Saturday, March 31, 2007

Men eater - hellstone (2007)



O sludge/pós-doom é um dos géneros mais citados nos últimos tempos, aqui na casota. Talvez seja mesmo dos géneros que mais projecção têm por aqui... não obstante o facto de ser um tipo de sonoridade que eu ouço com bastante regularidade, como me parece ser um bocado evidente. e o que é que isto tem a ver com os men eater, lisboetas de origem, executantes de uma maqueta homónima que granjeou muito boas críticas por esse mundo fora?

Se calhar nem tem assim nada de especial. OK, "men eater", a maquete era um exercício que tinha alguns pontos em comum com a sonoridade criada pelos neurosis, fomentada pelos isis, levada ao ponto máximo da beleza diurna pelos pelican. Era uma maquete com óptimos ambientes mais soturnos, recheada de atmosferas negras e pesadas, que saíam enquanto um bloco de enorme solidez. coisas boas portanto. De qualquer forma, "hellstone" ultrapassa a perseguição genérica, e enceta um caminho novo que importa saber desbravar.

E até agora os men eater souberam fazê-lo. "Hellstone" é um portento de peso, que ecoa em certos momentos experimentais, cuja maior virtude é saber que não é apenas e só pertença de uma determinada corrente musical. È rock, é sludge, é metal, é ambiental, é muita coisa. È um emaranhado de correntes que se interligam, e que se fundem num som extremamente agradável, mas sobretudo diferente, e em muitas partes inovador. Como um pintor a retratar símbolos de diferentes proveniências e que consegue que tudo faça sentido, mesmo através de ordens subversivas à própria sociedade.

Porque não nos iludamos: o arrastar de "revolver" não vai cativar muita gente. A completa "drivedead"(que começa numa toada quase à mastodon, transporta-nos para uns cult of luna, e depois mistura tudo na perfeição), não é tema de gigantone "airplay".Ou "Windyhorse", na sua toada trashy, com guitarras altamente contagiantes. Nem mesmo a magnífica "lisboa", possivelmente um dos melhores temas nacionais dos últimos anos, sem exagero nenhum. "Lisboa" é uma daquelas obras de arte gigante para alguns olhos, insignificante para muitos. "Hellstone" é um disco extremamente coeso e portentoso, mas é neste tema que se consegue ultrapassar a si próprio, fazendo um daqueles temas que se dizem "bigger than life". com um tom arrastado, denso, pantanoso, tem o clímax na participação vocal de André, dos linda martini. E é daquele tipo de canções, no expoente do seu termo, que nos ficam agarradas e que nos deixam boquiabertos.

Levo o peito cheio de ti

"Hellstone", mais que surpreendente pela capacidade instrumental, pela pujante força, pela solidez de cada um de seus momentos, é um passo fantástico de uma banda que incorpora os melhores exemplos de algumas sonoridades emergentes e lhe adiciona uma vincadíssima personalidade. O álbum consegue ser desolador, apoteótico, frágil, sensível, arrebatador, tudo ao mesmo tempo. encontrar discos assim já de si só é difícil. Poder encontrar um disco assim e uma banda assim no nosso pequeno rectângulo é maravilhoso e digno de nota. Mas mais que tudo isto é aproveitar o disco enquanto ecoa. E a ser como é está destinado a ecoar para sempre, dada a sua mais que provável canonização enquanto revolução que é.

Não deixem de ir nela.

9/10

Monday, March 19, 2007

"The fountain" de Darren Aronofsky



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"The fountain" é isto. emaranhado de imagens de rara beleza, juntamente com a luta de um homem em poder dar a vida eterna à sua amada. E isto misturando elementos da mitologia maia, com avanços científicos, e até ficção científica- saltos temporais que vão desde a época dos descobrimentos espanhóis(diria assim ao ar), passam pelo presente, e vão até ao futuro, possivelmente a época mais estranha, descaracaterizante, sufocante, obsessiva.

E acaba aqui. O novo filme de aronofsky é uma longa busca por um certo sentido de fé, que se vai aproveitando de uma paixão que dura séculos, e de diferentes formas de vida. È uma história cheia de experiências esotéricas, que se entrelaçam e fazem dele um objecto cinematográfico insólito.

È impossível explicá-lo. "The fountain" é uma procissão de fé. È a crença na árvore da vida eterna, em suas propriedades, é a crença num amor eterno que pode prevalecer para além do mundo. È uma crença no lado espiritual da vida. e foi com esse intuito que o realizador do grande "requiem for a dream" levou a sua avante. Num caminho árduo, complicado, que deu a origem a muitas ambiguidades. Que levou a aura de "filme falhado" ao filme, simplesmente porque quer tentar explicar aquilo que ninguém o pode fazer. Ou talvez nem o tente explicar, mas sim demonstrar uma das muitas formas de ter fé. e esta parece ser invisível. Pelo menos até aqui.

