Sunday, November 27, 2005

MADCAB

EM FRENTE COM A UTOPIA



Os madcab são um dos bons exemplos portugueses, do chamado "remar contra a maré". Nascidos em 2001, e com uma maqueta editada("Utopia wreck" cujo download pode ser feito no site oficial da banda) a banda tem um som demarcadamente rockeiro, com algumas influências de grunge. Mas, para além disso, têm já uma coesão e um espírito de grupo e de conquista assinaláveis. A registar nas palavras do vocalista Luís silva e do guitarrista Filipe Grácio:



Os madcab têm alguns anos.Ainda assim podem contar como tudo começou?

L.S.- É verdade, foi há algum tempo. Eu tinha acabado de sair de uma banda, de uma maneira um pouco complicada, e tinha alguns temas “em carteira”. Conheci um baterista que estava à procura de um projecto, o senhor Luís Costa, e fizémos uns ensaios. Aquilo soou tão bem que estamos juntos desde o Verão de 2001, apesar de a formação só ter ficado completa no fim desse ano.


No vosso site, anunciaram que irão gravar brevemente um cd com 10 ou 11 músicas. Como está esse projecto?

F- Está óptimo. Está no início ainda. Já fizemos alguma pré-produção e devemos gravar durante este Inverno. Ainda falta acertar alguns pormenores nalgumas musicas e fazer algumas escolhas mas se tudo correr bem será uma experiência porreira e esperamos que um passo em frente.


"Utopia Wreck"foi editado há mais de ano e meio. Que diferenças assinaláveis vão existir entre este ep e o vosso futuro disco?


F- Para além de termos evoluído bastante como banda, esperamos captar um som mais puro. U.W. foi só uma maqueta e tinha uma produção boa, mas não totalmente ao nosso gosto. Desta vez além de mostrarmos um som mais coeso e complexo, esperamos conseguir mostrá-lo de outra forma. Até porque pretendemos ter tempo no estúdio para fazer experiências e escolhas. Esperemos que isso se concretize.


Os madcab já têm alguns anos, no entanto ainda não existe uma exposição mais assinalável, pelo menos tendo em conta aquilo que eu tenho reparado. Vêm alguma razão para isso, ou acham que isto não é bem verdade?


L.S.- Primeiro gostava de assinalar o facto de, indirecta e subliminarmente, nos estares a chamar velhos. Já é a segunda vez que dizes que temos alguns anos (risos). Eu acho que temos a “mediatização” que nos é possível ter. Para a maioria do pessoal, ir ver bandas como nós não é o passatempo favorito. Também não passamos na televisão nem em rádios de projectos milionários. Não somos definitivamente uma banda da moda e somos muito egoístas porque primeiro temos de ser nós a gostar do som que fazemos. Talvez ao contrário de alguns.


Pelo menos em "Utopia wreck", vocês foram claramente influenciados pela onda grunge. Continuam muito com essa influência, ou já se descolaram um pouco?

F- Nós sempre tentámos criar algo de nosso. O nosso som. Naturalmente ao início ainda estávamos num processo de descoberta e não nos tínhamos descolado dessa marca como era o objectivo, mas passado algum tempo e experiência acho que neste momento é notório que as nossas influências e capacidades passam por muitos outros sítios.

L.S.- Se quando falas em Grunge queres falar de alguns aspectos positivos, eu concordo contigo. Se queres falar em termos de som, então digo-te que não posso discordar mais. O único ponto que toca o Grunge, infelizmente, é a minha voz. Digo infelizmente porque não há muito a fazer em termos de timbre. Ou és falso a cantar ou não e, no meu caso, tenho de cantar com a voz que tenho. Em termos de composições, acho que deves esperar pelo registo para teres melhor ideia de Madcab. Mas sem dúvida que gosto de pessoas que foram catalogadas como sendo Grunge. Aliás, várias pessoas gostam mas umas admitem e outras não porque não está na moda.



