Monday, July 31, 2006

IPJ de Setúbal 29 de julho- Banshee+Eternal Tango+ One hundred steps(entre outras)



Setúbal deve ter alguma coisa de muito extraordinário para produzir tantas bandas, e todas elas de qualidade. Ora são os já internacionais more than a thousand, ou os one hundred steps, ou os hills have eyes, ou os banshee, entre tanta coisa que normalmente ronda os terrenos do emo/screamo(e tirem daqui os banshee porque mais ska-punk que isto não há por aí aos molhos). Não deixa de ser estranho, e ao mesmo tempo muito curioso.

Não sei se serão os ares do rio, ou o choco frito que há de ter um adubo qualquer, ou mesmo a co-incineradora da arrábida que manda uns pós criativos para a cidade: a verdade é que, para uma cidade relativamente pequena como é Setúbal, a sua cena musical é numerosa. Sobretudo se tivermos em conta o emo/screamo: aí não é crime nenhum dizer que é possivelmente a zona do país com mais bandas em emergência dentro deste género, ainda por cima com uma acentuada bitola qualitativa.

Bem, passando à frente da conversa de quase circunstância, o que interessa é saber quem foi actuar no passado sábado, ao IPJ de Setúbal. Ora como sou um idiota, e devia ser chicoteado umas 3456342 vezes, perdi as três primeiras bandas. Pronto confersso desde já, para não andar a escrevinhar prosas bonitas do género "esta banda aposta na titubeante realização de novos perssupostos musicais, que se enquadram numa total simbiose que se complementa com reminiscências várias ao género em questão, adicionando novos trâmites de transfiguração musical", entre palavras de 500 euros a mais.

Por isso, e pedindo desculpa às outras bandas, começo com os Axcromados. Bem, neste caso esqueçam as 3456342 chicotadas: tirem uma. Porquê? bem, porque fiquei cá fora a rapar frio com uma amiga minha, e acabei por ouvir o concerto à distância. O que posso dizer? Os axcromados tocam bem, têm bom gosto na escolha das convers(e no concerto foram tocadas pelo menos duas: a normal "ace of spades" dos motorhead, e talvez o melhor tema dos nirvana,"Territorial Pissings"), e os temas pareceram-me competentes. Quanto à actuação em si..pois. Por aquilo que ouvi pareceu-me que o público estava animado.


ella palmer

Curiosamente, os Jamie's Last Journey eram uma das bandas que eu menos gostava nesta cena setubalense. Não sei porquê...pareciam-me menos catchy, muito agarrados a alguns conceitos básicos do emo/screamo, sem capacidade para se libertarem dessas amarras. Ora entretanto eles acabaram, e deram origem a estes Ella Palmer. A verdade é esta: só não fiquei 100% surpreendido com a performance da banda, porque já os tinha ouvido há cerca de uma semana atrás, via myspace. Para além de terem dado um óptimo concerto, embora com algum esmorecimento na parte final(e uma falta de luz logo de início), a banda tem realmente temas que ficam no ouvido, e consegue penetrar no nicho do screamo, de uma forma mais atmosférica,melódica e bastante orelhuda. È verdade que ainda têm algumas influências demasiado presentes, é verdade que ainda há arestas para limar, mas o concerto foi entusiasmante. Os temas da banda têm potencial para serem autênticos hinos, e na minha mui modesta e humilde opinião é talvez, de todas as bandas que eu vi, aquela que mais potencial terá para vingar em meios mais alargados,sobretudo devido à grande qualidade que eles demonstram. Ah sim, e ainda comprei uma t-shirt deles na banca do merchandising, onde mais bandas também tinham por ali vestimentas,crachás e afins, como é (óptimo) costume.


one hundred steps

A seguir apareceram os one hundred steps.Diga-se que mais coesos do que me pareceram em "you're a lovely victim of emotional chaos", a anterior demo da banda. Com novo material para mostrar(um dos temas, "falls into nothing" já disponível no myspace da banda), o grupo pareceu-me ter temas mais fortes e coesos, demonstrando também uma boa unidade e entreajuda em (inexistente) palco. O público esse estava rendido à banda, ao entoar alguns dos temas, sobretudo o,vá, mais emblemático , de nome "Jesus where's the rest of her". Sem me entusiasmarem tanto como os Ella Palmer, a verdade é que por aqui também se vislumbra um futuro bastante risonho. A ver vamos se estas boas indicações continuam assim, porque há por aqui talento. Tanto em cima de um palco, como a nível de canções.


