Wednesday, September 28, 2005

Sigur rós-takk(2005)



Há uma diferença,que tanto pode ser mínima como abissal, entre discos perfeitos e discos simpáticos. Passo a explicar: No primeiro caso,trata-se de um disco que nos surpreende a cada nota,compasso,ritmo, seja o que for, debitados. Aquele tipo de discos que, quando o ouvimos especialmente pela primeira vez, ficamos de boca aberta sem conseguir esboçar qualquer reacção,dizendo apenas e só "isto é perfeito". Como se,naquele momento, toda a música que já tinha sido criada, nada mais fosse que poeira insignificante que rapidamente desapareceria, para dar lugar ao disco que estamos a ouvir.

Por outro lado, temos os discos simpáticos: Aqueles que não são perfeitos,que até podem ser medianos mas,por uma coisa ou outra, têm um espaço de carinho dentro de nós,mesmo que não o saibamos explicar. Ou então são simpáticos porque os consideramos belos, com temas bonitos,bem apresentados,com coisas que nos cativem. Mas não serão algo de surpreendente, apenas belo. O que já é muito.

Será que todo este paleio nos leva ao verdadeiro objecto desta crítica? Sem dúvida. "Takk"(que ,como muita gente já deve saber,significa "obrigado" em islandês) é o novo disco de originais de sigur rós, depois do fantástico "()", esse disco que não tinha nome, nem língua ("hopelandic" foi o termo criado para as vibrações vocais desse álbum), cuja música extravasava qualquer componente musical. Não era perfeito,mas tinha grandes momentos de brilhantismo.

Então e "takk"? "Takk" é um disco bastante diferente de "()": Enquanto que o segundo, tinha uma enorme componente marítima, este prefere relacionar-se mais harmoniosamente com a terra, o ar, toda a paisagem islandesa. Enquanto que "()" não tinha canções, dentro de uma determinada perspectiva do termo, "takk" tenta ter algumas. E,de facto temas como o maravilhoso "glosoli", que possui um ambiente fantástico,e consegue criar momentos intensíssimos, sobretudo no seu último terço, ou "hoppípola" cujo piano acarreta algo de maravilhoso. Até mesmo a faixa final "Heysatan", possui alguns elementos que a fazem caracterizar como canção, onde tanto a voz como o piano, criam uma atmosfera extremamente íntima.

Mas,é agora que a porca torce o rabo: Para além destes temas, "takk" apresenta variações ambientais constantes, onde imprime uma enorme beleza, mas onde lhes falta um certo golpe de asa para surgirem em grande plano,para se tornarem algo de verdadeiramente surpreendente. Dentro deste espectro, só "Gong" consegue de facto suplantar-se a si mesma, e tornar-se num belíssimo exercício sonoro, numa das faixas mais encantadoras do disco. O resto do disco, está muito longe de ser mau, ou mediano, bem pelo contrário: Surgem-nos ao ouvido melodias muito bonitas, sinceras, honestas,românticas. Mas são só isso. Não acarretam aquilo que falta para a perfeição: Não conseguem intensificar-se, as atmosferas acabam por ser demasiado desviantes de atenção sonora, isto a meu ver. E se isto é algo de muito positivo em certas alturas, deixa de o ser quando se pedia mais de uma banda que já deu tanto.

Às pessoas que acharam que "takk" é um disco perfeito: Não fiquem zangados comigo, compreendo perfeitamente as razões para que assim o tenham feito. Eu é que não considero que, quando um disco é muito bonito, seja imediatamente perfeito. Para mim, se não existe um patamar de intensidade maior, que me faça estar atento igualmente a todo o disco, então ele não pode ser perfeito. Também não acho que o disco seja um bloco uno e indivísivel, que o permita considerar totalmente coeso, como se de um tema só se tratasse.

Por isso "takk" é um disco honesto, com belas canções(como "hoppípola e "glosoli"), alguns bons momentos sonoros(como na grande "gong") ,mas que depois acaba por se perder em ambientes,belos é certo,mas algo inócuos. No entanto,não deixa de ser um disco simpático: Extremamente simpático, daqueles que ouvimos com um sorriso nos lábios sem ele se descolar. Porque o achamos bonito. Muito bonito. Mas ficamos tão envoltos nessa beleza, que podemos não ser capazes de analisar os dados mais friamente. È um disco bonito, simpático, cativante sim. Mas não é perfeito. Tanto melhor: Assim mais facilmente o apreciamos.
7/10

Tuesday, September 27, 2005

Norma jean- O'god the aftermath(2005)



Como começar uma review? Normalmente introduzindo um pouco a banda, falando da sua história(os norma jean surgiram em 1997 nos subúrbios de Atlanta EUA pois claro), podendo falar ou não nos seus elementos(sim sou um ignorante, não encontrei os nomes completos deles, e seria bonito alguém ajudar-me) e também referir a sua discografia anterior.

Neste caso, "O'god the aftermath" sucede a "Bless the Martyr and Kiss the Child" que foi editado em 2002. 3 anos passaram portanto, para que a banda voltasse aos escaparates. Também é importante referir que este é o primeiro disco da banda, numa multinacional. E se a conhecem,percebem perfeitamente quão estranho isto poderá soar.
Para já, e querendo dissipar todas as dúvidas, a resposta é sim. Sim, norma jean foi o nome de nascença de marilyn monroe. Porque é que a banda o adoptou? Boa pergunta, se alguém souber que o faça, comentando este post. Auxílios agradecem-se sempre.

Posto isto, e sabendo que muita gente não conhece a banda, considero necessário falar em géneros musicais, para esclarecer muitas dúvidas: Os norma jean são uma banda de hardcore. Percebem agora a estranheza em terem assinado pela emi? Fundem elementos mais virados para um noisecore(tenho em mim que eles bebem elementos sonoros a uns dillinger escape plean),até com alguns pós de metal e post-hardcore, mas nunca deixam de ser hardcore por causa disso.

Talvez por não terem uma sonoridade old-school, os norma jean conseguem destacar-se de seus pares. Cada tema seu é um experimentalismo sonoro,sempre duro e brutal é certo: Mas a sensação que fica quando ouvimos "O'god the aftermath" é a de que existiu um grande aprumo sonoro, na feitura do álbum.
O que é curioso, é que a uniformidade da banda, não fica nada beliscada com este conjunto de temas,alguns deles pequenos,concisos, acarretando por isso uma maior brutalidade concentrada, outros autênticos épicos de hardcore, quando nos apercebemos que o minuto quatro chega e a música é a mesma.Já para não falar de "disconnectkie" que possui,nada mais nada menos, que dez minutos. Nada de estranhar numa banda que tem um tema com um quarto de hora no seu primeiro álbum.
Por isso, se cada tema é um colosso de peso, onde a melodia muito raramente entra, também é verdade que os norma jean, não se ficaram por essa faceta do hardcore: Tanto o excelente "Bayonetwork" como o surpreendente "Liarsenic", têm excelentes partes melódicas, refrões num relativo acesso da palavra.