Neste momento, e para uma banda que, na minha opinião, tem um tipo de som perfeitamente capaz de passar nas rádios, podiam-me dar a vossa análise sobre o panorama musical português hoje em dia?

L.S. – Acho que é um panorama estranho. Nunca sei responder muito bem a esta pergunta. Quem está dentro da agenda de concertos sabe das movimentação de novas bandas. Bandas boas, com qualidade mas que não chegam a ser “grandes”. Por outro lado, de uma maneira mais realista, basta ouvir as rádios onde é injectado dinheiro de grandes empresas para perceber que o povo Português (e isto de uma maneira muito concreta) não se preocupa assim tanto com a música. Não vale a pena impôr quotas porque “nós” ouvimos o que nos dão. Se me perguntares se acho que isso dura para sempre, digo-te que não. Há aí muita banda que, um dia, vai chegar “ao poder” e as atitudes vão mudar. Falo-te de Common Strange Fluid, Linda Martini, The Vicious 5, Drifter…não sei…acho que um dia vai mudar, e o pessoal que faz música para ganhar dinheiro vai continuar a pedir quotas.

O vosso concerto no ribeirinha(que depois não se realizou) teria sido o primeiro concerto que dariam no Porto. Existe alguma justificação para só agora irem lá tocar?


L.S. – De facto seria. Foi uma pena para nós não poder concretizar esse concerto. O factor muito real que pesa nessa decisão, é o factor monetário. É impossível sustentar os custos dessa viagem especialmente na época Natalícia em que Portugal costuma estar a consumir e em paz (risos). Mas se pensares que temos de pagar para alugar carrinha, pagar portagens, gasolina, alimentação e fazer tudo num dia, é uma decisão complicada. Ainda mais agravada com a proximidade de uma gravação. Mas foi adiado, não cancelado.


Vocês têm alguns projectos paralelos. Como é que conseguem conciliar esses mesmos projectos, com os madcab?

L.S. – De uma maneira complicada mas quando fazes por gosto, acabas por conseguir o tempinho que te falta. No entanto, se algum dia tiver de optar por um projecto paralelo ou por Madcab, sei bem qual será a minha opção.

L.C. – É como disse o Luís, quando fazes alguma coisa por gosto arranjas sempre tempo, nem que seja aos bocadinhos. É claro que também tem a ver um bocado com escolhas e prioridades, se calhar em vez de irmos todas as noites para um café e ficar na treta com os amigos, preferimos passar o tempo a fazer outras coisas que nos dão mais gozo. Por outras palavras, o que quero dizer é que temos tempo para vários projectos porque não temos vida social! (risos)



Para além de disco novo, que projectos têm para o futuro?



F- Pessoalmente estou a planear que me ofereçam uma casa com um estúdio e biliões de euros. Mas está difícil o plano.
L.C. – Para já, os nossos projectos futuros passam todos pelo álbum... esperamos que com isso consigamos abrir mais algumas portas e dar mais concertos. No entanto, acho que o nosso principal projecto é mesmo continuarmos a evoluir como banda, a nível sonoro, porque se estagnarmos musicalmente todos os outros planos deixam de fazer sentido.

site oficial- http://www.madcab.pt.vu

Thursday, November 24, 2005

BLIND CHARGE/MY CUBIC EMOTION/GENOFLIE/ONE HUNDRED STEPS

A 27 de Novembro, no ribeirinha bar no Porto, estas 4 bandas promissoras actuarão a partir das quatro da tarde. Os portuenses blind charge abrem, para os pombalenses my cubic emotion encerrarem em beleza, com one hundred steps e genoflie pelo meio, numa tarde que promete ter boa música. Isto se as bandas confirmarem toda a sua qualidade nas respectivas maquetas. Para quem andar por lá perto, ou por ali morar já sabe: A não perder nenhum destes quatro caminhos sonoros que aqui se unem, para dar lugar a uma autêntica matiné musical. O preço é de 4 euros.

