Monday, February 26, 2007

Madcab - keeping wounds open(2007)



Os madcab são daquele tipo de bandas com que nós só podemos simpatizar. Não falo só em gostar do tipo de som deles, ou em gostar da performance do guitarrista, baterista ,etc, mas também a nível humano. Os madcab já cá andam há uns aninhos e nunca desistiram, mesmo quando toda a gente os comparava simplesmente a uns pearl jam, entre outros ícones do chamado "grunge". Foram crescendo por sua conta e risco, andaram por aí em auto-promoções e arranjaram-se muito bem no fenómeno boca a boca. Mesmo que não se goste deles, e se ache que este "keeping wounds open" é o pior cocó à face da terra, parece-me importante realçar esta força de vontade e crença no futuro.

Agora também é verdade que nada disto implica que se goste do primeiro disco de longa-duração da banda lisboeta. Uma coisa é a impressão que a banda nos deixa em se sacrificar em prol daquilo em que acredita(e ver resultados práticos disso), outra é elogiar a qualidade musical em virtude disso.

Bem e com isto tudo, parece que "keeping wounds open" é um alto esterco do qual me vou fartar de desancar, mas apeteceu-me salvaguardar primeiro o meu respeito pela banda... Bem felizmente o disco não é nada assim. "Keeping wounds open" não é uma obra-prima não senhor, mas é um disco de rock extremamente seguro e firme, com alguns momentos de brilhantismo. Abre muito bem com "liar", um tema de contornos relativamente negros, muito por causa das guitarras e sua distorção, continua na excelente "beggars" que tem um refrão contagiante e merecia ter um airplay decente nas nossas rádios, e tem espaço para uma espécie de chill-out com a muitíssimo interessante "Sweet bone chill"(pois a última palavra do título é capaz de não ser inocente). Keeping wounds open", tem também solos vibrantes, como se comprova na instrumental "Countless joys of commercial suicide", e momentos de carregadas atmosferas como em "dodge", já para não falar na curiosa despedida com que nos presenteiam.

Este disco dos madcab tem desde já algo importantíssimo: uma identidade. È um disco que deixa marca, que não soa anónimo, que não poderia ter sido feito por uns outros quaisquer que andam a mendigar por aí. Assenta de facto no peso das guitarras e no óptimo trabalho de bateria de Luís costa, e na voz de Luís Silva que é bastante característica(que leva algumas pessoas a não gostar). e isto num género tão genérico como o rock é realmente a parte mais difícil. Por outro lado tem também uma sensibilidade pop tremendamente interessante, e que também influencia decisivamente o disco, para que ele não se perca no meio de tantos outros ítems musicais.

E assim se comprova com a mestria instrumental, que tem o seu quê de catchy. Pelo contágio de alguns refrões, como da já referida beggars. Mas também nos dá um rasgo de inspiração quase à linda martini(se me é permitido dizer isto, e é), com a tal "countless joys of commercial suicide". Também não é dispicendo dizer que ele necessita realmente de ter alguns "ganchos" para que as pessoas não se percam do álbum.

E vou já explicar esta última frase. o que "keeping wounds open" tem como problema principal é que soa relativamente monótono a certa altura . Não que o disco não seja fluído e não seja de boa e agradável audição, simplesmente alguns temas têm o mesmo tipo de estrutura. O que decorre não de falta de inspiração, mas sim da vontade em afirmar a identidade madcab. Nota-se que falta aqui um apimentar de qualquer coisa fora da sonoridade mais comum do rock, para dar o verdadeiro toque de mestre a este material, para que ele possa sair da categoria onde poisou, e voar rumo à universalidade musical(metáfora meio manhosa mas serve).

No entanto há tempo para isto acontecer. O que sobra é um disco de rock, com uma ou outra influência grunge ainda visível, mas sério e sólido o suficiente para termos de encarar os madcab como uma banda a dar ainda mais cartas daqui a uns anos. Para já atente-se na excelência de algumas canções como as que já referi, e na excelente concepção melódica que é uma constante em todo o álbum. Daqui ninguém vai sair defraudado.