eternal tango

Com os eternal tango, apetece dizer que o público decidiu ir rapar frio. A considerável moldura humana que esteve no IPJ naquela noite, foi apreciar o belo do aroma do sado(entre outros aromas mais óbvios) e deixaram a banda luxemburguesa com meia dúzia de papalvos, e com algumas groupies luxemburguesas a fazerem um exageradoheadbanging(que teve continuidade com os banshee), provavelmente devido àquelas substâncias que dizem ser "ilícitas". Ah ainda havia outras duas que se entretinham a jogar às escondidas, com uma das cortinas pretas do IPJ...enfim é bonito andar nos fumos.Passando à frente, e falando do concerto: tendo em conta que eram a banda que menos motivaria o público, nem que seja pelo facto de estarem qualquer coisa como 4.000 quilómetros afastados de casa, mais coisa menos coisa, até se pode dizer que eles deram uma actuação bastante positiva. Não serão tão catchy quanto os lara palmer, ou tão coesos como os one hundred steps, mas o maior peso dado às suas composições de emo/screamo(ou ,se se quiser, post-hardcore) dá-lhes uma boa margem de manobra, tendo em vista o futuro. Têm já algumas canções bem engendradas, uma boa presença em palco, e espírito de sacrifício(virem para cá só cum uma demo editada, mesmo tendo em conta que pelo menos o vocalista é luso-descendente, é de homem), e isso é um excelente prenúncio para objectivos futuros.


banshee and something else we cant't remember

Antes de mais é sempre bonito dizer que todas as bandas agradeceram ao vocalista dos banshee, Tèta, pelo convite que lhes foi endereçado: quer-se com isto dizer que ele foi uma das forças motrizes para que esta noite tivesse lugar. e ainda bem, porque o esforço de toda a organização foi de louvar.
Enfim, eu não devo ter ouvido a última música do concerto dos banshee, no entanto posso dizer que o vocalista tem realmente algumas limitações vocais. Tem, é um facto, ele próprio deve saber disso. E eu estou apenas a falar disto, porque é a única mariquice de pormenor menos bom que eu consigo vislumbrar naquele que foi o melhor concerto da noite. Os banshee fazem um ska punk com claras influências de gente como os less than jake, que ainda por cima funciona muitíssimo melhor ao vivo do que em disco. È ao vivo que as verdadeiras potencialidades do grupo vêm ao de cima: Téta pode não cantar na perfeição, mas sabe motivar uma plateia, e esta correspondeu-lhe com passos de dança que toda a gente era obrigada a dar.È que era mesmo: o som dos banshee é extremamente eficaz e apelativo(e isto também ouvi eu nos dois temas que conhecia deles),e não permite que ninguém fique de fora da festa. ainda por cima as canções mais recentes, são bem superiores aos dois temas que eles têm no seu myspace...enfim é esperar pelo álbum, e querer que esta gente vá abrir para uma qualquer banda de ska-punk apareça cá no burgo. Se isso não acontecer, então vamos todos fazer um motim para a assembleia da república(porque assim é mais giro), e incendiamos aquilo tudo. quem está comigo?

Querem que resuma? 8 bandas, por 3 euros e meio, e aquelas que eu vi tinham todas bastante potencial. condições sonoras relativamente deficientes, embora isso seja compreensível, e uma considerável moldura humana. A enorme potencialidade dos ella palmer, a unidade dos one hundred steps,a dedicação dos eternal tango, e a rambóia dos banshee, naquela que foi uma óptima noite musical.e pronto, está tudo.

Profusions-demo já disponível

Mais uma importante informação chega aqui ao botequim(só não foi colocada por aqui mais cedo, porque ah e tal estive ausente por uns dias). Os Profusions, são uma banda que está entre os terrenos do rock e do metal, e acaba de lançar a sua primeira demo, que tem o nome de "Paradigma". Este é um trabalho conceptual, dividido em dois capítulos, e que pode ser vosso por apenas 7 euros. Não é muito, sempre ajudam a banda, e vão ouvindo música que vale a pena.

Ah sim apontamento importante: a demo foi editada em formato dvd. Aqui fica o flyer.



Para onde podem cravar a demo? Para os seguintes mails, que me foram indicados:

demonium.blog@gmail.com
martaxxv@mail.pt

E tá tudo feito? Informação dada, toda bonita e tal e coiso, e agora é convosco. Daquilo que já ouvi da banda, achei bastante agradável. Mas enfim, como calculo que isso para vocês é mais um bitaite de um tipo cromo, que outra coisa qualquer fica aqui o myspace da banda:

http://www.myspace.com/profusions

Saturday, July 22, 2006

Killswitch engage - (set) this world ablaze (dvd) 2006



Os killswitch engage são "o" bastião da nova cena metalcore, que acabou por fazer florescer uma panóplia incontável de bandas. A sério, elas andam por aí aos pontapése já nem se contam. a grande inovação do quarteto de boston foi ter pegado em guitarras heavy metal, juntando a fúria do hardcore e guess what? refrões com uma sensibilidade pop, no mínimo, fora do comum. aliás foi esta sensibilidade que lhes permitiu alcançar um estatuto de enorme crédito, tanto a nível de público como de crítica.