Saturday, November 05, 2005

SYN-ER-GY

A QUATRO MÃOS



Os syn-er-gy são um projecto paralelo de luís costa, dos madcab e de hugo raposo. A 300 quilómetros de distância, e com o auxílio precioso da auto-estrada da informação (vulgo internet) juntaram-se para fazer música. Música suave, mas intensa, calma mas profunda, e que mexe claramente com os nossos sentidos. Nesta esclarecedora entrevista, ambos os elementos explicam os mecanismos pela qual se rege esta nova sinergia:

Os syn-er-gy são um projecto recente. Podem-me dizer como é que ele surgiu?


Luís - Surgiu de uma forma bastante descomprometida e nada planeada... Eu, durante os últimos anos, dediquei-me exclusivamente à bateria, mas há uns meses atrás -inspirado pelo excelente concerto no Lux de Joanna Newsom e Six Organs of Admittance - deu-me para voltar a pegar na viola, e gravar algumas ideias novas e músicas antigas que tinham ficado na gaveta. Mostrei essas gravações a várias pessoas, e uma delas foi o Hugo, que me perguntou se podia gravar umas brincadeiras de voz por cima. O resultado foi tão bom que começámos a falar em fazer uma colaboração mais regular.Acabámos por decidir mesmo dar um nome ao projecto, e começar a trabalhar em novos temas juntos.

Quais são os grandes objectivos para um projecto como este, visto tratar-se, segundo a minha própria mania tonta de criar opiniões, de um projecto paralelo...


Hugo – Como o Luís disse, é tudo muito descomprometido, os nossos objectivos são simples e bastante directos. Isso passa por escrever, compor e gravar o máximo que pudermos, e tornar este projecto o mais estimulante possível para nós como tem sido até agora. Apesar de ter ainda pouca divulgação, sinceramente não estava à espera que tanta gente se interessasse pelas nossas músicas. A resposta que temos tido tem sido muito positiva, e talvez isso nos tenha feito pensar um pouco mais em questões como tocar ao vivo ou gravar uma próxima demo de melhor qualidade. No entanto, cada um de nós já tem as suas bandas e projectos separados e essa é a nossa prioridade, daí que os syn-er-gy sirvam como uma espécie de refúgio criativo. É como que um ritual terapêutico para nós os dois.

A música dos syn-er-gy é de uma componente claramente mais acústica e de uma consistência muito calma e tranquila. Sendo assim, existe alguma razão para que, no vosso site do myspace, se auto-intitulem como"indie,post-hardcore and techno" ou isto foi uma espécie de grito do ipiranga contra qualquer tipo de rótulos?


Luís - Não, isso foi simplesmente uma brincadeira nossa. Na altura em que nos registámos no site, e que vai no sentido daquilo que disse logo no início: Encaramos o projecto de uma forma bastante descomprometida, e fazemo-lo pelo gozo que nos dá... Não nos querermos levar demasiado a sério porque isso tiraria toda a piada ao processo.

Já têm uma demo editada. Como foi o processo,tanto de composição como de gravação? De que forma as vossas ideias passaram para este tecido sonoro?

Hugo – Foi ,no mínimo, diferente. O facto de compormos, escrevermos e falarmos pela Internet dá um cunho especial a este projecto. Não é questão de as músicas ficarem piores ou melhores, simplesmente é uma abordagem diferente, e até aí foi uma lufada de ar fresco na habitual rotina de ir para a sala de ensaio, ensaiar/compor com o resto da banda, etc... Foi um processo mais estruturado, eu diria que muito intuitivo. O Luís já tinha algumas ideias e esboços e ao início simplesmente limitei-me a ouvir, a gravar a voz, a acrescentar qualquer coisa aqui e ali. Ficámos satisfeitos com os resultados, e a partir daí começou a surgir uma enorme vontade de escrevermos músicas em conjunto e de uma forma mais interactiva. A “Death of a Wish” que é das músicas que tem sido mais elogiada, surgiu a partir de um riff do Luís, mas depois entramos num processo de composição extremamente interactivo, durante o qual participamos, demos ideias, apagamos e reformulamos por diversas vezes a música. A qualidade de som é que deixa muito a desejar, porque tudo isto foi gravado nos nossos quartos e ,no meu caso, com um microfone péssimo. No entanto é um processo muito fluído graças também ao nosso grau de entendimento. Felizmente corre tudo muito bem.