8/10




Importante: dêm beijinhos aos madcab num concerto qualquer (se forem homens a sério como eu, palmadas nas costas fortes e vigorosas e tal), porque eles realmente fazem parte do lado bom da força: disco grátes e legalzinho no site que vou disponibilizar a seguir. e mandem o vosso bitaite sobre este álbum nos comments já agora.

http://www.keepingwoundsopen.com

e já agora o myspace deles(com as futuras datas de concertos), embora já o tenha disponibilizado por aqui:

http://www.myspace.com/madcab

Friday, February 23, 2007

"Babel" de Alejandro gonzaléz iñarritu



"Ora portantos... putos com fácil acesso a armas confere. Ameaças a terroristas? confere. Miúdas surdas japunas e que andam sem cuecas?confere. casamento mexicano para dar aquele ar de tipicidade à coisa?confere. americanos todos cagados de medo em estarem num local estrangeiro?ora sim senhor confere. música toda giraça para dar um ar seco a isto? confere.realização meio trepidante? ora siga lá, confere. Povo a chorar para fazer com que as pessoas se emocionem a ver isto? Pois tá claro, confere."

E o que fica? Pois. Esta é uma das conversas possíveis de iñarritu com o argumentista de "babel". Isto se tirarmos a parte da banda-sonora e da realização pois claro(embora esta última enfim até se pode considerar enquanto marca estilística do realizador). No entanto este filme-mosaico, agora tão na moda como os antigos namorados da elsa raposo, poderá ter tido outro tipo de introdução. Qualquer coisa como "siga lá fazer um filmezito onde dê para ver BEM a tal cena do todos diferentes todos iguais e tal".

Meti o "bem" em caps, porque ele é precisamente o maior problema do filme: a sua suprema necessidade em que as pessoas consigam compreender na perfeição uma coisa que, supostamente, até já sabem: a questão de incomunicabilidade num mundo que se apelida de global. Ora quem vai ver "babel" já tem uma ideia de que realmente os states rulam o mundo e nós somos constantemente bombardeados por eles a todos os níveis. Agora, era mesmo preciso dar esse tom globalizante através de uns putos marroquinos que dão um tiro a uma gaja americana?

Não. E porquê? Demasiado óbvio. Demasiado banal, reles. Quase como se fosse uma desculpa para vermos a japonesa a mostrar a passarinha(termo ridículo, mas já devem ter percebido que eu não achei grande graça ao filme). Aliás que raio está ela ali a fazer? Ah pois é surda-muda...a metáfora linda e bela da bacana que não comunica com o mundo. Ou seja, o facto dela ser surda-muda prova que somos todos porque não nos conseguimos entender. Fixe. Era preciso usar mesmo uma surda-muda para dar azo a este facto? O inãrritu e povo adjacente não arranjavam uma maneira mais subtil de o fazer?

Ainda por cima, se atentarmos à cinematografia de iñarritu, toda ela se baseia em histórias humanas. Temos o problema das classes em "amores perros", da condição humana, da própria vida através de um cão. Temos as especificidades de cada personagem em "21 grams", as suas vontades em alcançar uma redenção que resulta em consequências diferentes para cada uma delas. e temos "babel" que faz precisamente o contrário: esquece as pessoas, e foca-se no mundo globalizado. A verdade é que nenhuma personagem está desenvolvida o suficiente para nos podermos realmente importar com ela. Ok, eu até tive pena dos putos marroquinos, os desgraçados que desencadearam o tal efeito-borboleta que teve consequências trágicas para um deles(acho eu), mas de resto foi a pobreza total.

Depois outro problema: mais que um filme-mosaico, "babel" é um filme-postal". Explico: filma o casamento mexicano de um modo relativamente forçado primeiro que nada. Lá estão os tipos mexicanos que tocam, lá está a cerimónia na rua, uma corrida às galinhas que evidentemente ia meter um bocado de nojo aos putos americanos. Em marrocos o mesmo: marrocos parece uma simples aldeia metida nuns montes, onde ninguém vai e não há acesso a nada. Mas isto não é precisamente o nosso perssuposto ocidental sobre os outros povos? Não teria sido mais interessante filmar por exemplo a cidade marroquina para onde foi depois a cate blanchett(não me lembro do nome dela no filme), e até colocar ali alguma personagem importante? Não é também isto um preconceito do própior iñarritu, quando o objecto do filme é precisamente tentar que nos vejamos uns aos outros como reais humanos que somos?