Depois dos três discos, e do claro sucesso que foi "The end of the eartache", a banda voltou-se agora para a criação de um dvd que é composto por um concerto ao vivo na sua terra natal, todos os clips da banda, e uma série de pequenos documentários e cenas de backstage, onde eles contam a sua história, coadjuvados por amigos de bandas como As i lay dying, Shadows fall ou Unearth.

Após esta parte quase noticiosa, é curioso notar que hoje em dia se fala bastante do "momento ideal" para certa banda vir ao nosso país. Dela ter cá posto os pés quando estava a surgir, quando os seus caminhos criativos estavam a ser desbravados, enquanto é uma força criativa musicalmente. O caso dos killswitch foi precisamente esse: a banda tinha arranjado um novo vocalista, estava a começar a preparar "the end of eartache", e o disco anterior a esse ( "alive or just breathing") era motivo de hype pela imprensa especializada. E com justiça diga-se. Daí que ver os killswitch agora com um patamar de exposição maior, depoisdo óptimo concerto que deram quase há 3 anos no garage, é um motivo de regozijo, especialmente percebendo que um tipo como eu já os tinha descoberto ao tempo.

Adiante: o concerto gravado em boston é das melhores gravações ao vivo a que já assisti. A banda está com um feeling incrível, consegue estar perfeitamente concentrada naquilo que está a fazer mas, ao mesmo tempo, vai cativando a plateia verbalmente. Howard jones nunca esteve tão comunicativo, Adam d.(o nome é complicado e grande como tudo) nunca esteve tão virtuso, e ainda deu para cantar os parabéns a Joel Stroetzel, o outro guitarrista que como é um bocado óbvio, fazia anos naquele dia.

Mas o melhor de tudo é que quase que é possível sentir o suor daquele público e a sua total reverência face àquilo que estava a acontecer em palco. Era ver todas as ordens de Howard a serem exemplarmente acatadas, todo o rebuliço e delírio da assistência, face temas emanados pelo quinteto, e sobretudo uma sensação de pertença àquele espectáculo, mesmo para quem o esteja a ver via TV num qualquer local do mundo. não dá para ficarmos impávidos e serenos ,ali a comer seja o que for, e a assistir ao concerto. simplesmente é preciso exteriorizar aquilo que vemos, de um modo veemente. Todos os concertos em dvd fazem isto? Se todos os concertos AO VIVO o fizessem o mundo já era todo bonitinho, com toda a gente a sorrir e tal e coiso, quanto mais via TV...

Quanto ao resto... os já clássicos estão lá todos("fixation on the darkness", "rose of sharyn","self revolution", "my last serenade", "the end of eartache", ou "when darknes falls"), e foram tocados exemplarmente sempre com a tal grande reacção do público (embora até normal, visto que os killswitch jogavam em casa), mas o fantástico deste dvd é que para além do concerto, ainda tem todos os videoclips da banda que, para mmi, não são nada de muito transcendente mas ainda assim são um documento da sua existência. Já os fragmentos documentais, percorrem toda a existência do quinteto, falam abertamente da saída de Jesse Leach para a entrada de Howard Jones, e ainda buscam pontos de vista de amigos da banda, para além dos lúcidos depoimentos da mãe de um dos músicos. Isto para não falar das cenasde backstage onde, por aquilo que me deu ver, atéos achei relativamente normais(sempre não vomitam fruta uns para cima dos outros como certas bandas...)

È por isso um dvd extremamente completo: um excelente concerto ao vivo, o conjunto de videoclips, e depoimentos muito interessantestato dos intervenientes como de pessoas que os conhecem bem. Quando aquilo que costuma estar no mercado é "apenas" um concerto ao vivo, ou "apenas", uma compilação com os videoclips, ou ainda "apenas" uma história da banda, ter tudo isto pagando o preço de apenas um dvd, e ainda por cima com material de óptima qualidade, é uma benesse. Para os fãs, para quem os queira conhecer, ou simplesmente para curiosos. Para todos.

9/10

Thursday, July 20, 2006

ABERT FISH

A VIDA É NOSSA






Os lisboetas albert fish são a mais recente adição à(um pouco adormecida) secção de entrevistas do tasco. Conscientes do mundo que os rodeia, a banda que pratica aquilo que se poderá eventualmente apelidar como street-punk, lança aqui um manifesto sobre como viver a nossa vida sem pensarmos em seguir carneirada, através do vocalista gustavo. E tudo com a música como pano de fundo. a conferir agora mesmo:


Albert fish é o nome de um serial killer norte-americano. foi nele em que o vosso nome foi baseado? Se sim, porquê?