Entrando,definitivamente, no capítulo "canções" apergunta impõe-se: Será que este "O'god the aftermath" consegue proporcionar-nos mais que alguns momentos melódicos, para contrastar com o peso latente? Será que é necessário existirem momentos melódicos, para existir uma canção? E,a grande pergunta: Será que, para além daquilo que foi dito, um verdadeiro apreciador de hardcore poderá de facto dizer que os norma jean são uma lufada de ar fresco, dentro do espectro?


Já se falou aqui de "Bayonetwork", que aparece quase dentro de um formato single(Questão: liberdade da banda em criar um tema mais dentro de uma perspectiva padronizada, ou vontade da editora?acredito na primeira teoria), de "Liarsenic" um tema,de facto,fabuloso, com interlúdios melódicos muito bem construídos, para contrastar com toda a brutalidade que o tema acarreta,e também do maravilhoso exercício musical que é "Disconnectkie" e "Scientification". E o resto do álbum terá verdadeiras canções? Resposta: Tem. Porque não é necessário existir melodia para fazer uma canção. E a excelente "Absentimental" assim o prova,com excelentes riffs de guitarra e a voz de sempre do enorme vocalista da banda,bem como a grande abertura com "Murderotica".

Portanto só falta responder à pergunta-chave: Será este disco um colosso do hardcore, um enorme passo em frente como o foi o fabuloso "We are the romans" dos botch,outra clara influência dos norma jean? Será que o fã de hardcore vai considerar este disco como "genial"? Eu,pelo menos considero que "O'god the aftermath" é um álbum carregado de brutalidade,com alguns apontamentos melódicos que o deixam surpreendente para qualquer ouvinte. Não sei se genial, mas talvez brilhante. Se é um clássico? Foi editado este ano. È deixá-lo respirar e talvez o seja, quem sabe.

Por tudo isto, e muito mais, "O'god the aftermath" é um registo obrigatório entre qualquer apreciador de hardcore que tolere alguns apontamentos melódicos. Não sendo o meu género preferencial, confesso, o álbum cativa e surpreende tanto pela potência, como pela forma fabulosa em que essa mesma potência é representada.E,onde a escolha de editora nada teve a ver com o resultado final, que surge com todos os condimentos pesados de que os fãs da banda gostam. Ou seja, em vez de termos um bombom, temos uma bela bomba atómica entre mãos. Façam-na explodir, e todas as minhas palavras não serão mais que cinza. Aliás, elas pouco interessam quando há um disco tão bom para ser ouvido.

9/10

Saturday, September 24, 2005

HO CHI MINH

OS ILUMINADOS



Alentejanos de gema, os ho-chi-minh saíram da mente do vocalista skatro. O som que fazem perfila-se entre um metal mais electrónico, talvez na onda de uns static-x,mas a banda consegue ,desde já, ter canções muito próprias. Numa pequena, mas esclarecedora, entrevista o guitarrista Aresta falou-nos da génese da banda, do significado do nome do grupo, entre outros temas. A conferir imediatamente:

Como é que surgiram os ho-chi-minh?

Os Ho-Chi-Minh surgiram em 2001, quando o vocalista Skatro (ex-Blast) decidiu juntar umas quantas pessoas do panorama musical bejense para dar continuidade a umas ideias que tinha.


O vosso nome tem um cariz de marcadamente político(*), isto a meu entender.
Esse é o grande objectivo da vossa designação? Porque é que têm este nome?



O nome Ho-Chi-Minh foi-nos proposto por um amigo, ficou-nos no ouvido, e depois de algumas averiguações descobrimos que Ho-Chi-Minh significa "aquele que ilumina" em vietnamita. Acabámos por decidir usá-lo. Não tem nada de politica a nossa escolha.


Ainda um pouco dentro do âmbito da pergunta anterior, acham que a música pode, e deve, ser um veículo para ideias políticas?



Nós não a usamos com esse fim, mas também não censuramos quem usa.


Vocês provêm do Alentejo, mais concretamente de Beja. Como está o movimento musical por essas bandas?

Em relação a uns anos atrás está muito melhor. Surgiram várias bandas dentro do metal tais como Undercut e Rise Inside.as bandas tendem é a acabar,por esta zona, por falta de salas de ensaio ou material, mas acho que isso se estende ao país todo.


No vosso blog do myspace, e isto já há uns meses, decidiram perguntar ao povo que têm nos friends,a que bandas vocês soam.Isto foi algum rasgo irónico, uma curiosidade para tentarem perceber a que tipo de som as pessoas vos colavam, ou pura e simplesmente uma espécie de fuck you a todos os rótulos?È que, no meu entender,vocês de facto têm um som claramente diferente da maioria das bandas mais pesadas..


Foi mesmo para ver que rótulo as pessoas nos davam, pois nós dizemos que fazemos metal mas por vezes as pessoas não se contentam com isso.Basicamente foi uma maneira de inverter os papéis, e serem as pessoas a rotular-nos.

Já têm algum demo ou ep editados? Têm projectos já escalonados a esse
nível?



Temos uma demo com 4 temas ( podem fazer o download das musicas no nosso site: http://www.hcmband.net )que foi gravada em 2004, e saiu para o publico em Fevereiro de 2005. No final deste ano, estamos a pensar iniciar as gravações de mais uma demo.


A nível de concertos ao vivo, têm corrido bem? Conseguem arranjar concertos regularmente?



Têm corrido bem, e têm-nos ajudado a evoluir como músicos.A estrada é que faz uma banda evoluir em termos de presença em palco e também ao nível do conhececimento em relação a tudo o que rodeia o concerto em si, convivência com técnicos de som, de luz e organizadores.
Em relação a arranjar concertos não nos podemos queixar, e a Internet tem ajudado muito nesse aspecto.


Esta pergunta é um pouco mais subjectiva: Em que medida acham que a própria Internet vos ajudou a granjear mais público? Que pensam, igualmente, sobre toda a indústria da pirataria (porque honestamente já me parece mais uma indústria que outra coisa qualquer)?


A Internet tem um papel importantíssimo na nossa divulgação, através de sites como o myspace.com, purevolume.com, isound.com temos-nos dado a conhecer a algumas pessoas que ,sem a Internet, nunca teriam a oportunidade de nos ouvir.
Em relação à pirataria, acho que dá a conhecer muitas bandas que não aparecem nas playlist das rádios: Por outro lado, acho que é preciso educar as pessoas a comprarem o CD ou música, que gostaram de ouvir pirateada, pois o original é sempre melhor.

Têm algum objectivo mais específico a atingir enquanto banda?