E o japonês? E a miúda surda-muda? È que para além da evidente metáfora da não-comunicação(iñarritu a querer fazer de nós parvos portanto), era preciso filmar tóquio em modo lost in translation?. O tal postal "para estrangeiro ver"? È que, repare-se na diferença: sofia coppola filma assim a cidade porque está a vê-la do ponto de vista de dois estrangeiros. Agora iñarritu tem por base uma miúda japonesa, que decerto está minimamente integrada na cidade. Pode não estar na sua sociedade, mas há de se mover com leveza com naturalidade. Ou seja, grandes planos "turísticos" eram escusados.

E o facto de ela ser ninfomaníaca é para quê? Para dar um ar dramático à personagem? "Ok sou japonesa, surda-muda, o meu drama é não ter sexo". Será que é possível que a única coisa que ela encara enquanto drama é o seu celibato obrigatório? Olha porra. Mais valia iñarritu ter pegado em termos noutro problema que ela tem,noutro trauma. Mas não. Assim era mais fácil. Caricaturar é sempre mais fácil que fazer uma personagem com verdadeiras motivações e problemas, simplesmente não se esperava que o mexicano fosse pelo caminho mais fácil.

Como já escrevi demais: "babel" está demasiado colado ao rótulo de "filme de óscar para americano ver". È bem provável que o ganhe, afinal é contemporâneo e fala do mundo em que vivemos de uma forma minimamente verdadeira(o único ponto positivo do filme). só que iñarritu podia ter feito muito melhor em mostrar a nossa ausência de comunicação, do que meter um puto a dar um tiro a uma estrangeira, uma surda muda que quer ter sexo a todo o custo(e agora argumentem lá que ela tem um complexo de inferioridade por ser assim...mais uma vez lá surge a caricatura), e uma mulher que leva dois putos para o méxico.

Assim, em vez de nos meter a pensar em questões realmente importantes sobre o nosso mundo, "babel" só me deixou uma questão na cabeça: como raio é que os marroquinos tinham os dentes tão brancos?

4/10

Monday, February 19, 2007

Jesu - Conqueror(2007)



Justin broadrick é realmente um tipo do caraças. Integrou os napalm death, e foi a mente por trás dos godflesh, banda que misturava industrial, certas noções de metal, rock, numa mescla saladeira que se aprumava de disco para disco. A mente por trás de "final" um projecto que mistura musica ambiental com elementos electrónicos, que teve no ano passado terceiro rebento com o disco "3". E dos Jesu. Possivelmente uma das bandas mais caracteristicamente incaracterísticas deste novo milénio.

A carreira dos Jesu começa com "heartache" em 2002, dando origem a um disco homónimo pouco concludente. Apesar disso "Jesu", o disco, conseguiu agarrar muitos críticos e ouvintes e deu coragem a Broadrick para continuar na sua senda. Abençoada gente que aclamou o disco porque "silver", o ep grandioso do ano passado, é daquele tipo de obras que ficam na memória de quem a ouve, quer pela sua beleza ambiental, pela profundidade das canções, pela comoção das melodias. e pela habilíssima mistura entre sludge ambientes electrónicos e aquilo a que se chama shoegaze, uma mistura de indie-rock com pedaços consistentes de distorção.

È precisamente no meio dessa muralha de distorção que incide o peso dos jesu. Mais que nas guitarras aliás: embora se revele enganador dizer que a banda de broadrick é de facto pesada. E o novo "conqueror" vem reforçar ainda mais esta ideia.

A grande dúvida neste novo álbum, estava em perceber se a beleza de "silver" iria ser seguida, e se os jesu eram capazes de a tornar viável para um longa-duração. Não se negue isto desde já: O ep "silver" resulta também por ser curto. Quatro canções com cinco/seis minutos, perfazem a conta certa e conseguem fazer com que a sonoridade do conjunto de birmingham(para além de broadrick estão presentes o baterista ted parsons e o baixista Diarmuid Dalton) não se torne demasiado enfadonha - um dos defeitos normalmente apontados a todo o sludge. "Conqueror" reforça "silver". Ou por outro lado torna-se de facto entediante? A resposta não pode ser encarada de um modo universal. Mais que nunca dependerá sempre de quem gosta deste género. De uma opinião pessoal.

