos da censura imposta por mccarthy, a falta de vontade do director da estação naquela procura.

"Good night and good luck" é por isso um filme que se baseia fundamentalmente num acontecimento: e que conta a história de como foi possível destronar o senador mccarthy, através de sólido e rigoroso jornalismo de investigação. È um filme que explica os meandros desse mesmo jornalismo, a forma de como todos os intervenientes chegam a todos os factos que são depois divulgados em grande estilo atavés de David Strathairn, o actor que faz de Murrow.
E é precisamente em toda a performance de Strathairn que todo o filme ganha uma grande vitalidade: Strathairn parece o nome mais adequado para o papel, onde impõe um estilo e uma imagem enormes, especialmente aquando das transmissões do programa. Ele é o elo perfeito entre a informação que é ali recolhida, e todo o público. E é a ele que o senador mccarthy se vai virar, para responder a todas as acusações que o programa tinha feito.

Essa aparição do senador a responder a Murrow, é outro dos elementos mais curiosos do filme: O senador surge através de imaens de arquivo, e não personificado por um qualquer actor. aliás todos os processos que o programa divulga, são igualmente colocados via arquivo, bem como a deliciosa publicidade, ou até a transmissão de outros programas. E ali a televisão é a arma principal, aquela que está sempre presente, o ecrã que acompanha o movimento das personagens, qual 1984 se tratasse. Estas imagens de arquivo dão um ar mais credível ao filme, e apresentam uma grande justificação para o facto deste ser totalmente a preto e branco.

Mas talvez aquilo que me surge como mais relevante é toda a realização de clooney. Talvez derivado do facto de ser actor, clooney demonstra uma perfeita visão do bom funcionamento da câmara, sobretudo no que diz respeito às movimentações dos actores. Ela segue os seus movimentos de uma forma precisa, muitas vezes acompanhando-os frontalmente ou pelas costas, nunca deixando espaço para que elas desapareçam. Por outro lado, alguns planos de conjunto quando a redacção é mostrada, são igualmente de extrema beleza, bem como os momentos musicais do filme, pela forma delicada com o orealizador filma o jazz que é debitado nos estúdios ali mesmo ao pé da televisão. Clooney efectuou mesmo um grande trabalho de realização, na minha opinião, mais que merecedor de um óscar.
Ainda relevante é toda a fotografia do filme, o fantástico trabalho do claro/escuro, os jogos de sombras, que serviam para tornar ainda mais claustrofóbico todo o ambiente que ali se vive. O preto e branco, conjugando-se com as imagens de arquivo, acaba por tomar uma nota delicada à imagem cinematográfica, mas igualmente um ambiente mais sóbrio que nos dá uma visão sobre o que se passa, e nunca uma real integração das pessoas na narrativa.

E, provavelmente, a própria narrativa é o maior problema do filme. tenho em mim que, o filme não possui uma narrativa totalmente coerente em todos os seus momentos: o problema não será da narrativa propriamente dita mas, fundamentalmente, a própeia caracterização das personagens, que não permite que a narrativa evolua mais do que da própria investigação jornalística, onde sempre se encontra presa. claro que todo o âmbito da caça às bruxas, dá azo a várias interpretações, no entanto não me parece que seja esse o objectivo de "good night and good luck". Aliás, parece-me que clooney tentou, acima de tudo, mostrar como é que os jornalistas podem ser protagonistas, nunca fugindo da veracidade dos factos, nunca tentado que a história se transcendesse a mais que isso. filme limitado? Jamais. È genial na forma em como aborda os problemas jornalísticos, tem strathairn em grande forma, uma fenomenal realização, e uma narrativa credível e coerente.

Clooney conseguiu fazer precisamente aquilo que queria. E conseguiu-o em grande estilo. Se eu achei que ele podia ter feito um bocadinho mais? Sim. Mas isso não apaga toda a genialidade do filme, onde existem heróis, um vilão, e factos indesmentíveis. Um filme que acertou na mouche, mereceu mais que o 0 dos óscares e merece uma visão exaustiva. Uma vez não chega.