È fácil não gostar dele. Quanto um filme nos lembra de coisas como a floribella(!), é normal que comecemos a pensar que aquilo que estamos a ver é uma pepineira do caraças, embrulhada em efeitos visuais de primeira água. Que talvez a história de amor de hugh jackman, a tentar dar vida a rachel weisz(que compreende a morte mais que ninguém) ao longo dos tempos, soe de favto descabida. Mas por outro lado é a busca mais singular, estranha e intensa que se pôde ver em cinema nos últimos tempos. Pelo menos para quem fecha os olhos para isso, e se deixa levar pelo complexo esquema narrativo que o filme nos propõe.

Mais que um filme é uma experiência. sensorial. Espiritual. Sôfrega. Que nos pode alertar(ou não) para o verdadeiro significado da vida. que implica a morte. E o que o filme tenta fazer é dar-nos a total percepção disso. e nem vale a pena discorrer muito mais sobre ele, a não ser que tudo aquilo que eu estou a dizer, tem perfeita conexão com a primeira frase de cada parágrafo. "The fountain",não pode ser explicado por palavras, porque nos pede para acreditarmos nele, por mais descabido que aquilo que ele preconiza possa parecer. Por isso vão ao cinema e tirem as vossas ilacções. Eu caguei para tudo isso. A vida é de cada um de nós, e a morte é capaz de ser o nosso final mais feliz. Ou uma coisa do género.

10/10

Tuesday, March 13, 2007

Madcab @ fnac do colombo 8/3/07

Tenho em mim que uma banda só começa a actuar nas fnac's por duas ordens de razões: ou porque já é conhecida o suficiente para a conhecida loja apostar nela; ou porque existe alguém lá por dentro que vê na banda qualidade suficiente para que ela lá possa meter a pata. Existem aqui alguns casos que são capazes de comprovar este meu pensamento: o primeiro, o caso dos linda martini que só lá actuaram depois de lançarem o seu óptimo disco de estreia, após o sururu(termo genial, e eu adoro fazer estes parêntesis a destacar a pseudo-genialidade do meu vocabulário, como já devem ter reparado) vindo do ep - isto salvo qualquer erro temporal meu. O segundo o caso dos riding panico que pouca coisa têm mais para além de um ep com excelentes temas.

E, diga-se: o caso dos madcab é o segundo.



È certo que "keeping wounds open" é um longa-duração. Mas também é certo que não se compara a projecção dos madcab à dos linda martini por exemplo. A este nível é possível que coexistam mais com uma já considerável falange de fãs, mas que não chega ao hype provocado pela banda de queluz. E com isto não quero comparar musicalmente as bandas, até porque não sendo totalmente opostas estilisticamente, elas também não são propriamente iguais.

Os madcab estavam nervosos. Compreensivelmente nervosos. Foi possivelmente o "maior" concerto que deram até à data, nem que seja pela normal projecção que tocar numa fnac não deixa de dar. O bar/sala, whatever, estava razoavelmente composto e isso também deu alguns tremeliques aos lisboetas, habituados a menos gente. E também não nego que isso se tenha sentido de alguma forma durante toda a actuação.

Mas aqui está o busílis da coisa: isto será anormal? não. Deram os madcab um mau concerto por causa disto? Também não. O que se viu foi uma banda extremamente compenetrada em não fazer má figura, com um natural receio de falhar, que acabou por sacrificar uma comunicabilidade mais acutilante para com o público. No entanto parece-me ter sido apenas isso que de facto não funcionou na perfeição.



Quanto ao resto foi tudo como eles possivelmente desejaram: não falharam, fizeram um concerto extremamente competente, mostraram a qualidade que lhes vemos em disco, e ainda por cima conseguiram elevar os seus temas a patamares mais elevados. Digo-vos imediatamente: muitos dos temas de "keeping wounds open" funcionam melhor quando tocados ao vivo. "beggars", "sweet bone chill", "countless joys of commercial suicide" tudo isto são exemplos disso mesmo. Elas ganham vida própria e conseguem voar acima do registo de estúdio. E isso só pode ser prova de uma simples coisa: da enorme qualidade que os músicos têm.

Acho que já escrevi demais, para um showcase que não teve mais de seis temas, como é costume. Mas a verdade é que os madcab conseguiram superar as expectativas, e arrancaram uma óptima actuação, não deixando que alguém pudesse falar mal deles por isso. Òptima aposta da fnac, e espero sinceramente que eles consigam agora subir ainda mais. Porque merecem, e porque fazem por isso.



Já agora, mando daqui um abraço para o Luís costa ,tipo muito simpático, e para os bringing the day home, com quem também cheguei a trocar dois dedos de conversa. a melhor sorte também para eles.

fotos retiradas de: http://www.flickr.com/photos/t3mujin/sets/72157594578043123/