Podem esclarecer as dúvidas em relação ao vosso nome? E, porque é que ele aparece separado?

Luís - O nome surgiu quase imediatamente quando decidimos que precisávamos de “baptizar” o projecto. Eu falo por mim, mas achei desde o início que o resultado da colaboração com o Hugo seria sempre muito superior aquilo que eu conseguiria fazer sozinho, e basicamente é essa a definição de Sinergia/Synergy. Os hifens surgiram a partir de um dicionário online, onde a palavra aparecia dividida por síbalas, e achámos piada ao facto de a primeira sílaba soar a pecado (em inglês, claro).

Falando agora de influências: Seguramente têm algumas...

Hugo – Bem, quando falamos de influências as pessoas procuram logo bandas ou padrões com os quais possam identificar e associar o nosso som. No entanto, temos influências muito variadas, tanto eu como o Luís somos consumidores compulsivos de música e gostamos de vários estilos. Mas a banda que no fundo é responsável pelo projecto todo são sem dúvida os Smashing Pumpkins. Não é que o som deles esteja assim tão implícito nas nossas músicas deste projecto, mas sem eles provavelmente nem sequer nos tínhamos conhecido em primeiro lugar, e a sua filosofia marcou muito a nossa maneira de encarar a música no geral. Depois há também outras bandas como os Oceansize, Nick Drake, Mogwai, Radiohead, Jeff Buckley e Sigur Rós que definitivamente deixaram os seus rastos, embora seja um pouco difícil reduzir estas coisas a um lote pequeno de grupos.


Apesar de serem um projecto recente, têm como ambição um reconhecimento em larga escala? Ou não estão a pensar perder, aquilo que eu quase chamaria "marginalidade", muito por causa da, já mencionada, pouca divulgação do projecto?

Luís- Acho que não é uma coisa em que pensemos muito... já foi uma surpresa enorme para nós o interesse que o projecto despertou, mesmo sem grande divulgação, um reconhecimento em larga escala provavelmente seria demasiado para as nossas cabecinhas! É claro que seria óptimo se um maior reconhecimento nos permitisse dedicarmo-nos a tempo inteiro á música, mas no nosso país e tendo em conta o estilo de música que tocamos, isso é uma utopia.

Que eu saiba, ainda não fizeram nenhum concerto. Estão a pensar em fazê-lo brevemente?

Hugo - Esse é dos nossos grandes objectivos, e devo dizer que é também um verdadeiro desafio. Vivemos a 300 e tal quilómetros de distancia um do outro e. apesar de já termos ensaiado umas vezes e de as coisas terem corrido bem, é mesmo difícil organizarmos um concerto por questões óbvias. De qualquer das formas estamos a tentar e já temos algumas “brincadeiras” planeadas. Penso que é uma questão de tempo até começarem a surgir umas datas.

Após esta demo, já existem coisas agendadas, ou ainda é cedo para falar
disso?


Luís - Gravar outra! :-) Não temos grandes planos, até porque as limitações que temos de tempo e localização geográfica não nos permitem. Penso que o principal objectivo é mesmo poder tocar ao vivo e explorar novas vertentes na nossa música... e acima de tudo, divertirmo-nos no processo, claro!




sites a visitar:

http://www.myspace.com/synergyproject

http://syn-er-gy.pt.vu
(para ouvirem a demo do projecto)


Nota: A imagem da entrevista, é a mesma da capa da primeira demo dos sy-ner-gy. Para verem a página de quem a criou cliquem em http://orang3.deviantart.com