8/10

Friday, March 03, 2006

Mogwai-Mr beast(2006)




Os mogwai têm uma curiosa base de fãs: ela vai desde ao pessoal "eu sou bué alternativo-com o patrocínio antena3"(atenção que eu conheço gente assim, de quem gosto logo isto não tem qualquer carácter pejorativo), que elegeu claramente como discos do ano de 2005, álbuns que estarão entre uns arcade fire(sim o "funeral" é de 2004 eu sei, eu sei), passando pelos animal collective,kasabian ou kaiser chiefs, e que se rege por uma bitola popeira, que pode incluir uns laivos electrónicos pelo meio. 70% da população musicalmente bloggeira está claro. Por outro lado, alcançam igualmente alguns adeptos de sonoridades relacionadas com o pós-doom, que vai beber muitas influências a toda a onda post rock. Bandas como isis, pelican ou mesmo cult of luna, não negam a toada post-rock nas suas canções: nem o podem fazer.
Mas o mais curioso ainda é que os mogwai são como que dos poucos grupos de post rock que têm esta tamanha heterogeneidade de população auditiva. Talvez por serem, hoje em dia, um dos maiores nomes do género, reputação essa cimentada com discos como "Come on die young", ou o mais recente "Happy songs for happy people".

"Mr Beast" é então a mais nova aposta sonora do conjunto escocês. Desde já, o álbum parece mais pesado, mais rockeiro que o anterior. Tem igualmente um maior predomínio vocal, e transforma também os ambientes para uma atmosfera menos electrónica e mais..digamos que "espacial", através de algumas trepidantes guitarras, como no caso de "travel is dangerous". Por outro lado continua-se a assistir a uma óbvia importância de teclados, sempre presente na sonoridade da banda, e que volta aqui a pautar alguns temas dando-lhes, mais que adornos estéticos, vida.
È por isso um disco mais pesado que "happy songs for happy people": parece-me igualmente um álbum mais envolvente, onde o ouvinte denota uma maior interactividade auditiva, onde os temas debitados pela banda, se sentem de uma forma bem mais intensa, bem mais visceral. Como se fizessem parte de nós.

È assim que se assiste à enorme beleza dos teclados de "auto rock" que é precisamente um dos mais vivos exemplos, dessa vida exercida pelas teclas. Um tema que parece frio, com as teclas a surgirem distantes, e que vai mudando de face à medida que cresce, à medida que mais elementos são adicionados. "Auto rock" é por isso um exercício de órgão tremendamente bem executado, que nos carrega para uma viagem suave, mas que depois nos deita fora,ao ser adicionado mais um elemento electrónico que parece uma daquelas máquinas em demolição. Sim, isto parece estranho, mas é a sensação com que fica.

Já "Glasgow mega-snake", faz-nos lembrar alguns ambientes do pós-doom, pelo peso inerente ao tema. è, talvez, o tema mais pesado do disco, onde somos como joguetes numa espiral sonora que não nos deixa descansar. Talvez um dos temas mais pesados que eu ouvi nos mogwai, mas que se conjuga na perfeição em torno de todo o disco. E também temas como "Team handed", ou o belo e completo "Friend of the night" mostram a tendência de um disco uniforme, e que vai apostando em diferenes pontes e abordagens sonoras ao longo da sua duração.

No entanto "Mr beast" não é perfeito. Não é um disco maravilhoso, nem absurdamente extraordinário. A verdade é que, muito do que se ouve nesta rodela, já foi ouvido aqui e ali. Não é uma obra inovadora, nem vai mudar grandemente todo o percurso dos mogwai até aqui, simplesmente comporta-se como mais um disco entre outros. È por isso um simples ícone, com temas que não vão ficar marcados na história da música contemporânea.
No entanto...é honesto. brutalmente honesto. E um disco belíssimo, feito para ser sentido, tal como já tinha referenciado. Tem belíssimas melodias, peso muito bem quantificado, teclados que tanto são exuberantes como suaves. No fundo é como um daqueles discos que nós sabemos que não é fantástico, mas que vamos ouvir muitas e muitas vezes, ao longo dos dias. Até porque, sejamos honestos: ouvimos muito mais aqueles discos que achamos que são apenas bons, do que as magníficas obras de arte. È isto que "Mr beast" é: um bom álbum, com temas muito bonitos, sem grande relevência temporal é certo, mas envolvente. E esplendorosamente atraente ao ouvido.

7/10