Primeiro que tudo: "conqueror" possui excelentes canções. O tema que dá nome ao disco, e que também o abre, é uma delícia sonora que conjuga os ambientes mais sujos e de distorção, com orgão, a voz meio programática de Broadrick e uma linha melódica fascinante. Tem alguma relação com "silver" (a canção que deu nome ao ep pois claro). Há "old year", provavelmente a melhor canção que a banda britânica já fez: arrastada, pesada, lenta, sôfrega. Caracteriza-se muito pelo peso da bateria, pelas guitarras, num registo de sludge/pós-doom um pouco mais convencional. E tem uma melodia tremendamente bela, intensa, doce e inóspita ao mesmo tempo. Estas são possivelmente as melhores canções de "conqueror" e, ainda por cima, abrem logo o álbum. depois ainda há a beleza mais uptempo de "Transfigure", a repetição sonora mas de contornos belíssimos como "Weightless & Horizontal", a doçura da final "stanlow". Mas o que aqui coexiste é a sonoridade incrementada destes tipos britânicos, sem grandes oscilações entre os temas.

Ou seja, a grande vantagem dos jesu é, ao mesmo tempo o seu maior defeito: a sua sonoridade mais que incrementada. Os jesu sabem que ambientes criar, fazem-no de uma maneira belíssima, mas quem realmente não gosta desta sonoridade é complicado poder gostar deste álbum. Porquê? Primeiro porque ele é tudo menos acessível. È preciso conhecer minimamente aquilo que a banda já fez para se poder apreciar devidamente "conqueror". Acaba por ser simples criticá-los por serem meio "chatos", porque a voz de broadrick não está alta o suficiente(e no sludge a voz é sempre encarada como mais um instrumento, isto quando ela de facto existe). Agora toda esta crítica não passa de uma desabituação à sonoridade dos Jesu.

Porque este disco é belíssimo. Tem temas enormes, recheados de emoção, melodia, distorção, peso, ambientes grandiosos e outros que nos comovem. È um fresco artístico digno de grandes músicos, de artistas com "a" grande. Não é perfeito, simplesmente porque não é um mastodonte de inovação. È Jesu. E Jesu é sinónimo de genialidade incompreendida por muitos, deliciosa e aliciante para uma grande minoria. Daí ter uma sonoridade quase incaracterística(porque rara, porque única, porque não se deixa envolver por influências externas), mas bastante demarcada.

Os Jesu não estão aqui para agradar a ninguém. Mas sim para serem ouvidos por quem quiser ter tempo para apreciar o que eles fazem. Para quem não os conhece: vá ouvir primeiro o "silver ep", mais acessível e igualmente fabuloso. Depois saltem para este "conqueror" e vão ver que a descoverta será avassaladora.

9/10

Friday, February 16, 2007

Aereogramme - My heart has a wish that you would not go (2007)



Quarto disco dos aereogramme, depois da brilhante prestação com os isis no ep "in the fishtank 14". Nunca tinha ouvido nada desta gente, no entanto a participação naquele ep despoletou-me a atenção para agora ter arranjado o disco. Já sabia, antes de lhe ter dado a ouvidela, que estes aereogramme eram muito receptivos a uma certa sonoridade pop, provavelmente mais próxima de uns death cab for cutie, que propriamente das ambiências britânicas, de onde eles são originários (embora hajam por aqui uns cheiros a snow patrol... ou o contrário se quiserem ser mais acutilantes).

"My heart has a wish that you would not go" é, na sua essência, um disco pop. Daqueles bastante adocicados. Com uma voz bastante suave e que se prolonga como tal, ao longo do álbum. e com mais alguns elementos(como violinos no primeiro tema e segundo tema, parece-me) que se vão interiorizando nos temas. Há inclusivamente aqui uma vertente épica por detrás da simplicidade das texturas. Uma mescla curiosa entre os instrumentos ditos convencionais, e aqueles de cariz mais clássico.

Mas o mais importante a reter de "my heart has a wish that you would not go", é a enorme simplicidade de processos que a banda tem. A capacidade em colocarem a variedade musical nos momentos certos, não abalando em nada as canções criadas. são temas que exultam sensibilidade, sem sequer terem uma ponta de lamechice, algo que não seria propriamente positivo. Aqui existe um limite correcto e bem delineado, entre aquilo que é belo, e aquilo que é uma lamechice do caraças.