Neste momento arranjar uma editora/distribuidora. E tocar, tocar, tocar.



fica bem

António Aresta

Ho-Chi-Minh


site oficial: http://www.hcmband.net


(*)nota: ho-chi-minh é a antiga saigão, que depois foi ocupada pelos vietnamitas do norte, que eram de facção comunista. Por outro lado ho-chi-minh, era igualmente o nome do fundador e presidente da república democrática do vietname(o antigo vietname do norte). Ou seja,a cidade de ho-chi-minh foi assim denominada como homenagem ao antigo presidente. Daí veio a pergunta relacionada com o significado do nome da banda. e está feito o esclarecimento.

Thursday, September 22, 2005

Death cab for cutie-Plans(2005)



Os death cab for cutie são daquele tipo de bandas de freguesia. Explico: São adorados por uns, desprezados por outros, e desconhecidos por quem não faz parte dessa freguesia. Ou seja, para quase toda a gente. Apesar de, nos estados unidos, até estarem bem cotados dentro de uma pop mais indie,como se pode ver pela inclusão de ,pelo menos um tema da banda, na série "the OC" que costuma(va) passar na rtp1, no resto do mundo são perfeitos desconhecidos.

De qualquer forma, eu faço parte dessa freguesia,se não era um bocado complicado conhecer este disco. Sucessor de "transantlanticism" de 2003,que também teve direito a uma crítica neste espaço, este "plans" constituía uma prova de fogo para a banda que, apesar de alguns ódios e desprezos, tinha granjeado muito boas críticas dentro da imprensa especializada.
Agora resta saber se a prova de fogo foi passada com sucesso. Se os death cab conseguiram colocar a sua pop melódica com laivos de emo, muito baseada na voz doce do vocalista ben gibbard,dentro de um patamar que lhes permita ter temas fortes o suficiente para efectuarem um disco, pelo menos, recomendável.

E que raio se pode dizer a um disco que começa com o delicioso "Marching bands of manhattan"? Com o ambiente maravilhoso que a música transmite, com aquela guitarra bem grave,a bateria simples mas metódica, a voz de gibbard a soar como mel para os nossos ouvidos, um refrão belo e tocante, mas especialmente toda a atmosfera que a música transmite. Triste mas bela. Muito bela.
Depois de uma crítica, quase literária ao maravilhoso primeiro tema(que é,possivelmente a canção do ano) o que vem a seguir? O contagiante "Soul meets body". que é o primeiro single do disco, e que se avizinha como uma das melhores canções pop feitas este ano. O refrão é do outro mundo, a batida da bateria(especialmente esta) e as fantásticas programações igualmente, e a canção tem tudo o que é preciso para um tema memorável.
Não querendo estar a particularizar cada tema debitado pelo grupo, falar do piano, que se transforma em mais um grande tema pop, com guitarras,e uma magnífica criação ambiental em "different names for the same thing" é algo obrigatório; Bem como falar da descontracção latente em "Crooked teeth", ou do maravilhoso tema que é "What sarah said" este sim totalmente envolto em piano, e na sua perfeita simbiose com toda a instrumentalização criada pela banda.

O que resta então dizer? Muita coisa: A verdade é que,se "transantlanticism" era um belo disco, mas um pouco desiquilibrado, este "plans" destaca-se pela fantástica coesão e homogeneidade em cada tema. Cada uma das faixas entrelaça-se perfeitamente na seguinte. Por outro lado, todo o disco é um bombom pop, misturado com influências de um mercado mais indie, e também a puxar um pouco ao emo. Se,neste novo disco, não existe um "The sound of settling" em "transantlancitism" também não existia um tema tão belo e tocante como "marchong bands of manhattan". E,onde "transantlanticism" era heterógeneo, este "plans" é unido,coeso e forte. e possui canções. Grandes canções.

Para quem tem a mania que a pop ,hoje em dia, só tem valor se misturada com algo mais electrónico(um gigante buuuu),ou passa apenas por bandas revivalistas(outro enorme buuu) que ouçam este "plans". E espero que fiquem com vontade de deitar essa discografia toda fora. Se ,ainda assim, se manterem indefectíveis, tudo bem: "plans" fica só para o povo da freguesia. Nós cá não nos importamos. Melhor: Podemos ter orgulho em dizer que uma das bandas mais geniais a escrever canções, é nossa. Toda nossa.

9/10

THE HELLSPIDERS

SEXO,DROGAS,ROCK N'ROLL...E ÁLCOOL



Quem são os hellspiders? Um grupo de gajos que curte gajas em trajes menores(quem não gosta?), alcóol,drogas,sempre apimentado com sexo e rambóia. Fazedo um hard rock sujo,vibrante,mas acima de tudo, descontraído e honesto, são com certeza uma bela aposta para quem quer ir beber uns copos, ouvir um som agradável, e deixar-se levar por temas como o mui sugestivo "horny fucking sluts" ou "Alcoholic".Se forem daqueles motoqueiros carecas que veneram motorhead, isto é para vocês. Se não forem, também é porque os hellspiders não passam despercebidos. Numa entrevista simples, mas divertida, ei-los em primeira pessoa.

Como é que surgiram os hellspiders?

Bem, nós todos já passámos por outras bandas, já passámos por problemas com drogas, com alcool, prisões, loucuras (risos).
Agora que deviamos tar mais calminhos... não estamos (risos). E assim nascem os Hellspiders.


Como foi o processo de composição e gravação de "motorcycle girl"?

Foi um processo muito sui generis... A bateria foi gravada numa hora nos estúdios Crossover, e o resto foi sendo gravado com calma no nosso estúdio caseiro, o estúdio Terraço do Inferno (risos).


Falando agora de influências, eu falaria por exemplo nuns motorhead. Acredito que não esteja longe da verdade...

É uma influência de facto, mas uma no meio de muitas. Poderá parecer mais saliente por causa da voz do Diabo (o vocalista) ser mais para o grave que para o agudo. Mas como já nos chamaram de Stoner, de Trash metal, de Rock'n'roll, e até de Hard Rock (risos), é sinal que não somos facilmente catalogáveis.


Consideram que, atendendo à capa da vossa primeira maquete, e a um título como "horny fucking sluts"( e aos seus gemidos no meio da música) possam existir pessoas que vos liguem a um imaginário machista? Como reagiriam se alguém os apelidasse como tal?

Bem, há pessoas estúpidas para tudo (risos). Quem só vê superficialmente, até nos pode achar uma girls band por causa da capa (risos). Mas isso será o mesmo que dizer que os Radiohead incentivam o crime e são cleptomaníacos com um álbum chamado "Hail to the thief".


Sendo, se calhar, um bocado preconceituoso: È verdade que este tipo de rock n' roll mais sujo, costuma estar sempre ligado ao universo motoqueiro? Ou vocês estão longe desta realidade?

Longe, longe não estamos (risos). Mas acho que, como é um som que agrada aos motoqueiros, acaba por haver essa associação. Mas eles também gostam daquele hard rock chunga (risos).


O que é que uma pessoa pode esperar de um concerto ao vivo dos hellspiders?


Boa musica, cerveja, e muita diversão. Às vezes também acontecem umas surpresas, mas isso só estando lá...