O nome é baseado no serial killer, e para mim funciona como uma metáfora. Não existe uma identificação óbvia e primária com o indivíduo e as suas acções, mas sim com o impacto e as representações da altura em que ele perpetrou os crimes. Vivemos numa sociedade que fundamenta muitos dos seus preconceitos em aparências, que partem exclusivamente de imagens sem qualquer conhecimento do conteúdo das mesmas: este foi o erro das vítimas. Os pais das crianças confiavam plenamente num homem de figura dócil e modos gentis, e abriam as portas a um monstro que lhes destruía aquilo que eles mais prezavam.

Strongly recommended já foi editado há 4 anos. Agora, que já passou algum tempo, que impacto acham que teve este disco na vossa carreira enquanto banda?

Foi bom, deu-nos oportunidades de tocar fora de Portugal, algo que teria sido complicado de outra forma. Trouxe também um pouco mais de visibilidade, e mais convites para concertos por cá. Ainda assim acho que poderia ter sido melhor, faltou-nos explorar determinados aspectos que nos poderiam ter permitido chegar mais longe. Na altura não nos pareceram assim tão importantes, mas agora passados os anos que já referiste e uma maior experiência e conhecimento das coisas, se revelaram como fundamentais para atingirmos outros objectivos enquanto banda.

Porque é que já não editam um disco em nome próprio desde 2002? Têm havido problemas em relação a isso, ou simplesmente não vos apetece?

Primeiro porque não vivemos da música, nem é esse um objectivo dos elementos da banda. Cada um tem os seus trabalhos que lhes ocupam muito tempo e paciência. Depois porque quando lançamos o trabalho de 2002, adormecemos à sombra do lançamento e do que isso trouxe. Ficámos à espera que as coisas surgissem naturalmente, o que como é óbvio não aconteceu. Tocámos até à exaustão, do público e nossa, e quando percebemos que tínhamos que ter material novo, começámos a trabalhar em músicas novas. Como as coisas não surgiram com o ritmo que queríamos, começou a existir alguma frustração que nos impediu e impede de andar para a frente como planeámos. De qualquer forma, esperamos até ao fim do ano estar a gravar o próximo trabalho. Já gravámos uma pré-produção e é só arranjar mais algumas editoras e dinheiro para gravar. Já temos uma no Brasil, em princípio em Espanha também, queremos arranjar mais umas noutros países europeus, e se der noutros continentes melhor.

Vocês sempre se afirmaram como pessoas apartidárias. Pensam que, de alguma forma, a música pode ser uma boa arma de arremesso contra a própria política?

A música, e principalmente o punk e derivados, deve ser uma arma de arremesso contra tudo o que está mal. Deve lutar contra tudo o que nos impede de sermos livres, sem compromissos com convenções e harmonias acéfalas. Quer seja contra a cena do punk ou a política institucional. A verdadeira política é feita nas ruas, ao contrário do que muitos nos querem fazer crer. A forma em como vivemos a nossa vida, as decisões que tomamos todos os dias, o que consumimos, não é o voto de quatro em quatro em anos, não são um grupo de indivíduos sentados numa sala a decidir os nossos destinos. Essa é a mentira, é o logro que criaram para nos amordaçar. Delegamos os nossos desejos, expectativas e ambições, num grupo de criminosos que dedicam a vida a criarem as condições legais e ilegais, para se enriquecerem a eles e outros que tais.

Como analisariam a relação que por vezes existe entre música e política?

A mim pessoalmente enoja-me, lembra-me a música de igreja. Estão ali para validar a relação com a instituição que lhes dá de comer. O mestre e o servo, uma relação de subserviência. Quando te ligas a algo e perdes a capacidade crítica, perdes também o estatuto de ser humano, anulas a tua capacidade de raciocínio pelas decisões do líder. O desconforto e a insatisfação são substituídos pela comodidade da pertença. A criatividade é limitada pelo sancionamento do grupo. Para quem gosta de comer e calar deve ser bom, a mim a espinha custa a passar na garganta. Vivemos num mundo que não funciona, e continuamos a dar crédito a quem o estraga.

Acabando com estas questões mais ideológicas: há uns anos foram tocar ao palco novos valores da festa do avante, e o vosso som foi cortado por pessoas da organização. Afinal podem falar um pouco daquilo que se passou, e de explicarem melhor o porquê de terem acabado abruptamente com o vosso concerto?

Basicamente, resumiu-se a uma crítica que eu fiz ao partido comunista, que foi interpretada como um insulto. Para mim o problema resume-se a diferença de conceitos, de modos de análise da realidade. Não sei sequer, se fosse outra pessoa que estivesse encarregue daquele palco naquela noite, se as coisas teriam acontecido daquela forma. Já tínhamos tocado anteriormente no mesmo palco, eu tinha na minha opinião, feito críticas mais cáusticas, e nesse dia não aconteceu nada. Talvez tivessem interpretado de forma diferente a intenção com que eu o disse. Perdemos bastante público da banda nesse dia, o que contraria a acusação de mediatismo que nos tentaram atribuir. Nunca comprometemos os nossos princípios éticos, nem o faremos para alcançar uma suposta fama e reconhecimento público. Não andamos aqui para agradar a ninguém, senão a nós próprios.


