Monday, November 17, 2008

Tara perdida - Nada a esconder(2008)



Quem andou a vasculhar os arquivos desta coisa, deve ter consciência de que aqui o escriba até gosta de Tara Perdida. Aquilo que conheço do rei Ribas e seus compadres (os três últimos discos na totalidade, e algumas coisas dos dois primeiros) sempre achei fofo de ouvir. Fosse pelo facto de serem catchy como tudo, de terem letras que embora óbvias, nunca deixaram de me parecer interessantes, ou pura e simplesmente de achar piada ao shor ribas que é homem para falar com a malta com meia dúzia de jolas no bucho(e o homem tá mesmo quase sem dentes...)

"Nada a esconder" é o mais recente registo dos lisboetas, depois do bem bom "lambe botas", e não era para mim expectável mais nada do que os homens aqui apresentam: punk rock bem feito, sem devaneios demasiados, directo ao assunto, e com alguma propensão de agradar às massas através de refrões certeiros. Até aqui está tudo bem - mas então como raio eu não consigo gostar deste último disco? Há por aqui qualquer coisa que me faz uma comichãozinha ou uma flatulência menos simpática.

E é nisso que me baseio. Talvez seja a falta de estrutura musical mais organizada(alguns temas parecem mais "meia bola e força" que o costume), refrões menos contagiantes - nem o single "sentimento ingénuo" consegue ter grande força- um certo afrouxamento que anda por aqui. Um som ligeiro que a mim me parece mais aligeirado ainda do que é costume. Tudo bem que tara não é censurados: mas acho que aqui o som da banda está ainda mais radio-friendly, e ainda por cima sem um refrãozinho sweet que o justifique.

Há um ou outro tema que eu ainda acho piada ( por exemplo o primeiro e o último "olá sou eu" numa toada descontraída à bruta que não deixa de ter graça), mas o resto parece-me muito pouco memorável. Não há por aqui músicas que me ficam na retina como era costume...para mim os tara desleixaram-se um tudo nada, fizeram um disco meio abruptamente e pronto tá feito. Nada contra ter tudo pronto sem grande cuidado...mas aqui a meu ver acabou por se borrar a pintura.

E o pior é que este é um disco claramente de tara perdida: só que muito repentino, ligeiro, pouco certeiro nos seus propósitos. Serve para quem gosta deles matar a saudade, mas mais que aperitivo inicial(meia dúzia de cajus antes de virem umas pataniscas do caraças com arroz de feijão) não é. Tenho pena de estar a fazer uma crítica negativa, quando a pôr cá muito menos os presuntos mas...olhem apeteceu-me. Deu na mona ao ribas fazer um disco fracote, deu-me a mim dar-lhe uma nota fracota. De qualquer forma tenho esperança que o próximo seja melhor. Ainda há por aqui material que me faz acreditar nisso.

4/10

Sunday, November 02, 2008

VINTAGE: Alice in chains - dirt(1992)


È realmente incrível perceber que a maioria da população mundial identifica o grunge como "aquela cena vinda da cidade dos states longe comá merda onde apareceram os nirvana". aliás, se tirasse o resto da prosa e metesse só nirvana, era bem capaz de chegar. O ridículo da coisa é que os nirvana foram claramente uma das coisas mais fraquinhas que o grunge nos trouxe. Vejamos: soundgarden, pearl jam, jane's addiction, stone temple pilots...é preciso continuar?

È. Alice in chains. "Dirt" foi o segundo disco da banda e é aquele que, mais coisa menos coisa, ainda é lembrado com regularidade. Uma musicalidade que sobrevive muito à pala do guitarrista jerry cantrell, com os demónios de layne staley a servirem de pano de fundo para as letras. A verdade é que os chains conseguem ser eles mesmos sem precisarem de bengalas estilísticas para se aguentarem. Temas como "them bones", "rooster", "would?", ou a genialíssima "down in a hole" aprovam isto mesmo, com as guitarras arrastadas sim, mas sobretudo estridentes, a voz meio desesperante de staley a ecoar nos ouvidos, num disco que apela muito ao estado de espírito da capa: alguém completamente perdido no mundo em que vive.

"Dirt" é degradação sim. Sujidade. Desespero em certa medida. È um disco sufocante,uma alma presa numa redoma e quer sair dela. Não deixa de ser ao mesmo tempo uma experiência sonora que ainda por cima è catchy à bruta. Quem não canta a plenos pulmões a down in a hole? Ou a them bones? E quem não delira com os riffs quase psicadélicos de cantrell? Não desfazendo o resto da banda, mas cantrell é claramente o grande responsável para os chains funcionarem da maneira que funcionam. Isso aliado ao pessimismo de staley, que me parece ter sido uma pessoa muito mais complexa que o cobain, mas isto também pode ser a minha parvoíce.

O grunge é daquele tipo de coisa que foi amor/ódio para muita gente.E injustiçou muitas bandas que se viram rapidamente rotuladas como fazendo parte do mesmo pacote dos nirvana. conclusão: muitos potenciais interessados fugiram a sete pés. O que é uma pena. Mais que uma obra intemporal, "dirt" é o retrato pessoal de uma banda que consegui ser ela própria em tempos de rotulagem. E o mundo era tão mais fofo se "dirt" fosse O disco de grunge e não a quase banalidade de "nevermind"...

9/10