Acham que a máxima "sexo,drogras e rock n'roll" se aplica totalmente a vocês? Ou tirariam as drogas(já que o resto está mais que explícito na vossa música)?

É uma máxima tão bonita para quê tirar algo? Até se acrescentava era álcool...

Mudando radicalmente de assunto:Falando de uma forma geral, como analisam o actual estado da música portuguesa?

Muito mau (risos). Mas não vale a pena lamentarmo-nos, há é que arregaçar as mangas e trabalhar. Nós não somos de ficar sentados à espera que as coisas caiam do céu.

Já têm algo específico para fazer brevemente, ou a médio prazo?

Para já só concertos e mais concertos. Continuar a promover a banda.Estamos a preparar algumas surpresas, mas logo se verá...

Mais uma vez obrigado por tudo. fiquem bem e boa sorte para a banda []


João, obrigadão pela entrevista. Os nossos próximos concertos são:

24/09-Satori
30/09- Lótus bar
Se puderes aparece para beber um copo.

Um abração
Hellspiders


http://www.hellspiders.com

Wednesday, September 21, 2005

Cult of luna-Casa da música (17 de Setembro)



Falar no concerto dos cult of luna, é falar da sala fantástica que o acolheu: Claro que não é só isso que conta, nem sequer é o fundamental: Mas ainda assim a sala 2 da casa da música, é uma excelente sala de espectáculos. Pequena, com uma estrutura de bar, um palco que nos dá pela barriga, mas com umas condições sonoras fora de série. Por isso imaginem um bar com uma acústica de excepção, e com um conforto bem superior e uma arquitectura moderna e estão a ver a sala 2 da casa da música.

E agora a pergunta que muitos de vocês são capazes de se estar a fazer: "Afinal quem raio são os cult of luna, e porque é que uma banda que só meia dúzia de matrafões(esta palavra existe?) conhecem, tem direito a ir à casa da música?" Resposta: São uma das bandas mais geniais, dentro de um espectro mais pesado, no activo actualmente. Fazem parte de uma nova leva de bandas que, esquecendo todas as regras, decidiu criar um género novo,fresco e inovador, influenciado por doom-metal e até por uns certos laivos de post-rock(ou já estarei a inventar?). Bandas dentro desta corrente: Neurosis,isis,sunn o))), callisto,pelican. e ,claro cult of luna.

E vamos agora aos factos . Primeiro facto: Os cult of luna basearam a sua actuação no fantástico "salvation" como seria de esperar. Temas como "echoes" logo a abrir, passando pelo maravilhoso "White cell",o poderoso e intenso "Leave me here", "Vague illusions" ou ,para mim, o melhor tema dos cult of luna, o portentoso e absolutamente soberbo "Waiting for you" fizeram as delícias de todos os presentes. De referir igualmente que os cult of luna fizeram o primeiro encore da sua carreira: Tocaram "the watchtower", presente no seu segundo disco de originais ("salvation" é o terceiro) perante um público completamente rendido, e que também apresentaram dois inéditos numa veia um pouco mais suave, em relação aos seus anteriores trabalhos.



Mas será que apresentar uma set-list chega para falarmos de um concerto? Não, de modo algum. Por isso o segundo facto é de tão vital importância. Porque a entrega destes músicos, a paixão com que tocam, o sentimento que impera quando estão em palco, é algo que é notório. Eles sentem a sua música: Como qualquer fã da banda, lá estão eles de olhos fechados a criarem paisagens imaginárias. A fazerem um frenético headbanging, sentido cada vibração emanada. Pouco comunicaram é certo: Mas os cult of luna são um dos casos raros em que uma banda não precisa de comunicar com o seu público, pois a sua música fala tudo por si.

Quando cheguei à casa da música, pronto para ver o concerto, a minha expectativa era muito alta: Porque cada tema dos cult of luna é um hino à criatividade, à intensidade, à música no geral. com temas fabulosos como aqueles que a banda sueca tem, seria impossível não fazerem um grande concerto. Por isso seria "apenas" mostrar toda a genialidade dos temas da banda, e eu dar-me-ia por satisfeito. Talvez a minha necessidade fosse meramente ver aquela manta musical representada humanamente.



E tenho em dizer que foi mais que isso: Tanto pelo,já referido, sentimento que a banda deixou claramente transparecer em palco, como pelo facto de cada tema da banda,por mais longo que seja(os temas têm uma duração média de 10 minutos, mais coisa menos coisa), consiga claramente transformar-se para uma patamar superior àquilo que está em disco. Algo que parece impossível, mas não o foi. De todo.

Por isso ouvir "echoes" ao vivo transportou-me para outra dimensão: Ouvir "vague illusions" igualmente... ouvir "waiting for you" ao vivo é algo que dificilmente se esquecerá, porque é um tema absolutamente perfeito(infelizmente houve um desmaio na plateia no decorrer deste tema, que felizmente acabou por ser apenas e só isso) e de uma itensidade atroz. Se já é assim em disco, quanto mais ouvi-lo ao vivo, numa atmosfera itensa e de profunda simbiose entre público e banda.

Talvez esta crítica não seja a crítica ideal para criticar um concerto. Talvez devesse ter falado mais sobre cada tema, sobre a sonoridade da banda, e menos sobre a minha visão daquilo que são os cult of luna. Mas,sinceramente, definir um concerto que me vai dar um brilhozinho nos olhos, sempre que me lembrar dele, não precisa de muito mais. apenas de sentimento: E isso tanto público como banda tiveram mais que suficiente, para fazer daquele concerto algo inesquecível.

Notas finais: Para a simpatia dos seguranças(algo inédito). Muito boa gente devia aprender com eles. è verdade que os cult of luna não são propriamente uma banda para ter mosh-pit, ainda assim os seguranças foram de uma simpatia extrema, levando inclusivamente alguns presentes para o bacsktage, para falarem um pouco com a banda e levarem os respectivos autógrafos. Eu fui um dos sortudos.
De igual importância é dizer que os cult of luna são todos muito simpáticos: Agradeceram muito às pessoas que ali se deslocaram, especialmente aos de locais mais longíquos(como eu e algum povo de cascais que ali estava), e foram muito comunicativos. Assim é sempre bom ser-se fã de uma banda.



Que assim continuem: E que este espectáculo inesquecível tenha sido o primeiro de muitos, em Portugal. Assim o desejo.

As fotos são cortesia do 7words e do crestfall do fórumsons...eles não sabem que as fotos aqui estão,mas como são boas pessoas espero que sejam uns amores e não se importem.