Como analisariam neste momento o panorama do punk nacional? E aquelas bandas mais melódicas que toda a gente no meio punk mais underground costuma criticar?


Para mim não faz sentido sequer falar de panorama punk nacional, primeiro porque se falarmos em termos de som, postura, atitude e principalmente imagem, é coisa que mais faz lembrar as bandas de pop dos anos 80. É completamente incipiente, dedicado a meninos e meninas mimados com o cérebro atrelado a um penico, egocêntrico, patético. È uma passagem de modelos, com um prémio no fim para os mais emproados. E se alguém não tem um desgosto de amor e não passa o dia a chorar, porque o namorado(a) não lavou os pés, bem pode ficar à porta do concerto. È óbvio que existem bandas com valor, que se recusam a alinhar na mediocridade geral, mas essas que se preparem para penar.
Quanto à clássica discussão das bandas mais melódicas, é coisa que para mim não me interessa. Para mim pessoalmente, numa banda de punk, relevo mais a atitude e menos o som, o que não significa que só goste das bandas pela atitude. Só para dar alguns exemplos concretos, Bad Religion, que é uma banda que gosto bastante, são melódicos e para mim têm das melhores letras que já li. Eles têm uma postura que eu aprecio, têm defeitos e coisas que lhes critico, coisas com que não concordo, mas não deixa de ser uma boa banda. Nos Crass, outra banda que gosto bastante, o que eu mais aprecio neles é a postura, a atitude e a coerência. Descendents, outra banda que me marcou, é mais pelo som do que pelas letras.
O que quero dizer com isto, é que alguém que use uma banda como modelo para se sentir completo, para se sentir integrado, devia antes procurar o caminho de uma igreja. È bom quando existe diversidade, quando encontras um bocado de tudo num mesmo sitio. E a música deve ser isso, o punk deve servir para isso, para instigar a diversidade e o debate de ideias, para revelar diferentes emoções, a revolta contra a unanimidade, a quebra da rotina. No fim de tudo, uma banda é apenas um grupo de pessoas diferentes entre si, que partilham determinados valores e ideias. E que dentro dessa partilha de ideias, têm diferentes formas de fazer as coisas, que seguem os seus próprios caminhos.

Neste momento estão a pensar em editar alguma coisa?

Foi editado recentemente um split com Garotos Podres, e está para sair em princípio até ao fim de Julho, a reedição do strongly recommended em Espanha. Depois ,como já disse anteriormente, é esperar pela conclusão do novo trabalho, que se tudo correr como pensado, deve sair no primeiro trimestre de 2007



Obrigado pela entrevista, e é só para lembrar que se a mesma tivesse sido respondida por outro elemento da banda, as respostas possivelmente seriam diferentes daquelas que aqui ficam registadas!!!!!

Um abraço para todos os que lerem a entrevista, divirtam-se!!!!!!!!!!


ps: as minhas desculpas pela foto mas não consegui mesmo outra melhor. peço mesmo desculpa.

Noites de Luz III

à pala dos blind charge, que foram uns porreiraços em mandar isto, anuncia-se que no blá blá em matosinhos se vai dar mais uma edição da noites de luz,iniciativa da corpos editora. O espectáculo começa às 11 da noite, e como não há menção de guita para entrar será possivelmente de graça. a corpos está em busca de novas fragrâncias tanto musicais, como literárias, passando pela representação e pela dança, e aqui realiza uma iniciativa que penso ser apenas musical. Mas acredito que haja surpresas. Por isso metam a fronha no blá blá que toda a gente agradece. eu próprio ofereço uma virgem das guam(selecciono consoante alguns critérios, para além dos etários tá claro) a quem me mandar postais a dizer como foi. Por isso se querem ganhar o prémio aviem-se sim? È que com ela aqui a dar-me calores ainda acabo por não resistir e tal...(enfim conversa de cocó).

Aqui fica o flyer, onde as bandas a actuar vêm mencionadas:



Apareçam numa noite que promete.