Por isso as emocionais "a life worth living", "conscious life for coma body", e mesmo a mais pesada "Living backwards" nunca soam forçadas ou fora do contexto. E no geral toda a rodela musical é fluída, bem montada e agradável. Simpático. Mas belo dentro dessa mesma simpatia. Ou seja, é um álbum que nos evoca sentimentos de solidariedade..como se não fosse possível não gostar de alguma coisa que ele contenha: há aqui canções para dar e vender, recheadas de nervo e de alma. e isso ainda hoje vale alguma coisa.

È verdade que tudo isto já foi, mais ou menos bem, feito... é verdade que os aereogramme não pretendem mudar o mundo, nem o seu espectro musical. simplesmente andam por cá a fabricar canções de que gostem, que podem ser ouvidas por todos, e aceites por ainda mais gente. Para quem gosta de death cab for cutie é um disco absolutamente recomendável. Para quem não gosta é simples: saltem a muralha que vos impede de apreciar uma coisa simples e sentida. Não a considerem lamechas, porque não me parece ser este o caso. e depois é só deixarem que este disco vos invada. Possivelmente o melhbor álbum de pop do ano( e sim eu sei que estamos em fevereiro...reparei que usei "possivelmente").

9/10

Thursday, February 15, 2007

Nine inch nails @ Coliseu de Lisboa (12/2/2007)

Os nine inch nails são daquelas bandas(embora se possa falar apenas em "projecto", dado o controle criativo total que reznor continua a ter sobre os NIN) que já deviam ter cá aparecido ao tempo. Para colmatar essa falha, lá se afiambraram ao piso e marcaram logo 3(!) datas para o coliseu de lisboa: no último sábado, domingo, e ontem.

Antes de mais as reacções aos dois primeiros concertos foram relativamente díspares: se o primeiro concerto foi considerado inferior ao segundo, a verdade é que a setlist da estreia me pareceu melhor...basicamente estive um bocado borrado de medo, pelo facto de não terem tocado, por exemplo a "terrible lie", nem a "piggy", nem outras que me dão uma bonita vontade de andar aí a berrar feito idiota. No entanto nada disto interessava. Afinal o mais importante era perceber que, uma vez lá dentro, iria ver os nine inch nails in loco pela primeira vez na vida. e isso era o mais importante.

No entanto, começaram uns tipos quaisquer que ninguém conhecia: "The popo". Nome idiota, gajos meio parvos lá em cima, música banalíssima entre o post-punk e rock um bocado mais sujo à la death from above 1979. no entanto não se pode dizer que os gajos não tenham sido uma boa abertura. Explico: viu-se que eram uma banda totalmente descomprometida, sem grandes artifícios. Chegaram ali, deram o concerto deles, vieram embora, aqueceram o público. Para uma banda com um som bastante corriqueiro, e que ainda por cima só tem um álbum editado não é preciso pedir mais.



the pop a fazer uma cena qualquer, tipo concerto, num canto recôndito do planeta ou coisa do género

E depois foi esperar...ouvir uns quantos temas(entre eles, imagine-se!, "Farewell" dos japunas Boris, tema de abertura do grande "pink) e mirar reznor a surgir numa torrente de fumo. Eis os nine inch nails.



E começaram bem...ao terceiro tema já iam lançando o delírio com "Sin", um tema eficazmente dançável, que fez toda a gente ir à loucura. Isto depois de um início um bocadinho mais morno("Pinion" e a nova- do with teeth portanto- "love is not enough"), mas ainda assim suficientemente bom para colocar logo toda a gente mais que atenta ao que se ia passando.

A seguir foi o meu pessoal delírio com a "terrible lie", tema que queria que os gajos tocassem, nem que fosse pelo facto de ser provavelmente aquele que mais me deixa a salivar. e continuaram com "march of the pigs"...penso ter sido aqui que reznor manda o seu microfone abaixo com toda a loucura inerente ao acto. Foi de facto uma banda bem enérgica que por ali esteve. Cheia de raiva para dar, sendo que as palavras eram parcas, como é típico em reznor.