Monday, September 19, 2005

THE VICIOUS FIVE

A TREPAR PAREDES



Os vicious five são rock n'roll. Daquele rock n'roll sujo e voraz que toda a gente gosta. Daquele que não tem contemplações, é rápido, balançado, forte. Daquele sexy, que faz lembrar um grupo de mulheres com dóceis curvas e meio desnudadas a vibrarem com a sonoridade praticada. Ou então já sou eu que ando em fantasias... Uma coisa é certa: È mais um projecto com membros que vieram do meio do hardcore, a darem cartas noutros terrenos. Com o, muito bom, ep de estreia "the electric chants of disenchanted", preparam-se para lançar "up on the walls",em princípio, ainda este mês.Está-se em crer que seja um dos melhores lançamentos nacionais,deste ano. È esperar para ver, entretanto aqui fica a entrevista com a banda:



Sei que é uma pergunta chata e monótona, mas como ainda têm uma formação recente eu pergunto: Como que as vossas cabeças de músicos chegaram aos vicious five? Que intenção era a vossa quando criaram a banda?

Éramos todos amigos desde há muito tempo. Alguns de nós já tinham tocado juntos em outras bandas. Foi com alguma naturalidade que a formação actual da banda se acabou por juntar. Acima de tudo somos amigos. Quisemos fazer uma banda que, para nós, fosse aliciante. Algo que nunca tivéssemos feito antes e que fosse, de certa forma, novidade. A intenção era mesmo fazer uma banda com pressupostos que nunca tinham estado por trás de nenhum dos nossos antigos projectos. Para além de querermos atingir outros públicos, quisemos experimentar outro tipo de sonoridades. Basicamente, foi isso.

Editaram um EP de nove temas, salvo erro, há dois anos. O que é que mudou, essencialmente a nível musical, desde esse tempo? Podem-se considerar as mesmas pessoas que eram há dois anos?

Oito temas! Nove era mais caro. A nossa música ficou mais lenta, mas manteve a integridade no que respeita à sua característica eléctrica. Agora temos mesmo canções e fazemos música que incentive a dançar. Sim, basicamente somos as mesmas pessoas... com a natural evolução que mais dois anos trazem a qualquer pessoa.


Indo um pouco de encontro pergunta anterior: Quais são as diferenças principais entre "The Electric Chants of the Disenchanted" e "Up on the walls"?


A grande diferença está numa consistência que não tínhamos. Agora há canções, e há uma alma que até hoje estava meio escondida, ou dissimulada digamos. Agora há o groove eléctrico de uns Kinks, em vez de uma descarga de pânico meio incipiente. Ainda assim creio que o Ep tem um carisma muito grande, coisa que tentamos desenvolver ao máximo para o novo trabalho.

A vossa editora é a loop recordings, o que não deixa de ser surpreendente para uma banda como a vossa. O que é que os vicious five fazem numa editora dedicada a sonoridades mais relacionadas com o hip-hop? Como é que chegaram à loop?

A loop é que chegou a nós. É realmente curioso ser uma editora direccionada para o hip hop. Mas se repararem bem, eles estão a criar uma nova linhagem nas edições, muito mais eclética onde nós somos, por enquanto, quem mais parece fugir ao espectro da coisa. Mas lançamentos que eles fizeram dos Mecanosphere, ou mesmo o recente do Camarão já ultrapassam um pouco o universo do Hip Hop. Mesmo assim, nós identificamo-nos com o cariz urbano do hip hop, e com muita da ideologia que o caracteriza. Acho que esta aproximação a outro mundo tem sido tão significante e aliciante para nós quanto para eles.

Salvo um qualquer erro de cálculo mais idiota, não existem muitas bandas que pratiquem este tipo de rock mais sujo em Portugal. Acham que existe alguma razão para isso?

O pessoal em Portugal curte mais limar as arestas, depois apresentam trabalhos de estúdio com excessos de produção inócuos. Grande parte das bandas em Portugal esquece o quão nobre é gravar mais com alma do que com técnica. Às vezes o querer ser meticuloso estraga a essência da música. Mas, lá está, são opções. Há bandas que fogem a isso...

Deu-se um certo hype quando o vosso EP foi lançado. Vêm alguma razão mais específica para este acontecimento, ou acham que foi simplesmente um bom vento que pairou sobre vocês?

Hype? Acho que o que se passou foi que algumas pessoas que nos conheciam, não estarem bem à espera do que fizemos, e depois começarmos a agradar a algum publico fora do espectro de onde viemos, o do punk e do Hardcore. Têm sido, isso sim, gratificante haver um reconhecimento.

Já agora, o vosso nome é este porquê? Porque o acharam bonito, e quase que se emocionaram ao descobrir a beleza poética das palavras que juntaram, por causa de sid vicious ou porque são cruéis como o demo?

Vocês acertam em todas, ao que parece.

Este ano marcaram presença no festival sudoeste. Como é que correu o concerto?

Bem. Correu melhor do que poderíamos imaginar, num último dia de festival sob calor imenso. Foi bom ver que a ressaca de quatro dias a álcool e drogas, não impediu uma pequena multidão aderir a uma banda praticamente desconhecida. E, claro, quando vês que há adesão de algum público ao que fazes sentes que o trabalho compensa. É um cliché, mas é a verdade.

Já existem datas de lançamento do vosso primeiro álbum?

Setembro, com enexactidão característica das agendas em Portugal. Mas dia 30 de Setembro temos o concerto de lançamento, na ZDB. E o cd já tá na fábrica. Não falta muito.

Neste momento já andam a promover o "Up on the walls".Têm alguns objectivos tanto a nível promocional, ou mesmo de vendas?

Creio não estar muito errado se disser que ninguém vende discos hoje em dia. Por isso sim, promovemo-lo em concertos que é a melhor forma que uma banda como a nossa tem de se promover. Rádios e entrevistas não são, obviamente o suficiente, para uma banda que gosta mesmo de estar em palco a interagir com pessoas a um nível mais próximo possível.


sites:

http://www.thevicious5.com (inactivo de momento)

http://www.myspace.com/theviciousfive

Sunday, September 11, 2005

JIMMY CHAMBERLIN COMPLEX- LIFE BEGINS AGAIN(2005)



Falar de Jimmy chamberlin já é mais uma obrigação de protocolo do que outra coisa qualquer. Alguém que percebe minimamente de música,saberá com certeza que chamberlin é, basicamente o homem que sempre esteve por trás das baterias dos smashing pumpkins (excepto em "adore") e quem o não souber, ou é burro, ou é burro. Pronto, a apresentação está feita. Ah e este "Life begins again" é o primeiro disco deste novo projecto que esteve em Lisboa há bem pouco tempo no Lisboa soundz. E que,curiosamente, (ou talvez não) foi passado claramente ao lado da larguíssima maioria que estava ali para ver os franz ai-eu-sou-tão-pop-e-ousado-e-como-tanta-gaja ferdinand. Tudo bem: Os franz ferdinand não são maus de todo, e este complexo do chamberlin é algo bem recente, tem experimentação a mais para uns, ou desnecessária para outros, e ainda possui o preconceito de todas as pessoas que não gostam, ou que nutrem pelos smashing pumpkins uma aguda irritação(e que não são poucas).