Ps- sorry lá a qualidade de imagem mas não sou grande coisa a diminuir este tipo de cartazes via paint

Monday, July 17, 2006

Tu tubas space: norma jean-bayonetwork + horrivel ao vivo em setubal(e a história do fiambre do jumbo e do lidl)

Bem hoje apetece-me postar, possivelmente porque não estou a fazer nada de jeito. Como também não tou para escrever muito amando práqui dois vídeos: um dos norma jean, "bayonetowrk", possivelmente o tema mais "refrónico" de "o'god the aftermath", o disco do ano passado que, para mim , modificou bastante a face do hardcore tornando-o acessivel a outras sonoridasdes sem perder o seu âmago (sim existe metalcore e tal e coiso, mas os norma jean não fundem, adicioname elementos de outras paragens). Se não acharem piada às "dóceis" vocalizações da banda olhem, caguei para vocês. Vejam o vídeo e tentem arranjar-se para fazer headbanging



Já o caso dos HORRIVEL é diferente. Perfeitamente conscientes daquilo que são, a banda limitou-se a criar reacção no público através da comprovação que a qualidade do fiambre no lidl é igual à do jumbo. Essa comprovação dá-se com os berros de raiva, pois toda a gente sabe que no lidl o fiambre é mais barato. Será que os horrivel arranjaram patrocínio dessa marca de supermercados? ninguém sabe. mas é possível que não, já que o público não deve ter concordado com eles ao mandar-los para casa umas belas vezes. Isto setubal ainda deve andar muito dominado pelo jumbo está bom de ver. Aqui fica o horrivel vídeo:





Mais um post feito hoje, desta vez com um video serio, e outro quase humoristico, embora também de intervenção - os horrivel apostam em defender os consumidores de fiambre.

Thursday, July 13, 2006

UnderOATH- Define the great line (2006)




Jovem: tens uma idade que já te permite andar a trepar pelas paredes? gostas de gente com uma dose de emoção xxl a cantar os lamentos pessoais do género "desgraçado de mim a rosa ali da esquina murchou, vou cortar os pulsos porque a vida é uma merda?". achaste que o anterior disco dos underOATH era absolutamente genial, e que tinha grandes temas emocionais,com refrões fantabulásticos? Ok aqui até tens razão. Tens o cabelo maior que uma tigela, piercing no lábio, usas calças allstar, t-shirt às riscas e tens olhos verdes(ou lentes de contacto a puxar pó verde)? Basicamente...és um emo-kid? Então relaxa...este novo disco dos underOATH NÃO é para ti.

Porque não é mesmo. "define the great line" não dá favores a ninguém e esquece-se de muita da melodia emanada em "they're only chasing safety". Começa logo de rompante com "in regards to self" que, embora não rompa totalmente com o passado da banda, coloca-o num patamar mais pesado, muito mais de acordo com o primeiro disco "the impact of reason".
Aliás se quisermos fazer uma análise um pouco mais fria, poderemos dizer que muito do que se ouve em "define the great line" é um misto entre esse primeiro disco e o mais melódico "they're only chasing safety": possui algum do peso do primeiro, mas abarca-se de muitas das texturas melódicas do segundo. As guitarras são mais pesadas, os refrões são muito menos catchy, e o disco demora que tempos a entrar em qualquer ouvido, mesmo no mais acostumado e habituado a uma sonoridade um pouco fora dos trâmites mais comuns do emo/screamo.
Aliás mesmo um tema mais acessível como é "A moment suspended in time", nunca chega aos calcanhares da magnitude refrónica de hinos como "a boy brushed red...living in black and white" ou "it's dangerous business walking out your front door". e ainda bem.

Sim, disse "e ainda bem". Porque é mesmo. O que aconteceu neste disco foi um passo em frente, uma rotura com o passado, mesmo que apostada em fundir os dois discos anteriores. Os primeiros temas do disco, e também os últimos assim o dizem. As canções são mais atmosféricas, apostam muito em incidir as guitarras para ambientes específicos, ao invés de quererem despachar a letra toda para desaguarem no refrão para toda a gente cantar em uníssono. aliás o único tema mais de acordo com o disco anterior será possivelmente "writing on the walls" que, mesmo assim, consegue ser diferente devido à sua rapidez, e aos seus trepidantes riffs de guitarra.

Eu falei em primeiros e últimos certo? Certo. Porque é em 3 temas que todo o busílis da questão se põe. Esses 3 temas formam um dos casos mais ambíguos que tenho ouvido nos últimos tempos. Porque, se por um lado beneficiam claramente o disco em criação de novos ambientes com recortes um pouco experimentais e em formar o próprio público dos underOATH a ouvir algo mais adulto, por outro tira alguma homogeneidade ao disco.


Explico: os temas aqui em questão são "salmamir", "returning empty handed" e "casting such a thin shadow". A primeira cria uma atmosfera sonora quase minimalista e coloca um discurso, possivelmente de um árabe, a um grande público. Mais que um tema per si, é uma experiência auditiva. È ouvir instrumentalizações de fino recorte, a baixa rotação ao mesmo tempo que se ouve uma linguagem diferente daquelas que conhecemos. E que dá o mote para o ema seguinta, uma genial abordagem a um terreno instrumental quase post-doom. Parece ridículo o que vou dizer, mas imaginem os cult of luna a enfiarem um bom bocado de screamo pelas goelas abaixo, e perceberão o que se ouve aqui. Uma malha emo mas com ambientes post doomianos. Soa estranho mas, enquanto tema, acaba por soar fantástico e inovador. Depois é só falar da última canção deste rol que surge igualmente atmosférica, mas parece ser uma espécie de "ressaca" face ao que se ouviu anteriormente. A voz é quase lamentosa, a base instrumental é mais lenta e por vezes dolorosa, que depois se transforma em fúria e raiva.

