Mono- You are there (2006)
Os mono são daquelas bandas que carregam por si só uma considerável dose de exotismo. Em primeiro lugar são nipónicos. Depois o tipo de som deles vagueia muito entre o post-rock de uns mogwai e o próprio pós-doom (ou seja que nome quiserem dar ao movimento) de uns isis, compactando tudo em atmosferas muito próprias, onde a paralização instrumental (como este meu novo termo inventado, pretendo dizer que ficam muito tempo no mesmo tom) é algo de extrema importância. e depois porque, fundamentalmente, baseiam a sua sonoridade em longas e doces atmosferas, que ombreiam lado a lado, e sem perigo de colisão, com sonoridades mais pesadas.
Mas a banda não era bem assim desde início: sim eu sei, há aquela coisa bonita e com sentido chamada "evolução", e foi precisamente por aí que os japoneses,felizmente, enveredaram. "Under the pipal tree", o primeiro disco da banda, embora já explanasse muito do post-rock agora tocado também estava demasiadamente colado a alguns clichés sonoros, até a algum indie-rock que, na altura, os mono acharam conveniente abordar. entretanto mais dois discos foram editados pela banda (se não contarmos com o LP "new york soundtracks") e tudo fui mudando. Os mono foram ganhando um considerável culto, a fama foi crescendo, e a própria produção ganhou um mestre: Steve Albini é quem produz este disco. E, para quem não sabe, foi ele que produziu obras primas como "The eye of every storm" dos Neurosis, e "surfer rosa" dos pixies.
E agora... Que são os mono? O que é "You are there"? Talvez seja vida. Existe a óbvia manobra da repetição de sons e tonalidades, mas muitas vezes em sentidos mais melancólicos que a maioria do post-rock. E mais arrastados também. Muitas vezes mais delicados e frágeis, menos rockeiros com uma abordagem muito mais minimalista às linguagens musicais. Mas, ao mesmo tempo, tudo nos soa tão eficazmente cuidadoso, que as melodias como que aparecem dentro de um céu azul pintado à nossa frente, e onde nós próprios nos conseguimos retratar. Mas também nos podem surgir fortes...duras. e ecoam nos nossos ouvidos quase como rituais de sacrifício, nos quais temos todo o prazer em entrar.
São paletes sonoras que vão evoluindo à medida que a música vai no seu longo crescendo. Mas a beleza das paisagens fica sempre ali, não parte,nunca vai desgarrada de um som que sempre a acompanha e a sente.
Mas por outro lado existe a vertente pós-doom. Um tema como "Yearning", o mais longo do disco (quinze minutos), surge-nos com uma sonoridade muito à isis ou pelican, com a toada mais pesada a afirmar-se solenemente, e mesmo "moonlight" que fecha o disco com chave de ouro, tem algumas destas características. no entanto nada disto soa destoado, ou descabido num disco que prima pela extrema consistência de todos os seus seis temas.
são portanto uns japoneses, que nós achamos que são só vidrados em computadores, empresas e trabalho, que nos vêm dar uma lição de fragor e frescura sonora, num género onde ,cada vez mais, se torna complicado inovar (que o digam os mogwai, que devem andar com as orelhas assadas, à pala da maioria das críticas negativas ao bom disco que é "mr beast"). Porque não duvidem: é magnífico ouvir a tamanha majestosidade e grandiosidade, de todas as atmosferas dos mono. Que, tantas vezes, se tornam pequeninas,dóceis, suaves. Mas bonitas...maravilhosamente bonitas.
Com "You are there", os mono chegaram a toda a maturidade sonora. Souberam equiparar as tonalidades mais pesadas e programáticas com aquelas minimalistas e suaves(onde ter um violino,penso eu que é um violino, ajuda muito) e conseguiram claramente juntar o melhor de duas vertentes que ainda estão muito condicionadas comercialmente :especialmente, claro está, o pós doom. Mas, o mais importante, é uma pessoa conseguir-se deleitar com as perfeitas melodias, e a beleza intrínseca a toda a música dos mono. Isso é uma benesse. Bem hajam por isso.
9/10
2 Comments:
Uma review ao nível do álbum.
Abraço.
boa, disse tudo brother
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