Tendo como companheiro um tal de Billy mohler,que eu desconheço por completo, o que nos oferece de facto este disco? Pois. O grande problema dele é um bocado esse. Ou seja ouve-se este disco uma vez, duas, três, mas nunca se percebe realmente que raio de esquema sonoro é que chamberlin e seu comparsa queriam implementar neste complexo.Pós-rock? Experimentalismo mais voltado para uma vertente instrumental? Canções com alguma tendência mais pop ou rock? O problema de "Life begins again" prende-se pelo facto de não pertencer a nenhuma corrente sonora. Tudo bem, isto até poderia ser algo positivo, se existisse por aqui um som próprio,definido,original.

Mas esse som próprio não existe. E "life begins again" fica um bocado perdido no meio das intenções dos seus músicos. Porque tanto querem fazer temas mais experimentais(que nunca o são ao extremo, e digo infelizmente) como canções a sério, como algo mais atmosférico e até progressivo. Será que o disco fica-se pelas boas intenções? Será que, acima de tudo, é mais um devaneio de um músico que deveria pensar em não mexer em baquetas durante os próximos tempos?

Também não. E agora vêm as boas notícias. Eu gosto deste disco. Tudo bem, ele perde-se, não sabe bem o que é, parece um filme da tvi de sábado à tarde sobre o cão que não sabe se é hoquista, jogador de basket, ou surfista,e que depois descobre que afinal veio de um circo qualquer onde era explorado à bruta, mas ainda assim eu gosto dele. Será por ter mau gosto cinematográfico? Não. Será porque sou um grande fã de smashing pumpkins, e não consigo achar nada daquilo que envolve a antiga banda de chamberlin mau? De facto gostei de zwan, acho uma piadinha ao novo do corgan a solo, e adoro o "13th step" de a perfect circle. Mas, ainda assim, prefiro deixar esses juízos de valor para trás das costas(até porque a perfect circle não é propriamente uma extensão dos pumpkins) e analisar este "life begins again" friamente. e continuo a gostar dele.

O parágrafo anterior poderá parecer demasiado ridículo e fútil,para qualquer leitor, mas eu senti-me na necessidade de o fazer. Porque de facto gosto de "life begins again". Tudo bem, tem problemas de identidade, porque mistura faixas instrumentais com faixas de canções,mas ainda assim é bom. Porquê? Porque todas as canções, reais canções aqui presentes são boas.Algumas delas têm como voz corgan, mas não será por causa disso que eu gosto tanto delas. O tema que deu o seu nome ao título, é uma grande canção,com excelentes devaneios mais rock. "Love is real" consegue juntar um certo experimentalismo instrumental,com uma bela voz, uma óptima estrutura, e um real refrão(embora o refrão não seja o melhor da canção)."Lullabye children" tem uma voz masculina quente e doce, e um ritmo bem calmo e tranquilo que só lhe fica bem. Isto para dar alguns exemplos, já que existem mais uma ou duas canções no disco.

Os instrumentais? Por incrível que pareça, alguns têm graça sim senhor. Assim acontece com o muito bom "Streetcrawler" que incia o disco, bem como "PSA" que,com um ritmo quase progressivo, surpreende tanto pela mestria como pela boa melodia que possui(embora possa ser um pouco enfadonho para quem não goste de atmosferas progressivas). Por isso,também a esse nível o disco não se porta mal, pese embora o seu ponto forte esteja,de facto, nas canções, e apesar de alguns instrumentais serem um pouco enfadonhos.

E,postas as postas na mesa, que nota se dá ao prato? È que, realmente, "Life begins again" podia ter sido uma obra genial no campo do experimentalismo de cariz instrumental. Mas, claramente não era essa a intenção dos seus executantes. Podia também ser um album muito bom, com belas canções que misturavam boas instrumentalizações com refrões quase pop. Podia,mas também não era essa a intenção de chamberlin e mohler. A sua intenção era, claramente, misturar o melhor de dois mundos. Queriam ser experimentais, mas também queriam provar que se conseguiam reunir de boas vozes convidadas,para fazerem boas canções. E,este foi talvez o maior erro da dupla. Por isso, é bem complicado dar nota a um disco com tamanha indefinição.

Vou ser honesto: Estou indeciso entre um 6/10 e um 7/10. Porquê? Porque se, por um lado, acho que existe aqui uma certa indefinição sonora, onde até alguns instrumentais não são a coisa melhor à face da terra. Por outro possui belos temas, que merecem uma boa nota, mais alguns instrumentais dignos de registo. Ainda aqui me situo a escrever a crítica, e não sei que nota hei de dar ao álbum.
Já me decidi: Não posso deixar ficar mal o coitado do chamberlin. Como não dou 6,5(e 6,5 é 7), e gosto das canções aqui presentes, e de alguns instrumentais dou mesmo o 7. Pronto, eu sou um coração mole. Espero é que o homem perceba que o voto de confiança que lhe dou é porque acredito que ele vá dar uma definição real ao seu projecto. È que o chamberlin é talentoso demais para se perder entre instrumentais e canções, sem saber que caminho seguir. Espero que siga o certo, que ele lá saberá qual é.

7/10

Thursday, September 08, 2005

AVANTE 2005(ou como a pinga pode ser tão boa a um euro e oitenta)



Vou então falar sobre mais uma edição da festa dos comunistas portugueses que se realizou no passado fim de semana, e que teve lugar na quinta da atalaia, freguesia de amora, concelho do seixal. E sim, é importante dizer tudo isto,porque ainda poderá haver alguém que não sabia a localização. Se toda a gente sabe tanto melhor, mas isto um gajo informar nunca ficou mal a ninguém.

Primeira nota desde já: Não pretento, obviamente, com este comentário falar sobre política, ou comentários dentro desse âmbito. Acima de tudo, este blog é musical e portanto apolítico, e não faço tenções de o mudar a esse nível.

Por isso, convém primeiro dizer que, o subtítulo deste comentário tem pura e simplesmente justificação, que se resume ao facto de(como costume) ter por lá trabalhado. Bastante no sábado, menos no domingo. E, como acima de tudo está a música, falarei então sobre os únicos 3 concertos que tive oportunidade de ver durante toda a festa.