Depois, o espectáculo: o jogo de luzes, os candeeiros e o enfoque que cada um deles dava na altura certa. O próprio fumo que deu uma aura de misticismo a toda a banda. Estava tudo pensado ao pormenor, e afinal o concerto foi sempre intenso e visceral...não como se num lugar qualquer sem palco e com pouca gente, mas ainda assim visceral o suficiente para ficarmos em êxtase. ainda por cima com músicos tão dedicados à causa, como aaron north(o mesmo dos icarus line) que se encarregou de partir a sua guitarra à nossa frente no fim do concerto. Ou algo do género pelo menos. Não que isto seja propriamente o exemplo máximo de deciação, mas representa o estado dos músicos no fim do concerto. Uma loucura muito própria, que não deixou de ser notória.




Ainda assim faltam aqui momentos: como "the fragile" tocado pelo piano, com uma luz mais distante a incidir sobre o perfil de Reznor, e no silêncio a que o público chegou...foi quase um momento de partilha, onde o good old trent fazia chegar como se não existisse uma parede entre ele e nós. A raiva, a comoção, aquele sofrimento meio dissimulado de sempre(e que faz irritar tanta gente até à raíz dos cabelos), estavam ali. Se calhar as grandes razões para todos nós que fomos a um dos concertos deles, gostarmos deles."The fragile" valeu pelo concerto todo, e se não houvesse mais razões para o concerto ter sido muito bom, ele chegaria a este estatuto nem que fossem por aqueles quatro minutos.

Depois foi dar graxa. Dizer que o reznor não via nenhum local tão bom para começar aquela tour(mesmo nunca cá tendo vindo, mas não há problema que a gente desculpa). Dar-nos mais rambóia com "The hand that feeds" e "Head like a hole", pérolas auditivas que representam bem o passado e o futuro dos nine inch nails. Quanto ao resto serão memórias que ficarão na cabeça de cada um dos presentes: um concerto sujo, cheio de dedicação e empenho, que teve algumas das canções que nós já queríamos ouvir ao tempo. Pecou por curto, mas encheu claramente as medidas. Que agora nos incluam sempre nas tours é aquilo que eu peço. Pode ser reznor? Obrigado meu.





fotos: http://www.antena3.pt/index.php?article=3696&visual=1

foto de aaron north cedida com todo o amor e carinho por JP almeida do fórumsons

Monday, February 05, 2007

Vintage: Pixies - Doolittle(1989)



Agora deu-me para falar à parva de discos que já ando a ouvir há que tempos, mas com os quais nunca me tinha debruçado a nível escrito. Bem, imaginem lá uma sonoridade meio suja de enclaves pop e rock, misturada com uma gravação meio caseira, mais uma metade catchy. ah e adicionem-lhe pitadas meio indie à mistura.Agora provem, e têm um dos melhores discos dos oitentas, embora eu confesse que conheço pouco esse período(e é daqueles que considero mais chatos musicalmente, mas isto sou eu que não gosto de post-punk e tal).

Esse disco era o clássico absoluto chamado "surfer rosa", produzido pelo então desconhecido Steve Albini(agora um nome consagradíssimo que trabalhou em discos como "in utero" dos nirvana, ou o gigante "the eye of every storm" dos neurosis), e foi a partir daí que os Pixies começaram a granjear um culto à escala mundial. e um ano depois da edição desse enorme ábum, veio este "doolittle".
Antes de mais que se diga que "doolittle" é precisamente uma salada de influências, todas elas absorvidas com enorme mestria pela banda de Frank Black. Mas a inventividade é deles. A forma em como os pixies pegam em elementos simbólicos de certa sonoridade, e reciclam-na fazendo algo totalmente novo é fantástica, e ainda hoje complicadíssima de atingir.

Daí que essa perfeição sonora, esteja no frenetismo de "debaser", sem dúvida uma das maiores canções dos pixies. Ou nos ritmos espanholados de "crackity jones". Ou no ritmo quase baladeiro e melancólico de "Hey". Ou ainda na raiva dissimulada de "tame". enfim é como se cada canção fosse um enorme mundo a descobrir, perfeita deambulação entre o experimentalismo, o formato canção, e as emoções reais e verdadeiras. È como se "doolittle" conseguisse em 40 e tal minutos, fazer caber lá dentro toda a pop a sério. E isso é incrível.

