Men eater - hellstone (2007)
O sludge/pós-doom é um dos géneros mais citados nos últimos tempos, aqui na casota. Talvez seja mesmo dos géneros que mais projecção têm por aqui... não obstante o facto de ser um tipo de sonoridade que eu ouço com bastante regularidade, como me parece ser um bocado evidente. e o que é que isto tem a ver com os men eater, lisboetas de origem, executantes de uma maqueta homónima que granjeou muito boas críticas por esse mundo fora?
Se calhar nem tem assim nada de especial. OK, "men eater", a maquete era um exercício que tinha alguns pontos em comum com a sonoridade criada pelos neurosis, fomentada pelos isis, levada ao ponto máximo da beleza diurna pelos pelican. Era uma maquete com óptimos ambientes mais soturnos, recheada de atmosferas negras e pesadas, que saíam enquanto um bloco de enorme solidez. coisas boas portanto. De qualquer forma, "hellstone" ultrapassa a perseguição genérica, e enceta um caminho novo que importa saber desbravar.
E até agora os men eater souberam fazê-lo. "Hellstone" é um portento de peso, que ecoa em certos momentos experimentais, cuja maior virtude é saber que não é apenas e só pertença de uma determinada corrente musical. È rock, é sludge, é metal, é ambiental, é muita coisa. È um emaranhado de correntes que se interligam, e que se fundem num som extremamente agradável, mas sobretudo diferente, e em muitas partes inovador. Como um pintor a retratar símbolos de diferentes proveniências e que consegue que tudo faça sentido, mesmo através de ordens subversivas à própria sociedade.
Porque não nos iludamos: o arrastar de "revolver" não vai cativar muita gente. A completa "drivedead"(que começa numa toada quase à mastodon, transporta-nos para uns cult of luna, e depois mistura tudo na perfeição), não é tema de gigantone "airplay".Ou "Windyhorse", na sua toada trashy, com guitarras altamente contagiantes. Nem mesmo a magnífica "lisboa", possivelmente um dos melhores temas nacionais dos últimos anos, sem exagero nenhum. "Lisboa" é uma daquelas obras de arte gigante para alguns olhos, insignificante para muitos. "Hellstone" é um disco extremamente coeso e portentoso, mas é neste tema que se consegue ultrapassar a si próprio, fazendo um daqueles temas que se dizem "bigger than life". com um tom arrastado, denso, pantanoso, tem o clímax na participação vocal de André, dos linda martini. E é daquele tipo de canções, no expoente do seu termo, que nos ficam agarradas e que nos deixam boquiabertos.
Levo o peito cheio de ti
"Hellstone", mais que surpreendente pela capacidade instrumental, pela pujante força, pela solidez de cada um de seus momentos, é um passo fantástico de uma banda que incorpora os melhores exemplos de algumas sonoridades emergentes e lhe adiciona uma vincadíssima personalidade. O álbum consegue ser desolador, apoteótico, frágil, sensível, arrebatador, tudo ao mesmo tempo. encontrar discos assim já de si só é difícil. Poder encontrar um disco assim e uma banda assim no nosso pequeno rectângulo é maravilhoso e digno de nota. Mas mais que tudo isto é aproveitar o disco enquanto ecoa. E a ser como é está destinado a ecoar para sempre, dada a sua mais que provável canonização enquanto revolução que é.
Não deixem de ir nela.
9/10