DIA 3

Dia muito atarefado. Passe umas boas 11 horas a sacar rolhas, a falar bem sobre boa pinga, e a vender à bruta para quem apenas queria um bom momento de descontração alcoólica(ou seja apanhar uma bela bezana de cair os queixos). ainda assim o trabalho foi meritório, porque é sempre bom dar a provar vinhos do raio da minha região.
Com tanto trabalho, só me foi possível assistir a dois concertos: Precisamente aqueles que mais me diziam e apelavam: Blind charge e Linda martini. começarem pelos primeiros também porque foram mais cedo.


blind charge

Após terem tocado os r.j.a dando um concerto com um mosh-pit muito movimentado, fazendo valer todos os seus bons temas de punk-rock, a maioria da plateia que ali estacava no palco novos valores(organizado pela jcp) acabou por ir pregar a outra paróquia. Por isso não será exagero dizer que a audiência dos blind charge se resumia aos seus primos, sobrinhos, tios,tias,irmãos(um deles que até era gémeo penso eu do guitarrista) e vizinhos do quinto esquerdo. Ah pois e também lá estava eu, e mais dois tipos vindos do power-metal que decidiram ir curtir a "down".
Mas se a assistência era parca em número, o talento da banda felizmente não o é: Os blind charge proporcionaram um bom momento auditivo, fazendo valer tão boas canções como "fall"( a abrir) e a já referida "down"(a fechar). Por outro lado teve-se a clara sensação de que os músicos deram tudo o que tinham, e até capacidade de improviso demonstraram quando, penso eu, um dos guitarristas teve que substituir a guitarra. Não sei se foi bem isto que se deu, mas pelo menos foi algo idêntico. Claro que existiram algumas tarefas a limar (como o cómico lançamento de maquetes para a plateia,entre alguns handicaps) mas na generalidade foi um concerto bem positivo que mereceria uma plateia bem mais alargada. Dêm-lhes espaço para crescer e não tenho dúvidas que assim acontecerá.

Passadas umas quantas garrafas vendidas, uma espetada regada com um copinho de tinto, e uma breve audição pelo concerto dos xutos(o qual deu para de facto perceber que os homens não são o mesmo que eram há uns bons anos atrás), lá chegou a hora para o concerto de linda martini.


linda martini

E poremos as coisas nestes termos: As músicas dos linda martini são directamente proporcionais à beleza da sua baixista. São muito, mas muito bonitas. A maioria são instrumentais, ou andam perto disso, instrumentais cheios de raiva e cor, de brilho e dedicação. São uma banda que pode ir desde uma pop mais doce(em certos momentos de "lição de vôo nº1") até ao delírio instrumental de "amor combate" com uns riffs bem pesados. São uma banda extremamente completa, uma autêntica lufada de ar fresco em relação àquilo que se faz em Portugal.
E também foi por isso a que se assistiu a um concerto, já com uma agradável moldura humana conhecedora dos temas da banda. E a banda respondeu, dando o melhor de si, mostrando muito profissionalismo, mas acima de tudo vontade de fazerem um concerto memorável. O auge foi o (natural) amor combate, pese embora todos os temas da banda, mesmo os instrumentais, possam ser considerados hinos musicais. A verdade é esta: Os linda martini prometem tornar-se num caso sério no panorama musical nacional. Este concerto só veio comprovar isto. E para além disto comprovam também o quão belo é ver as melodias da banda, acompanhadas com o fogo de artifício que assinalava fim do certame por aquele dia,num concerto que só pecou por alguma parca comunicação da banda com o público. Mas num mar tão belo,este foi só uma pequena manchina negra. que quase que nem se notou.Acabaram o concerto recheados de aplausos e com o público a pedir mais. Mesmo aqueles que se mostraram desinteressados de início. E só essa conquista já quer dizer muito daquilo que os linda martini podem alcançar. Daqui a um ano estão a tocar no palco principal da festa, ou pelo menos bem perto disso. Não duvidem.

DIA 4

Dia bem mais tranquilo. Desta vez fui mais no passeio do que no trabalho. Daí adveio a comprar de uma bela t-shirt com a fronha do bush, e em lugar dos olhos os inevitáveis dólares, na feira do disco, ou do belo do sombrero na barraca do peru na zona internacional. Por outro lado, o trabalho que se teve também foi bem acompanhado com um tinto de alenquer e um chouriço e queijo da zona de coimbra(acompanhado com broa da região). Para colmatar, ainda fui ter com um grande amigo meu das férias(um grande abraço amigo tiago, pese embora não me parece que vás ler isto, mas pronto)

Ainda assim o único concerto a que de facto fui foi ao dos Da weasel. Tenho pena de não ter visto blasted, mas o trabalho e a pouca vontade de ir sozinho, assim o ditaram.


daweasel

E que dizer do concerto das doninhas? Foi bom, até porque não me parece que os daweasel consigam fazer concertos maus. Nele perfilaram alguns dos maiores hits da, agora, primodivisionária banda dentro do panorama musical nacional(ou pelo menos uma banda que toda a gente identifica facilmente). Desde "todágente","dúia", "tás na boa" ou outro nível", tendo a outra larga maioria de temas passado por "re-definições" o mais recente disco da banda que já é tripla platina(penso eu), ou seja pelo óbvio "re-tratamento" que fez tanta gente vibrar. Por isso, e apesar de não ter sido um grande concerto, pois vislumbrava-se perfeitamente um certo piloto automático e algum cansaço,perfeitamente normais, foi competente qb,sendo que a banda teve o mérito de nunca perder o público da mão, publico esse que sempre este à mercê da banda desde o início. Pecou, acima de tudo, por curto.

E agora em fase de conclusão: Após boa comida, miúdas,magotes de pessoas(sobretudo no sábado) sombreros,música e vinho a euro e oitenta o que fica? Uma certeza de que a festa do avante está aí para o ano. com o mérito de todos os voluntários que a fazem. E isto ultrapassa credos, partidos políticos ou ideologias: È um facto consumado. Se há ou não festa como esta? Cabe a cada um decidir. Mas eu, e nada tendo a ver com factores políticas, penso mesmo que é uma festa de excepção. Até para o ano!

ps: agradeço ao Mário Guilherme por me ter gentilmente cedido a foto dos linda martini. Para verem os trabalhos dele cliquem aqui: http://firstsecond.deviantart.com

ps 2: A fotos de blind charge não é pertencente à sua actuação da festa do avante deste ano. Na de daweasel, isso parece-me óbvio.

Tuesday, September 06, 2005

Pelican- The Fire in Our Throats Will Beckon the Thaw(2005)



Está cada vez mais em voga o género musical exercido pelos pelican. Bandas como isis, neurosis, cult of luna, callisto ou sunn o))) têm sido fortes nomes, para revolucionar totalmente um género musical ainda por descobrir. Convencionou-se chamá-lo de necro, ou pós-doom, mas sinceramente o nome que ainda mais me apelará será metal atmosférico ou (porque não?) post-metal. Mas melhor ainda é esquecer quaisquer categorias, e pensar naquilo que se ouve. E é dentro desse prisma que se encontra a forma ideal para criticar um disco.

Este "The fire in our throats will beckon the thaw" é o sucessor do , muito bem reconhecido, "australasia" que tinha sido editado em 2003(pese embora só tenha ganho exposição, pelo menos a nível europeu, no ano passado). Antes de tudo, convém dizer que, como os seus comparsas neurosis e isis, estes pelican são igualmente norte-americanos, e militam ainda na editora de aaron turner, dos já referidos isis. Isto tudo, para melhor percebermos o porquê deste florescimento sonoro, iniciado por neurosis e isis, e que tem vindo a ganhar mais densidade e forma, através de discos tão geniais como "the eye of every storm" o último de neurosis, ou "salvation" dos suecos cult of luna(que vêm ao nosso país daqui a uma semana e meia).