"Doolittle" é acima de tudo um disco completíssimo e fantástico nos seus propósitos. e que ainda por cima consegue soar sempre natural, como se os pixies estivessem ali a ensaiar ao pé de nós. È como se cada nota emanada o seja "por acaso" e vai-se a ver e aquilo cabe tudo na perfeição. Não tem tempos mortos, não tem temas menos bons, não tem absolutamente nada que não seja perfeito. E isso é daquelas coisas quase ímpossíveis de atingir, e que acontecem uma vez na vida. No caso dos pixies talvez isso tenha acontecido mais que uma vez. No entanto este é o verdadeiro grito do ipiranga desta banda ímpar.

10/10

Thursday, February 01, 2007

Little miss sunshine de Jonathan Dayton e Valerie Faris



Não ter visto este "little miss sunshine" na altura em que estreou, foi um pecado mortal que mereceria umas belas chibatadas. Estava já de tronco nu e de cinto em punho, até que, antes de me autoflagelar, me apercebi que estava a trasado para a faculdade. "Bah pensei eu, está aqui um gajo a querer matar-se porque perdeu um filme de que com certeza iria gostar para ir à fuck...Bem vou ver o "stranger than fiction" ". Não fui pois, mas comprei o Público naquele dia - e apercebi-me que o filme ainda estava em exibição, nomeadamente no saldanha. Preferi no entanto a chibata: e voltamos à estaca zero - tronco nu cinto em punho, até que me lembrei de ir ao site do público ver se o filme ainda poderia estar nalgum cinema esta semana. Touché. O king ainda o exibia.

Esta introdução não serve para nada, senão para dizer que se eu não tivesse conseguido ver "little miss sunshine" , mereceria a quituplicar(e apenas porque não me lembro dos termos acima para adicionar o "duplicar), todas as chibatadas que desse. Todas. A verdade é que este filme é uma pérola familiar feita por dois estreantes. È uma comédia simples, verdadeiramente simpática, que toca em qualquer coração mais incauto: que faz rir, que faz chorar, que faz embevecer, comover, no fundo partilhar as aventuras daquela família meio disfuncional.

È o pai que se diz vencedor, tentando incutir isso aos filhos, mas está na ruína... é a mãe meio psicótica que fuma sem ninguém saber; È o avô ex-militar que snifa coca e vê avidamente revistas pornográficas; È o tio homosexual com tendências suicidas; È o filho que fez um voto de silêncio. E é a filha que quer ser miss com apenas 7 anos. E é na filha que está o cerne da história: esta família inteira vai sair de Albuquerque, Novo méxico, rumo à california para que a miúda de 7 anos possa cumprir o sonho de participar num concurso infantil. Esta é o pretexto para o road-movie que se segue..e que talvez mude de alguma forma aquela família - pelo menos as peripécias que vão acontecendo são mais que suficientes para deixar qualquer pessoa interessada no desenrolar.

Para além do mérito da simpatia com as personagens o filme tem ainda em Abigail Breslin (a pequena miúda de 7 anos que quer ser miss) a grande revelação. Porque para além do adocicado que ela vai transmitindo, conseguimos ver nos olhos da miúda todo o seu sonho, a ilusão infantil e ingénua da beleza que ela possivelmente não terá. No entanto é esta a justificação mais que suficiente para fazer toda a família acreditar no sonho - ou não acreditando nele, pelo menos perceber que se pode viver para além disso.

"Little miss sunshine" é uma comédia em tons dramáticos. Mas, acima de tudo é uma comédia, e que olha com um tom ironizante e farsante a própria vida. E que leva o espectador a sentir-se parte daquela jornada para levar a miúda ao raio do concurso, cheia de miúdas cujos pais são mestres na disfuncionalidade ilusória daquele tipo de competição: aquele tipo de coisa onde podemos dizer "só os americanos". È verdade que carrega em si um pouco do cliché da "família em risco", mas acabado o filme parece-nos que os laços saem mais fortes. E que possivelmente gostaríamos de conhecer esta família num dia qualquer, e falar com ela sobre tudo e sobre nada. Um filme delicodoce que é urgente ver. E pode ser que, por algum milagre da vida, consiga arrebatar o prémio máximo da indústria hollywoodesca - sem estar nada mas nada perto desse mesmo sistema.

9/10

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