E a verdade é esta: estes três temas são, possivelmente, dos melhores que a banda já fez até hoje. O pior é que existe uma conceptualidade a eles inerente: e que, de todo, não consegue viver amigavelmente com o resto do disco. Imaginem um prédio onde 3 condóminos são umas babes fantásticas cheias de curvas e tal e coiso(sim quem é gaja pode imaginar o contrário pronto..bah), mas que depois fazem uma barulheira do caraças quando um gajo quer dormir a um dia de semana. Era preferível morarem num sítio onde fizessem barulho, tipo uma vivenda não era? E ok que a gente as conhecesse bem e fosse lá visitá-las muitas vezes. Por isso se "salmamir", "returning empty handed",e "casting such a thin shadow", fossem um ep, levariam um 9/10. Assim como este disco.

O problema é que aqui temos de avaliar o todo. Se fosse individualmente também dava ao álbum nota quase máxima, sobretudo porque o considero superior a "they're only chasing safety". O problema é que falamos de um disco com 11 temas, e não com 8 + 3. Daí que, e com muita pena minha, vou dar uma nota mais baixa. A um disco muito bom, a um passo em frente da banda, e a uma possibilidade de enorme crescimento e vitalidade dos underOATH

8/10

Sunday, July 09, 2006

Compilação OPUSKULO- vol. 1




Que existam realmente pessoas mais inteligentes que outras, é um facto desde a pré-história. Que eu não faço parte dessas rol de pessoas a modos que a puxar para uma maior inteligência, é outro ponto assente. Agora a isso aliem falta de imaginação, e sobretudo e iniciativa. È verdade: nunca me tinha passado pela cabeça fazr uma compilação com as bandas que já cá meti no blog.
Quer dizer...pelo menos vendê-la, já que tenho um cd a rolar com temas de, entre outros, blind charge, more than a thousand(os 2 sons do teen massacre), linda martini, one hundred steps, entre mais coisas. e outro ainda com humble, unfair,my cubic emotion, ou os three and a quarter que ainda não passaram por cá (bem como os unfair é verdade). Enfim, coisas para consumo interno, para meter no carro ou no leitor de cd's. Mas daí a contactar as bandas para fazer uma compilação, e vendê-la posteriormente isso foi coisa que nunca me passou pela cabeça.

Por isso esta compilação do opuskulo (http://www.opuskulo.pt.vu) consegue ser uma atitude extremamente inteligente e inventiva de promoção a novas bandas. A bandas que têm vida complicada para se auto-promoverem, e editarem trabalhos e necessitam de todo o apoio. Tábem que por aqui isso, apesar de tudo, também se faz. Embora já não hajam entrevistas há algum tempo (juro que não é por falta de minha iniciativa, as bandas ditas pendentes é que infelizmente ainda não tiveram tempo de responder às perguntas, algo perfeitamente legítimo e compreensível), considero que o blog tem conseguido meter por aqui bandas com nome pouco firmado, e isso é claramente bom. Mas isso o opuskulo também faz e ainda com mais estilo: esta compilação só prova isso.

Bem, deixo aqui o alinhamento: o preço é 3 euros, as encomendas podem ser efectuadas para o mail do blog, e algumas das bandas também por aqui já passaram. Muitas não conheço eu, admito que sejam todas viradas para o metal um pouquito mais extremo (vertente por aqui pouco abordada, talvez com excepção dos the ladder), e provavelmente valerão a pena a audição. Aqui fica o line-up:

Pitch Black - «Disturbing the Peace»
Men Eater – «Heart Beating Locomutiva»
Blind Charge - «Fall»
Switchtense - «My War»
Underneath - «Souless / Life Status»
Congruity - «Rupture»
Panzerfrost - «Infernal Black Metal Attack»
Requiem Laus - «Reflection of God»
Grimlet - «Knee Deep in the Dead»
Morbid Death - «Insane»
Insaniae - «Porque fomos somos, porque somos seremos»
Witchbreed - «Medeusa»
Painted Black – «The Everlasting Guilt»
Skypho – «Demon’s Party»
Chemical Wire - «Riot»
Horrível - «Grutas»

Por isso se arramjarem um blog, convidem bandas para fazeruma compilação, para comemorar nem que seja o vosso primeiro post ou o post número 984556. Já que há alguns cromos que se esquecem que essa é uma opção viável...bem vai na volta ainda faço o mesmo, é um caso a ser pensado.