E a pergunta impôe-se: Será que este novo disco dos pelican, é um sinal de alento e força deste novo género, tão recentemente florescido, ou já é um exemplo da sua decadência? A verdade é esta: Nenhuma das duas respostas está certa. Porque para analisar este "the fire in our throats will beckon the thaw" somos obrigados, mesmo a esquecer toda a envolvência sonora. Como se tudo o que eu disse até agora mais não seja que um discorrer de banalidades, que só servem para eu criar uma toada mais romanceada acerca da qualidade(ou não) deste registo sonoro.

Por outro lado, nenhuma das duas respostas está certa, porque o novo disco dos pelican está acima de tudo isso: È,fundamentalmente, uma obra única, irrepetível. Fabulosa. Por isso ,mais do que solidificar o movimento do pós-doom(ou que nome lhe queiram dar), consegue colocá-lo num patamar bem superior. Com um disco totalmente instrumental como é este, os pelican variam de melodias mais soturnas e agressivas, para toadas mais rockeiras, para guitarras épicas, e notas tristes, mas doces ao mesmo tempo. Com a genialidade escura e nebulosa do primeiro tema "Last day of winter", com o brilhantismo de "autumn into summer" ,onde se começa de uma forma mais obscura e se passa a um conjunto de guitarras bem mais quente e solarengo,e com melodias fabulosas que nos ficam no ouvido(deve ser mesmo o melhor tema que ouvi este ano) ou com o experimentalismo contagiante, muito por causa da originalidade da bateria, em "March into the sea".

E, não querendo divulgar o tema um a um, pese embora todos os temas que eu até agora enumerei são o primeiro, segundo e terceiro respectivamente, a verdade é que cada canção é um nível diferente, uma experiência auditiva que nos ultrapassa totalmente os sentidos. Desde o tema acústico "-"(tem mesmo este título), ao tema mais parecido com "autumn into summer", de nome "Red ran amber", apesar deste ser ainda mais solarengo e quente, passando ainda pelos restantes "aurora borealis"(tema mais melódico e melancólico) e "sirius", que fecha o disco em beleza com uma toada mais rockeira e pesada.

Resumindo: Em sete temas,três deles superiores a dez minutos, os pelican mostram-nos uma obra absurdamente genial. Absurdamente digo, porque nunca ninguém teria pensado que tamanho deleite musical fosse possível, ouvindo este "the fire in our throats will beckon the thaw". Numa toada de metal atmosférico, mais leve e rockeira que neurosis, isis, cult of luna, entre todas as outras, os pelican engrandecem o género de uma forma extraordinária. Nunca pensei que, após o brilhante e fabuloso "the eye of every storm" dos neurosis, teria um disco tão bom ou melhor entre mãos tão depressa.Mas é isso que acontece. Mais que um marco do género "the fire in our throats will beckon the thaw" é um marco musical. Provavelmente será o disco do ano. E não acredito que mais alguma banda consiga surpreender e inovar tanto durante este corrente ano. Para já é,mais que um disco genial:È uma referência absoluta para os anos vindouros.

10/10

Monday, September 05, 2005

CHEMICAL WIRE

TANGOS DEMONÍACOS



Após um hiato de, sensivelmente, 10 dias, o blog volta em força, desta vez para vos dar a conhecer os portuenses CHEMICAL WIRE. Rock misturado com uma certa toada ska, vozes alegres e desconraídas. Mas acima de tudo é ouvi-los e perceber como é que uma fusão de estilos tão sui generis pode resultar tão bem. Juntem-se à loucura e à alegria, mas antes de tudo leiam as simpáticas palavras do vocalista Davide Lobão:



Como se deu a formação dos chemical wire?

Em 1999 o Rimm (baterista) e o Johnny (guitarrista) começaram a tocar com um outro baixista. Mais tarde entrei eu para a voz, e finalmente fechamos a formação em 2003 com uma troca de baixistas. Entrou então o Pedro para o baixo e encontrámos a nossa formação, e o nosso veículo de ataque.

Vocês têm um som que eu caracterizaria muito peculiar. Pelo menos já estou a ver a imprensa completamente às avessas para vos arranjar um rótulo. Como não vos quero rotular de nada pergunto: Acham que existe alguma forma de definir o vosso som? Quais são as vossas principais infuências?

Como se descreve a intensidade de uma música? A química de quatro gajos que se juntam para fazer música? Pode-se definir de uma forma simples, tocamos música rock muito influenciada pelas mais diversas divergências e fusões que advêm daí.

Já tinha,anteriormente, perguntado isto aos blind charge e volto a fazê-lo a vocês: Como está o movimento underground do Porto?

A crescer, embora de uma forma muito tímida. Diga-se que está na fase da adolescência. Ainda muito pouca gente compreende isto da música, e de ir a concertos apoiar as bandas. È complicado mas, se estas bandas deste dito underground se unirem, independentemente do estilo que tocam, acredito que a ascensão vai ser muito rápida e o movimento underground do Porto se vai tornar em algo impossível de deixar passar despercebido.

No vosso blog no myspace, pediram a colaboração de todos, com o intuito de arranjarem datas para concertos. È assim tão complicado, para uma banda ainda underground, arranjar concertos? Perspectivam causas para isso se suceder?

Toda a gente que anda nisto sabe a dificuldade que há em arranjar concertos com as mínimas condições. O blog do myspace destinava-se essencialmente a concertos fora da zona do Porto, mas não obtivemos praticamente nenhuma resposta com esse pedido. Teve que ser tudo a pulso e ainda assim é.

Está também é uma pergunta da praxe: Já editaram algo, ou estão a fazer planos para isso?

Está mesmo a sair o nosso primeiro CD. Vai ter 6 músicas, e estamos só a ultimar os pormenores da capa. Está mesmo aí! Fiquem atentos!

No geral, como vêm o panorama musical actual em Portugal?

Há muito boas bandas no dito underground, mas pára por aí. Se formos a olhar num âmbito comercial, vê-se perfeitamente a repetição idiota que temos. Sempre as mesmas bandas, nos mesmos sítios, todos os anos. Se não são as lufadas de ar fresco de bandas underground era bem provável que a música actual em Portugal nem sequer respirasse. Há muita falta de ambição e de convicção, parece que tudo que se faz tem que ser a brincar na música em Portugal, quando é exactamente o contrário.



Quais são os vossos projectos futuros?

Abrir a nossa agenda de contactos a um espectro internacional, e começar a tocar lá fora. Há o albúm também em vista, mas é preciso reunir os meios para que isso aconteça. Queremos acima de tudo tocar muito e em muitos sítios diferentes.

Muito obrigado pela entrevista. a melhor sorte para vocês. Abraços[]

Obrigado nós! Qualquer coisa basta contactar-nos!

Um abraço dos CW []

http://www.myspace.com/wisewomb