Tuesday, July 04, 2006

Peeping tom- Peeping tom (2006)



Pronto, no meio de tanta gente a não falar muito bem do moço Patton lá vem alguém defendê-lo. Ou, pelo menos, tentar explicar porque raio "Peeping tom" não é um disco tão fracote, e até algo monótono, como muitos o pintam.

Em primeiro lugar o óbvio: Mike Patton é um génio. Ainda por cima um génio versátil: tanto anda no meio do hip-hop com Rahzel(que contribui para um tema deste disco, o primeiro e mui catchy single "Mojo"), como depois vai ter com os the dillinger escape plan, dar uma perninha ao noisecore quase doentio,mas belíssimo, da banda. claro, já para não falar de mr.bungle, faith no more(onde foi substituir o "bebedolas" do mosely..isto segundo a própria banda), tomahawk, fantômas etc etc etc.

"Peeping tom" era um disco que antes de o ser já o era: tais eram os boatos que o implicavam, que diziam que pessoa x ia entrar nele, que ia aparecer nos escaparates no ano y, entre tantos boatos que houve um período de saturação. Eu pessoalmente, já nem achava possível a concretização de um projecto tão duradouramente adiado, um projecto que quase se assemelhava ao "chinese democracy" dos guns n'roses, num lógico patamar mais baixo de exposição.

Vai daí e Patton lá se decide a andar para a frente com isto. Ora o normal seria que, perante tanta demora e tanto "anda não anda" o disco era mais uma típica obra-prima. Mais um disco recheado de rasgos de génio, de momentos grandiosos, novas sonoridades, a voz de patton em diferentes abordagens, de novas linguagens musicais que fossem uma rotura com aquilo que Patton já fizera.

Pronto, nada disto existe."Peeping tom" é um disco pop: pop com acesso a samples, a sintetizadores, a toda uma panóplia de instrumentos normais numa pop com alguns laivozinhos electrónicos(para mim evidentemente, que acho que música electrónica misturada com pop é nitroglicerina), mas é pop. A voz de Patton faz lembrar certas músicas mais melódicas dos faith no more (vão ouvir os maravilhosos "Everything's ruined" ou "A small victory" e percebem o que quero dizer), os convidados dão o seu toque pessoal aos temas, e pronto. No entanto não há um rasgo absoluto de génio, não há um tema que nos deixe de boca aberta, espantados com a tenacidade e inteligência de Patton ao criar tamanho pedaço sonoro.

Mas... Porque raio queremos que o homem faça sempre obras de arte absolutas? Pusemos a fasquia tão altas que já nem sequer conseguimos apreciar um momento de descontracção do génio. Esperámos tanto por isto, que achámos que "peeping tom" tinha que sair um ícone canónico superior a mozart(exagero evidente), com momentos fantabulásticos e tal e coiso. Já Patton não pode criar momentos sonoros deliciosos, como é "mojo", o primeiro single, com um refrão muitíssimo bom e uma excelente recorrência a beats de hip hop? Ou não pode dizer a norah jones "ah e tal pragueja lá um bocadinho, diz lá motherfucker para toda a gente se rir?"(ela não berra, pragueja, isso foi erro idiota do post abaixo), num tema carregado de ambientes nocturnos, baseados em batidas também relacionadas com o hiphop? Ou não pode fazer "We´re not alone" com outro refrão muito bom, a dignificar a canção pop com vários desvios rock e algumas ambiências que provêm do trip-hop?

Pode. "Peeping tom" é um disco pop, com recursos ao rock, trip-hop e ao hip-hop sim senhor, mas não deixa de ser pop. "Peping tom" foi o disco que Patton quis fazer, o disco onde lhe apeteceu descontrair um pouco, e dar aos seus habituais ouvintes alguns momentos de normal rambóia enquanto não volta a fazer um disco mais elaborado. Se algumas pessoas ficaram decepcionadas eu percebo: agora "peeping tom" não é um mau disco em lado nenhum, bem pelo contrário: tem óptimos momentos, canções catchy e de ambiências variadas, e uma personalidade a ele inerente. não é a perfeição absoluta, mas é um bombom especial para o calor que (esperemos) há de vir aí. È o imaginar uma sala de espera...mas em vez de termos aquelas cadeiras podres, uma empregada rabujenta,gorda e com barba, e um cheirete a mofo, apanhamos com um par de belas senhoras a abanarem-nos com aquelas palas havaianas ou o que é aquilo, e nós sentados naquelas cadeiras que se alongam, no meio da praia(vá imaginem uma sala de espera ao pé do mar faxabôr), a beber a nossa caipirinha(olha um dos temas do disco, provavelmente o mais exótico) . E isso é bom não é?

7/10